quarta-feira, 25 de abril de 2012
Descompassos limitam avanço da economia verde
Valor 25/04
O economista indiano Pavan Sukhdev é um especialista em economia verde, um dos eixos-chave da Rio+20. Foi dele a coordenação de dois estudos fundamentais sobre o assunto, o Green Economy Report, feito pelo Pnuma, o braço ambiental da ONU, e o TEEB, um projeto que dá valor aos ecossistemas e à biodiversidade. Pavan é um crítico da paralisia nas decisões que evitem o desastre climático e a perda imensa da biodiversidade, e joga suas farpas também em direção à comunidade empresarial. "O mundo corporativo de hoje não pode influenciar a economia de amanhã", diz.
A preocupação de Sukhdev gira em torno às contradições do que a sociedade precisa para enfrentar desigualdades sociais e desafios ambientais, e a agenda de curto prazo do mundo dos negócios. Esse descompasso barra avanços rumo à economia verde, no seu entendimento.
Sukhdev afirma que a transformação exigida para chegar à economia verde é diferente nos países desenvolvidos e no mundo em desenvolvimento. "O mundo desenvolvido precisa desmantelar a chamada 'economia marrom' para colocar a economia verde em seu lugar", explica. Isso significa acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, encontrar novos modelos de negócios e buscar alternativas que possam reduzir a pressão atual sobre os recursos naturais e o ambiente. "Isso pode ser feito com a tecnologia existente, mas como este movimento pode significar perdas de curto prazo, há resistência do setor privado."
"Um bom resultado da Rio+20 seria conseguir um acordo para reduzir substancialmente os subsídios aos combustíveis fósseis que giram em torno a US$ 550 bilhões ao ano em termos de preços", cita o economista sênior do Deutsche Bank, onde trabalhou durante 15 anos.
No mundo em desenvolvimento, o desafio é diferente. Ali os negócios ainda não estão estruturados sobre a chamada "economia marrom" e nos últimos 30 anos, muitos destes países vêm aumentando seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), crescendo com tecnologias mais limpas. "Mas eles têm que continuar nesse rumo e insistir, na Rio+20, para que os países desenvolvidos reestruturem seus modelos de negócios", continua. O prazo final é 2020. "De outra forma, todos sentirão as consequências, tanto no mundo desenvolvido como no em desenvolvimento."
O outro aspecto-chave da mudança exigida para se chegar à uma economia global mais limpa deve ocorrer no nível macro, dos governos e políticas, e no micro, das empresas e negócios, entende Sukhdev. Ele lembra que 70% da economia global estão na esfera do setor privado e que esse é o mesmo percentual dos empregos globais. "Em outras palavras, sem o setor privado não se consegue chegar à economia verde", diz. "Para fazer mudanças na economia é preciso fazer mudanças no nível das corporações também."
Aqui Sukhdev enxerga tensões. "O problema, hoje, é que os interesses das corporações estão derrotando o interesse público na economia verde", diz. "Neste momento, todas as empresas, em qualquer lugar do mundo, miram seus lucros como meta principal. Seus objetivos não estão alinhados com as preocupações da sociedade em melhorar a equidade social, reduzir a pobreza, reduzir os riscos relacionados à mudança do clima e à escassez de solos férteis e água limpa", ilustra. Este desequilíbrio tem "dimensões colossais", estima.
O conceito de economia verde surgiu no final dos anos 80 e vem caminhando gradualmente. O relatório do Pnuma lista alguns avanços. A China, por exemplo, tornou-se o maior mercado de aquecedores de água movidos a energia solar, com 2/3 da fatia global. Há mais de 40 mil sistemas do gênero instalados no país e que servem 10% dos chineses. O uso da energia solar para aquecer água é prioridade nos hospitais, escolas, restaurantes e piscinas chinesas. Há ganhos econômicos para os consumidores, redução na emissão de gases-estufa e de poluentes, e a criação de 600 mil empregos. Em Uganda, o incentivo às práticas de agricultura orgânica tem aumentado exportações e empregado mais agricultores. Em Bangladesh, painéis fotovoltaicos estão levando energia às populações rurais e capacitando 5 mil mulheres.
Alguns países, alinhados principalmente à Venezuela e Bolívia, temem que a economia verde sirva de pretexto para barreiras comerciais protecionistas. "Em inglês se diz que isso é como 'jogar o bebê fora junto com a água suja do banho'", diz Sukhdev. "Economia verde é o modelo certo porque é o único que reconhece os capitais humanos, sociais e naturais do mundo", defende.
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