quarta-feira, 27 de junho de 2012
Rio + 20 = zero
Por Orlando Amado
Como aumentar os poderes e orçamentos para o PNUMA, sigla em português do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (em inglês, United Nations Environment Programme – UNEP), para a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e outros órgãos governamentais, e seus aliados e parceiros - outras entidades das ONU, organizações internacionais, organizações ligadas aos governos nacionais, organizações não governamentais e os chiitas "grupos de pressão verde"; como justificar novos impostos sobre transações financeiras internacionais (para assegurar o financiamento perpétuo e independente para a ONU e UNEP) e mais mandatos e dinheiro para as "limpas, verdes e renováveis energias" ?
Preparem toda uma estratégia internacional montada no ecoterrorismo do aquecimento global antropogênico (recentes observações científicas provam que o CO2 na atmosfera e o metano emitido pelas vaquinhas não mudam o clima global); reunam temas para discussões insôssas, insípidas e inodoras, como por exemplo, sobre a “ameaça de extinção de até metade das espécies até o ano de 2100” (tese de cunho alarmista sem nenhuma base factual, do astrônomo James Hansen); cerquem-se de cientistas ultrapassados (os mesmos que trabalhavam para a Guerra Fria são os que hoje defendem o perigo do desenvolvimento insustentável); ocultem que existem grandes interesses em salvaguardar os recursos naturais do planeta (é como se dissessem: os pobres precisam planejar seu crescimento populacional, gastar menos recursos naturais, porque nós, os ricos, precisamos deles); convidem milhares de políticos, burocratas e histéricos ativistas ambientais; alimentem uma fabulosa logística midiática ávida por audiência (rede Globo e outros veículos disseminadores de falsas verdades); arranjem uma infinidade de argumentos para justificar essa reedição, 20 anos depois, da fracassada "Cúpula da Terra", a original "Rio 92"; armem um grande lobby formado por autoridades sedentas por “índices de aprovação popular”, grandes redes de de empresas aéreas, hotéis e fornecedores de tudo o que é necessário para um megaevento e… pronto, está montada a Rio+20. Provavelmente, nesse ritmo, haverá a Rio+40.
Orlando Amado de Freitas Filho é servidor aposentado BCB BA
segunda-feira, 25 de junho de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
Três passos para chegar lá
Por Nick Clegg - Valor 19/06
A Eco-92 foi um momento decisivo e dela resultaram ações reais e globais - incluindo a criação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Mas o que aconteceu desde então? Com a chegada da Rio+20 - onde estarei chefiando a delegação do Reino Unido - precisamos nos questionar sobre o quão longe chegamos e o que mais precisamos fazer.
De muitas formas, o mundo avançou a passos largos. Em cada região do mundo em desenvolvimento, a porcentagem de pessoas vivendo com menos de US$ 1,24 por dia diminuiu. Temos visto melhorias significativas no acesso a educação, água e assistência médica também.
Ainda assim, o mundo não avançou tanto quanto os delegados da primeira conferência no Rio esperavam. Alguns dos indicadores ambientais mostram sinais preocupantes. As taxas de perda da biodiversidade aumentaram. Em relação ao crescimento econômico, a riqueza continua concentrada e os benefícios ainda não foram universalmente sentidos. Aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem em condições de pobreza extrema.
E, com o crescimento dramático da população mundial, nossos desafios só irão crescer. A resposta tem que ser o desenvolvimento sustentável. E, por isso, um dos temas mais importantes da Rio+20 é a criação de uma economia verde. Erradicando a pobreza, protegendo o meio ambiente, atingindo nossas necessidades futuras e garantindo que a prosperidade seja sentida por todos. Da nossa parte, o Reino Unido irá pressionar parceiros internacionais em três pontos prioritários: assinatura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que levem a ações; o PIB plus, e o estímulo para o setor de negócios faça sua parte com a elaboração de relatórios de sustentabilidade corporativa.
Primeiramente, a Rio+20 deve acordar o desenvolvimento dos ODS. Estes devem ser poucos em número e focados em ajudar as pessoas a sair da pobreza. Eles precisam se fixar em acordos e compromissos relacionados à distribuição de água e segurança alimentar, bem como expandir massivamente o acesso à energia sustentável. Depois da Conferência no Rio, o secretário-geral da ONU irá designar um Painel de Alto Nível para desenvolver um arcabouço pós-2015 para o desenvolvimento sustentável. Esse painel será co-presidido pelo primeiro ministro, David Cameron. Queremos objetivos que eliminem a pobreza mundial e que a agenda do Rio trabalhe em estreita colaboração com eles.
