quarta-feira, 23 de junho de 2010

SARAMAGO AMBIENTALISTA



Morre, aos 87 anos, um dos maiores escritores da língua portuguesa, José Saramago.


O autor deixa um legado de boas histórias e exemplos de proteção às florestas.

Em 25 de outubro de 2005, José Saramago lançou o primeiro livro impresso em papel e gráfica com certificação FSC no Brasil, "As Intermitências da Morte". O FSC, Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, tem o único sistema de certificação independente que adota padrões socioambientais internacionalmente de manejo florestal.


Para o lançamento dessa então nova obra, o escritor, primeiro de língua portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura em 1998, pediu pessoalmente a suas editoras em todo o mundo que seguissem normas ambientalmente adequadas para produzí-la.


No mesmo dia, Saramago divulgou seu apoio à campanha de proteção da Amazônia do Greenpeace. O Greenpeace encoraja a indústria editorial em diversos países a deixar de usar papel cuja produção acarrete a destruição das florestas e a adotar práticas social e ambientalmente adequadas na utilização de produtos florestais, como o uso de papel reciclado ou certificado pelo FSC.

A iniciativa de Saramago representou um importante passo para o mercado editorial diminuir o impacto no desmatamento, estimulado pela demanda de papel para a produção do setor. Sua morte representa uma perda para a literatura e para as florestas.


José Saramago nasceu em Portugal, em 1922, e tornou-se um dos mais importantes escritores do mundo. Escreveu, entre outros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento e Ensaio sobre a Cegueira. Sempre preocupado com as causas sociais, nos últimos anos contribuiu com o movimento socioambiental.

(DO GREENPEACE)


Morre José Saramago, grande escritor e defensor dos animais


Por Lilian Garrafa


“Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso.” (José Saramago)


A morte do escritor portugues, José Saramago, nesta sexta-feira 18, deixou entristecidos

não só os apreciadores de sua excelente literatura, como também os defensores dos animais.


Saramago mostrava uma nobreza de alma e sensibilidade comovente também em relação aos animais não humanos. Sua compaixão por eles foi visível em inúmeros textos e responsável pela disseminação de ideais de justiça e respeito a todos os seres.


Crítico contumaz do confinamento animal, o escritor, que tinha 87 anos, relatou em um belíssimo texto a tristeza que vivem os animais mantidos em circos e em zoológicos para entretenimento humano.

Ele chegou a visitar a elefanta Susi, que vivia num zoológico na Espanha e estava passando por depressão, estresse e solidão. Saramago, ao vê-la, disse que ela estaria “morrendo de tristeza”.


Em sua obra Ensaio sobre a Cegueira, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura, Saramago não trata apenas da cegueira física, mas da cegueira moral dentro da qual a sociedade se encontra.


“Por que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem”.


Uma grande reflexão que pode ser aplicada ao imenso sofrimento que a humanidade, cega da alma, aplica insensivelmente a tudo e a todos a seu redor. A cegueira da moral e da ética.


A cegueira que beira a irracionalidade também foi abordada por Saramago no texto “A Racionalidade Irracional”. Um relato que não poupou o ser humano, ao mostrá-lo como cruel e torturador, apesar de sua razão, a qual deveria ser mantenedora da vida. Analisa e mostra a mesquinhez humana que vai atrás do lucro, do êxito e do triunfo, massacrando os seres que mereceriam seu respeito. Levanta a questão não só dos direitos humanos, mas dos deveres humanos.

Deixamos aqui nossa homenagem a José Saramago, que nos enriqueceu com sua brilhante literatura e nos presentou com seu olhar generoso e lúcido sobre os direitos animais.
Fonte: ANDA




Susi


Por José Saramago


Pudesse eu, e fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, e proibiria a utilização de animais nos espectáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza. Isto no que toca aos zoológicos. Mais deprimentes do que esses parques, só os espectáculos de circo que conseguem a proeza de tornar ridículos os patéticos cães vestidos de saias, as focas a bater palmas com as barbatanas, os cavalos empenachados, os macacos de bicicleta, os leões saltando arcos, as mulas treinadas para perseguir figurantes vestidos de preto, os elefantes mal equilibrados em esferas de metal móveis. Que é divertido, as crianças adoram, dizem os pais, os quais, para completa educação dos seus rebentos, deveriam levá-los também às sessões de treino (ou de tortura?) suportadas até à agonia pelos pobres animais, vítimas inermes da crueldade humana. Os pais também dizem que as visitas ao zoológico são altamente instrutivas. Talvez o tivessem sido no passado, e ainda assim duvido, mas hoje, graças aos inúmeros documentários sobre a vida animal que as televisões passam a toda a hora, se é educação que se pretende, ela aí está à espera.

Perguntar-se-á a que propósito vem isto, e eu respondo já. No zoológico de Barcelona há uma elefanta solitária que está morrendo de pena e das enfermidades, principalmente infecções intestinais, que mais cedo ou mais tarde atacam os animais privados de liberdade. A pena que sofre, não é difícil imaginar, é consequência da recente morte de uma outra elefanta que com a Susi (este é o nome que puseram à triste abandonada) partilhava num mais do que reduzido espaço. O chão que ela pisa é de cimento, o pior para as sensíveis patas deste animais que talvez ainda tenham na memória a macieza do solo das savanas africanas. Eu sei que o mundo tem problemas mais graves que estar agora a preocupar-se com o bem-estar de uma elefanta, mas a boa reputação de que goza Barcelona comporta obrigações, e esta, ainda que possa parecer um exagero meu, é uma delas. Cuidar de Susi, dar-lhe um fim de vida mais digno que ver-se acantonada num espaço reduzidíssimo e ter de pisar esse chão do inferno que para ela é o cimento. A quem devo apelar? À direcção do zoológico? À Câmara? À Generalitat?



P. S.: Deixo aqui uma fotografia. Tal como em Barcelona há grupos – obrigado – que têm pena de Susi, na Austrália também um ser humano se compadeceu de um marsupial vitimado pelos últimos incêndios. A fotografia não pode ser mais emocionante.

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