quinta-feira, 29 de março de 2012

Último degelo do planeta elevou nível do mar em 20 metros

EFE

O último grande degelo do planeta não aconteceu de forma constante. Houve sim um período de aumento abrupto do nível das águas.

Em menos de 500 anos, subiu cerca de 20 metros, segundo Pierre Deschamps, geólogo e pesquisador principal do Cerege (sigla em francês de Centro Europeu de Pesquisa e Ensino de Geociências do Meio Ambiente), em artigo publicado a revista científica "Nature.

O ponto mais ativo desse degelo, que começou há 15 mil anos e acabou há 12 mil, foi no período entre 14.650 anos e 14.310 anos atrás. É nesse intervalo de tempo que, segundo as medições dos analistas, o nível de água subiu no Taiti entre 12 e 22 metros.

Os cientistas participantes do estudo basearam a pesquisa em medições efetuadas nesta ilha do Pacífico e concluíram também que a maior parte de água veio do degelo da Antártida.

Nesse último grande degelo, as geleiras derreteram quase totalmente e elevaram o nível dos mares cerca de 120 metros no mundo todo.
Para obter os dados, Deschamps e seus colegas estudaram os fósseis dos corais e de uma espécie de búzio que habitaram no litoral norte, sul e oeste do Taiti.

O aumento das águas que o analista cita em seu artigo coincidiu no tempo com a Oscilação de Boelling, uma época na qual o clima se moderou e as massas de gelo continentais liberaram grandes quantidades de água no mar.

No entanto, a cronologia exata do degelo e a origem de suas águas seguem sem esclarecer tudo, já que o nível dos mares não ascendeu de forma uniforme, e por isso é necessário estudar os aumentos em distintas costas do planeta.

Além disso, os especialistas não só tentam averiguar quanto cresceram os mares, mas também qual foi a fonte que produziu o aumento das águas, ou seja, se o que derreteu foi o Ártico, a Groenlândia ou a Antártida.

Os dados da pesquisa liderada por Deschamps, em combinação com outro estudo realizado em Barbados, sugerem que a maior parte desta água procedia do degelo da Antártida.

Segundo os analistas, conhecer melhor estes fenômenos permitiria compreender como a mudança climática atual afetará os gelos polares nos próximos anos.

Neste sentido, a velocidade com a qual cresceram as águas no período estudado por Deschamps foi "significativamente maior" às estimativas para o século 21, que predizem um aumento inferior a dois metros por século.



quinta-feira, 8 de março de 2012

Rebeldes do PMDB articulam derrota do governo no Código Florestal



Por Caio Junqueira  - Valor 08/03
De Brasília

O PMDB lidera novamente o movimento para impor a segunda grande derrota ao governo da presidente Dilma Rousseff no Congresso A ala rebelde do partido articula com cinco aliados (PP, PTB, PDT, PR), dois da oposição (DEM e PSDB), e um "independente" (PSD) o apoio à aprovação da retomada dos termos da Emenda 164 do Código Florestal aprovado na Câmara em maio de 2011, que concede anistia a desmatadores ilegais.

Acuado pela base ruralista presente na Casa e com o objetivo de sacramentar sua eleição para presidente da Câmara em 2013, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), sinalizou ontem a esses partidos que irá subscrever o texto. Isso poderá ocorrer tanto no relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), como em uma nova emenda a ser apreciada após a votação do texto-base, prevista para a terça-feira.

Piau apresentou ontem a versão final do seu relatório, mas ressaltou que ela está "sujeita a alterações" até terça-feira. Foi a brecha que ele, apoiado por Alves, encontrou para ganhar tempo nas negociações com ruralistas de todas as bancadas. Ainda mais porque, na primeira votação do Código na Câmara, ambos apoiaram a Emenda 164, assim como o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, à época deputado federal. Na ocasião, o líder do PMDB fez um discurso histórico na tribuna, em defesa do teor da emenda. O placar foi de 410 votos contra 63.

Por essa razão, uma mudança no posicionamento na votação de terça-feira é considerada inaceitável pelos ruralistas e colocada como fator que irá determinar a derrota do seu projeto pessoal de ser presidente da Câmara. A manutenção do apoio, por outro lado, o colocaria novamente na condição de favorito. Em contrapartida, ele ganharia a rejeição definitiva do Planalto.

Em uma reunião na liderança do governo na Câmara, ontem, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse, em alusão à Emenda 164, que duvidava que a Casa colocaria uma "bomba no colo da presidente" e que "se for para criar problemas políticos para o governo é melhor não votar", referindo-se à conferência Rio +20.

A mesma posição, embora menos incisiva, fora manifestada em outra reunião fechada, pela manhã, desta vez da bancada do PMDB com o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho. Mendes pediu apoio ao relatório de Piau sem a 164 e pediu unidade na votação. "Estamos em ano de Rio+20. Aliás, a agricultura salvou o PIB do Brasil. Essa Casa tem que fazer política." Demonstrou ainda receio de que outros partidos tomem para si o discurso do Código Florestal e encampem emendas que derrubem boa parte das aletrações feitas pelos senadores. "O discurso do Código é do PMDB", concluiu.

Alves compartilhou dessa avaliação. "Vai ser uma das sessões mais assistidas da história da TV Câmara. É uma questão de honra para o PMDB. Será uma bandeira inesquecível para nós", disse o deputado. Ele sugeriu ainda dar à lei o nome de Micheletto, em homenagem a Moacir Micheletto, deputado ruralista do Paraná morto neste ano em um acidente. Evitou, todavia, expor sua posição sobre a 164.
Isso ficou a cargo da maioria da bancada. Em especial dos deputados que lideraram o manifesto entregue anteontem ao vice-presidente da República, Michel Temer, com críticas ao governo, ao PT e à subserviência da cúpula partidária aos interesses do palácio do Planalto.

"Ou votamos contra o relatório ou, se não tivermos a possibilidade de apoiar emendas, que apoiemos alguma do [deputado ruralista do DEM] Ronaldo Caiado ou de quem quer que seja. Não podemos decidir nada sob a tutela do governo, sob ameaça de veto. Ninguém aqui é menor de idade", disse Osmar Terra (RS), um dos idealizadores do manifesto.

Diante da indefinição, Piau apresentou um relatório que será protocolado na terça-feira. Nele, foi extinto o teor da 164 e mantidos trechos relacionados à expansão urbana. A maior novidade, contudo, está na exclusão dos princípios para a aplicação do texto presentes no artigo primeiro e que poderiam provocar interpretações "muito subjetivas" por parte dos órgãos fiscalizadores.