Outra prioridade é o PIB plus. As limitações do PIB como única medida de progresso foram reconhecidas há muito tempo. Um país pode crescer financeiramente e ainda assim destruir simultaneamente o capital natural do qual depende sua prosperidade futura. Precisamos ir além de um modelo no qual o progresso é medido unicamente com base nos ganhos financeiros de curto prazo, rumo a uma medida que avalie a qualidade do crescimento. Isso significa criar indicadores de desenvolvimento, os quais, por exemplo, considerem o valor da floresta em pé e da água limpa. A Avaliação Nacional do Ecossistema do Reino Unido calculou o valor que os pântanos representam para nossa economia, no que se refere à melhoria da qualidade da água, em £ 1,5 bilhão. O Reino Unido está abrindo novos caminhos, no sentido de incluir o capital natural nas contas nacionais. O Governo de Coalizão se comprometeu em ter isso pronto até 2020 - estamos pedindo que os outros façam o mesmo.
Obviamente, está claro que somente ações governamentais não serão suficientes. A Rio+20 precisa integrar o setor de negócios, ajudando a desenvolver uma economia mais verde pela forma como negociamos, inovamos e investimos. Por isso, não estamos apenas pedindo aos Governos que se comprometam com o PIB plus. Precisamos que os negócios tenham essa mesma linha de pensamento. Queremos que a declaração do Rio crie um arcabouço global que fará com que essa agenda realmente vá adiante, traga uma ampla gama de iniciativas e faça com que o relatório de sustentabilidade das empresas seja uma norma - e não uma exceção.
No Reino Unido as empresas estão mudando a forma como fazem seus negócios, colocando a sustentabilidade no centro de suas atividades e relatando seu progresso. Apreciamos as iniciativas de negócios como as da Aviva que está na liderança dos relatórios de sustentabilidade. Precisamos que pessoas saibam dessas iniciativas no Rio, e sigam o exemplo.
Eu apoio o setor de negócios britânico fazendo mais nessa área, especialmente em países onde a água, comida e energia não são suficientes - criando assim oportunidades de negócios que sejam verdadeiramente sustentáveis e boas para o desenvolvimento. A iniciativa Energia Sustentável para Todos (SE4All) é um bom exemplo e o secretário-geral Ban Ki Moon deve ser parabenizado por isso. Em uma recente reunião, em Londres, do painel do SE4All promovida por mim, anunciei que o Reino Unido irá apoiar essa Parceria Público-Privada global em £ 25 milhões. Caso um forte plano de ação seja desenvolvido, esperamos poder dobrar essa quantia.
Três prioridades. Três ideias claras do que queremos atingir. Três passos para o desenvolvimento sustentável: crescimento verde do qual depende a prosperidade real. O Reino Unido deixa claro: precisamos mostrar liderança, precisamos ser ambiciosos. Para os países desenvolvidos, assim como para os que estão se desenvolvendo. Para essa geração, e para todas que seguirem.
Nick Clegg é vice-primeiro-ministro do Reino Unido desde 2009 e lidera a delegação britânica na Conferência das Nações Unidas - Rio+20
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Parar de crescer - ideias do matemático e filósofo Tim Jackson
Valor 15/06
É preciso mudar o paradigma do desenvolvimento e aprender a prosperar sem crescer. Essas são as ideias do matemático e filósofo Tim Jackson. Para ele, é necessário levar em conta os limites do planeta. Professor de sustentabilidade da Universidade de Surrey, Reino Unido, Jackson está na linha de frente das propostas que visam alternativas ao PIB para medir o desenvolvimento de uma sociedade.
Valor: Quais as expectativas para a Rio+20?
Tim Jackson: Minha esperança e expectativa para a conferência é que se reconheça que desde a conferência de 1992 não houve tanto progresso quanto deveria em desenvolvimento sustentável. Uma das razões para isso é o sistema econômico que temos. E espero que o foco na economia verde na Rio+20 leve a algumas mudanças positivas no sistema econômico.
Valor: Que tipo de mudanças?
Jackson: A economia verde deve reconhecer algumas coisas. Uma é que ainda há desigualdades entre os países ricos e pobres. Com isso, não é possível pensar simplesmente em crescimento econômico indefinidamente. Em algum ponto há limites ecológicos e parecemos já estar bem perto deles. A economia verde deve integrar essa ideia de limites na forma como organizamos a economia. É preciso pensar sobre ar limpo, acesso a recursos naturais, na qualidade de vida dos pobres e no sistema econômico que ainda conduz um crescimento insustentável, principalmente nas economias ricas.
Valor: Ao falar em cortar o consumo, o sr. fala nos países ricos?
