segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nosso verão de verdade climática



Por Jeffrey D. Sachs - Valor 30/07

Durante anos, os cientistas vêm alertando o mundo que o uso intenso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) ameaça o mundo com mudanças no clima. O aumento da concentração atmosférica de dióxido de carbono, um subproduto da queima de combustíveis fósseis, aquecem o planeta e alteram os padrões de chuvas e tempestades e elevam os níveis do mar. Agora, o impacto dessas mudanças podem ser sentidos em todos os quadrantes, apesar de poderosos lobbies empresariais e propagandistas de mídia, como Rupert Murdoch, tentarem negar a verdade.
Nas últimas semanas, os EUA entraram em seu pior período de seca nos tempos modernos. O Centro-Oeste e os Estados nas planícies, o celeiro do país, estão ardendo sob uma enorme onda de calor e mais da metade do país está em emergência devido à seca.

Do outro lado do mundo, Pequim foi atingida pelas piores chuvas já registradas e as inundações mataram muitas pessoas. O Japão, igualmente, está sofrendo chuvas torrenciais recordes. Duas das regiões áridas africanas - o Chifre da África, no leste do continente, e no Sahel no oeste - tiveram secas e fome devastadoras nos últimos dois anos: as chuvas não vieram, fazendo com que muitos milhares morressem, enquanto milhões passam fome.

Os cientistas atribuíram um nome à nossa era, Antropoceno, um termo construído a partir de uma antiga raiz grega para significar "época dominada pelos seres humanos" - um novo período da história da Terra em que a humanidade tornou-se a causa da escala mundial das mudanças ambientais. A humanidade afeta não só o clima da Terra, mas também a química dos oceanos, os habitats terrestres e marinhos de milhões de espécies, a qualidade do ar e da água, e os ciclos de água, nitrogênio, fósforo e outros componentes essenciais que sustentam a vida no planeta.

Por muitos anos, o risco de mudanças climáticas foi amplamente considerado como algo distante no futuro, um risco, talvez, com que se defrontariam nossos filhos ou seus filhos. Esse risco seria, naturalmente, motivo suficiente para agir. Mas agora compreendemos melhor que as mudanças climáticas também dizem respeito a nós, à geração atual.

Já entramos numa nova era muito perigosa. Se você é uma pessoa jovem, as mudanças climáticas e outros riscos de danos ambientais causados pela humanidade serão fatores importantes em sua vida.

Os cientistas enfatizam a diferença entre clima e tempo. Clima é o padrão geral de temperatura e precipitação pluviométrica em determinado lugar. Tempo é a temperatura e a precipitação em determinado lugar em determinado momento. Como diz o velho gracejo: "Clima é o que esperamos; tempo é o que temos".

Quando a temperatura é particularmente elevada, ou quando as chuvas são especialmente pesadas ou leves, os cientistas tentam determinar se as condições atípicas são resultado de longo prazo das alterações climáticas ou simplesmente refletem a variabilidade esperada. Então, será que a onda de calor atual nos EUA (que torna este o ano mais quente já registrado), a forte inundação em Pequim ou a seca no Sahel, um caso grave de mau tempo aleatório ou apenas o resultado de longo prazo de alterações climáticas induzidas pelo homem?

Durante muito tempo, os cientistas não eram capazes de responder a essa pergunta com precisão. Eles não tinham certeza se um particular desastre climático poderia ser atribuído a causas humanas, em vez de a uma variação natural. Eles não podiam sequer ter certeza de que poderiam detectar até mesmo se determinado evento era tão extremo a ponto de ficar fora da faixa normal.
Nos últimos anos, porém, uma nova ciência de "detecção e atribuição" (de causas) ao clima tem feito grandes avanços, tanto conceitual quanto empiricamente. Meios de detecção determinam se um evento extremo faz parte de flutuações meteorológicas usuais ou são um sintoma de mudanças mais profundas de longo prazo. Atribuição significa a capacidade de identificar as causas prováveis de um evento à atividade humana ou a outros fatores. A nova ciência da detecção e atribuição está aguçando nosso conhecimento - e também nos dando ainda mais motivo para preocupação.

Vários estudos no ano passado mostraram que os cientistas podem realmente detectar alterações climáticas de longo prazo na crescente frequência de eventos extremos - como ondas de calor, chuvas pesadas, secas severas, e fortes tempestades. Usando os modelos mais avançados para simulação do clima, os cientistas não estão apenas detectando alterações climáticas de longo prazo, mas estão também atribuindo ao menos alguns dos eventos extremos a causas humanas.

Os anos recentes trouxeram uma série chocante de eventos extremos em todo o planeta. Em muitos casos, fatores naturais de curta duração tiveram um papel, em vez da atividade humana. Durante 2011, por exemplo, condições criadas por La Niña prevaleceram no Oceano Pacífico. Isso significa que a água quente ficou particularmente concentrada perto do sudeste asiático, enquanto a água fria ficou concentrada perto do Peru. Essa condição temporária causou muitas mudanças de curto prazo nas chuvas e nos padrões de temperaturas, causando, por exemplo, fortes enchentes na Tailândia.