Jackson: Sim. Para mim, a responsabilidade é dos países ricos. Economia verde não é dizer para os países pobres que não há mais espaço para o desenvolvimento. Mas dizer aos países ricos que eles precisam de um novo modelo econômico porque em termos ecológicos e sociais não podemos deixar que continuem enriquecendo sem se importar com o que acontece ao planeta e aos mais pobres.
Valor: O que são padrões sustentáveis de consumo?
Jackson: A ideia é nos concentrarmos no que importa para as pessoas para ter qualidade de vida. Então é preciso discutir o que é qualidade de vida, que, claro, consiste em habitação, alimentação e outras coisas básicas. Mas vai além disso, é também sobre questões sociais e psicológicas.
Quando falamos sobre a direção que o consumo sustentável deve tomar, falamos na mudança da ênfase em coisas materiais para a ênfase nos serviços que realmente importam para nós, como educação, assistência social e lazer. A ideia é construir a economia em torno desses serviços, não sobre bens materiais. Não é dizer que devemos estabelecer padrões de consumo ou ter mais regulação, é sobre investir no tipo de economia que oferece serviços e melhora a qualidade de vida das pessoas dentro dos limites da ecologia. Precisamos integrar esses limites dentro da atividade econômica. Em alguma hora isso vai significar um aumento nos preços dos recursos. Ou seja, o uso do mecanismo do preço para incorporar os danos causados ao planeta nos preços que as pessoas pagam pelos bens. Mas a ideia não é focar na estratégia punitiva, mas construir comunidades com mais oportunidades para educação, acesso a recriação e lazer.
Valor: E a classe média nos países em desenvolvimento? Estamos começando a consumir mais.
Jackson: Há uma armadilha aí. Minha mensagem não é direcionada às classes médias no Brasil ou na Índia. Não é meu papel falar sobre isso. Meu papel como cidadão responsável de um país rico é dizer que as nações ricas precisam mudar o sistema. O debate que os países em desenvolvimento como Brasil, Índia e China têm que promover internamente é se essa busca por consumo material é sustentável para eles. Isso vai elevar a qualidade de vida dos pobres? Será viável no longo prazo, quando houver restrições ambientais?
Valor: Como prosperar sem crescer?
Jackson: Existe uma diferença entre crescimento econômico e prosperidade. Existe uma diferença entre ter bens materiais e bem estar. Há várias respostas a essa questão, a primeira é filosófica, questionar o que é qualidade de vida. É sobre as necessidades básicas? Sobre minha habilidade de sentir bem em minha comunidade? Claro, mas também sobre ter segurança no futuro. O que a crise financeira fez foi vender uma falsa sensação de segurança, a esperança que ter mais bens faria nossa vida melhor. Agora sabemos que não é verdade. Então temos que criar essa sensação de esperança de outra forma. Mas além disso precisamos ter um senso de segurança financeira. A grande questão que fica é como as economias podem funcionar sem o paradigma do crescimento do consumo. A verdade é que ainda não sabemos. Há cerca de 100 anos as séries econômicas se baseiam na ideia que estabilidade depende do aumento do crescimento. Agora é urgente desenvolver séries em que seja possível pensar em estabilidade econômica e financeira sem depender de crescimento.
Valor: E o que podemos medir ao invés do PIB?
Jackson: Todo tipo de coisa. Alguns dizem que devemos medir a felicidade das pessoas ou a situação da saúde e educação. São aspectos importantes, mas ainda acredito que o PIB é algo importante, porque calcula o que produzimos e o que gastamos na economia. Mas o PIB não é apenas uma medida de progresso. Sabemos que quando o PIB cai coisas ruins acontecem, mas também sabemos que quando sobe coisas ruins também acontecem. Sabemos que eu um sistema onde a estabilidade depende do crescimento do PIB também se cria uma dinâmica negativa, a dinâmica da crise financeira. Então também devemos medir a qualidade das nossas vidas no sentido de progresso social, educacional e político. E há medidas sobre todas essas possibilidades. Mas não devemos descartar o PIB.
Valor: O Brasil começará a medir o PIB Verde, mas pelo consumo de água, não pelo saneamento básico, em que não temos bons números. Um índice como esse pode ser usado como propaganda pelos governos?
Jackson: Claro que pode. A criação do PIB foi um consenso. O que for desenvolvido para fazer comparações internacionais precisa passar por esse mesmo processo de negociação, a definição do que é significativo para medir um PIB Verde ou outro índice de renda sustentável. O Butão conseguiu muita publicidade sobre o FIB [Felicidade Interna Bruta]. Mas criou uma ideia excitante que questiona o conceito convencional de desenvolvimento e o significado de prosperidade. E mostra não apenas aspectos materiais, mas sociais. Um pequeno país com uma grande ideia que convenceu até as Nações Unidas a pensar diferente.