Contudo, mesmo após identificar cuidadosamente tais câmbios naturais de ano para ano, os cientistas também estão descobrindo que vários desastres recentes provavelmente também refletem mudanças climáticas causadas pelos humanos. Por exemplo, o aquecimento do Oceano Índico causado pelo homem provavelmente desempenhou um papel na severa seca no Chifre de África em 2011, que provocou escassez de alimentos, conflitos e fome, afetando milhões de pessoas pobres. A atual megasseca nos EUA reflete, provavelmente, uma mescla de causas naturais, como La Niña, e uma enorme onda de calor intensificada por mudança climática causada pelos humanos.

As provas são sólidas e acumulam-se rapidamente. A humanidade está se colocando em crescente perigo devido a mudanças no clima induzidas pelo homem. Como comunidade mundial, teremos de agir rapidamente e decisivamente no próximo quarto de século, abandonando uma economia baseada em combustíveis fósseis e abraçando novas e avançadas tecnologias de baixa produção de carbono de energia.

A opinião pública mundial está pronta para ouvir essa mensagem e agir com base nela. Mas, por toda parte, os políticos mostram-se tímidos, especialmente porque as companhias petrolíferas e carboníferas são tão politicamente poderosas. O bem-estar humano, e até mesmo sua sobrevivência, dependerão de as evidências científicas e o know-how tecnológico triunfarem sobre ganância míope, timidez política e o fluxo contínuo de propaganda empresarial anticientífica. (Tradução de Sergio Blum)



Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É assessor especial do secretário-geral da ONU no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Copyright: Project Syndicate, 2012.

sábado, 28 de julho de 2012

Página 22 - Jardins olímpicos de 2012

Jardins olímpicos de 2012 « Página 22

Os jogos olímpicos de Londres estão para começar e os organizadores de um projeto chamado Capital Growth esperam atrair as atenções que se voltam para a capital britânica. O projeto quer criar 2012 espaços para o cultivo de alimentos em Londres até o final de 2012 e enviar ao mundo a mensagem sobre um sistema alimentar mais sustentável. Desde o início em 2009 até agora foram estabelecidos 1777 jardins ao redor da cidade, com o trabalho de mais de 60 mil voluntários.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ricardo Abramovay: As ameaças da nova geopolítica do petróleo

Ricardo Abramovay: As ameaças da nova geopolítica do petróleo Os efeitos dessa revitalização do petróleo são de longo prazo: cada dólar investido em energias fósseis (não só na extração, mas também na armazenagem e na distribuição) encarece os investimentos em fontes renováveis. Isto não apenas para o petróleo e o gás, mas para o conjunto da indústria petroquímica. Por mais promissoras que sejam as inovações tecnológicas voltadas à exploração do petróleo em locais e circunstâncias inimagináveis há alguns anos, elas trazem o inevitável inconveniente de fortalecer as estruturas materiais e institucionais da economia baseada em combustíveis fósseis. Quanto à captura e à armazenagem do carbono, o jornalista neozelandês Gordon Campbell lembra que, até aqui, trata-se de uma técnica que foi pouco além da prancheta dos engenheiros. O segundo problema do revigoramento recente da exploração de combustíveis fósseis está em seus custos energéticos. Nenhum dos defensores da tese do pico do petróleo imagina que o precioso líquido negro vá desaparecer das profundezas do planeta. A questão está nos custos de sua exploração. Estes custos devem ser medidos não apenas em termos econômicos, mas também energéticos, com base na pergunta: quanta energia se gasta para obter uma unidade de energia sob a forma de petróleo? Em 1930, a resposta era de um para cem. Os poços eram tão férteis que, com técnicas energeticamente pouco dispendiosas, obtinha-se muito petróleo. O pico do petróleo consiste, em grande parte, no fato de que esses rendimentos vão caindo com o passar do tempo. A média mundial hoje gira em torno de dez unidades de energia para cada uma que se investe na extração de petróleo. E, mesmo com as técnicas revolucionárias aplicadas no fraturamento hidráulico norte-americano, as médias das jazidas mais promissoras está muito aquém disso: no local mais emblemático dessas novas formas de exploração, no Estado de Dakota do Norte, a média é de apenas quatro unidades de energia para cada uma investida na sua obtenção. Nas areias asfálticas do Estado de Alberta, no Canadá, a proporção é de apenas três para um. Quando se somam a estes custos energéticos aqueles embutidos na armazenagem e na captura do carbono (condição básica para que o aumento da oferta não agrave ainda mais o aquecimento global), o resultado é inequívoco: há um contraste evidente entre o entusiasmo que este novo ciclo dos combustíveis fósseis desperta em governos e investidores e a ineficiência energética em que ele se apoia. O mais recente boom do petróleo pode contribuir para a segurança energética dos Estados Unidos. Mas certamente não ajuda a aumentar as chances de compatibilizar a expansão do sistema econômico global com a manutenção dos serviços ecossistêmicos dos quais as sociedades humanas dependem.

André Trigueiro - Etiquetagem de edifícios com eficiência energética

terça-feira, 24 de julho de 2012

Crise terminal de nosso modo de viver? « Leonardo Boff

Crise terminal de nosso modo de viver? « Leonardo Boff

Há que reconhecer que estamos dentro de um círculo vicioso do qual não sabemos como sair. Devemos produzir para  atender o consumo e criar postos de trabalho. Quanto mais consumimos, mais empobrecemos a natureza. Mas chegará o momento em que ela não aguentará mais. Por outro lado, se pararmos de consumir, fecham-se fábricas, cria-se desemprego, surge fome e miséria e estoura  a convulsão  social. Para onde vamos? Quem o saberá exatamente?