É preciso mudar o paradigma do desenvolvimento e aprender a prosperar sem crescer. Essas são as ideias do matemático e filósofo Tim Jackson. Para ele, é necessário levar em conta os limites do planeta. Professor de sustentabilidade da Universidade de Surrey, Reino Unido, Jackson está na linha de frente das propostas que visam alternativas ao PIB para medir o desenvolvimento de uma sociedade.
Valor: Quais as expectativas para a Rio+20?
Tim Jackson: Minha esperança e expectativa para a conferência é que se reconheça que desde a conferência de 1992 não houve tanto progresso quanto deveria em desenvolvimento sustentável. Uma das razões para isso é o sistema econômico que temos. E espero que o foco na economia verde na Rio+20 leve a algumas mudanças positivas no sistema econômico.
Valor: Que tipo de mudanças?
Jackson: A economia verde deve reconhecer algumas coisas. Uma é que ainda há desigualdades entre os países ricos e pobres. Com isso, não é possível pensar simplesmente em crescimento econômico indefinidamente. Em algum ponto há limites ecológicos e parecemos já estar bem perto deles. A economia verde deve integrar essa ideia de limites na forma como organizamos a economia. É preciso pensar sobre ar limpo, acesso a recursos naturais, na qualidade de vida dos pobres e no sistema econômico que ainda conduz um crescimento insustentável, principalmente nas economias ricas.
Valor: Ao falar em cortar o consumo, o sr. fala nos países ricos?
Jackson: Sim. Para mim, a responsabilidade é dos países ricos. Economia verde não é dizer para os países pobres que não há mais espaço para o desenvolvimento. Mas dizer aos países ricos que eles precisam de um novo modelo econômico porque em termos ecológicos e sociais não podemos deixar que continuem enriquecendo sem se importar com o que acontece ao planeta e aos mais pobres.
Valor: O que são padrões sustentáveis de consumo?
Jackson: A ideia é nos concentrarmos no que importa para as pessoas para ter qualidade de vida. Então é preciso discutir o que é qualidade de vida, que, claro, consiste em habitação, alimentação e outras coisas básicas. Mas vai além disso, é também sobre questões sociais e psicológicas.
Quando falamos sobre a direção que o consumo sustentável deve tomar, falamos na mudança da ênfase em coisas materiais para a ênfase nos serviços que realmente importam para nós, como educação, assistência social e lazer. A ideia é construir a economia em torno desses serviços, não sobre bens materiais. Não é dizer que devemos estabelecer padrões de consumo ou ter mais regulação, é sobre investir no tipo de economia que oferece serviços e melhora a qualidade de vida das pessoas dentro dos limites da ecologia. Precisamos integrar esses limites dentro da atividade econômica. Em alguma hora isso vai significar um aumento nos preços dos recursos. Ou seja, o uso do mecanismo do preço para incorporar os danos causados ao planeta nos preços que as pessoas pagam pelos bens. Mas a ideia não é focar na estratégia punitiva, mas construir comunidades com mais oportunidades para educação, acesso a recriação e lazer.
Valor: E a classe média nos países em desenvolvimento? Estamos começando a consumir mais.
Jackson: Há uma armadilha aí. Minha mensagem não é direcionada às classes médias no Brasil ou na Índia. Não é meu papel falar sobre isso. Meu papel como cidadão responsável de um país rico é dizer que as nações ricas precisam mudar o sistema. O debate que os países em desenvolvimento como Brasil, Índia e China têm que promover internamente é se essa busca por consumo material é sustentável para eles. Isso vai elevar a qualidade de vida dos pobres? Será viável no longo prazo, quando houver restrições ambientais?
Valor: Como prosperar sem crescer?
Jackson: Existe uma diferença entre crescimento econômico e prosperidade. Existe uma diferença entre ter bens materiais e bem estar. Há várias respostas a essa questão, a primeira é filosófica, questionar o que é qualidade de vida. É sobre as necessidades básicas? Sobre minha habilidade de sentir bem em minha comunidade? Claro, mas também sobre ter segurança no futuro. O que a crise financeira fez foi vender uma falsa sensação de segurança, a esperança que ter mais bens faria nossa vida melhor. Agora sabemos que não é verdade. Então temos que criar essa sensação de esperança de outra forma. Mas além disso precisamos ter um senso de segurança financeira. A grande questão que fica é como as economias podem funcionar sem o paradigma do crescimento do consumo. A verdade é que ainda não sabemos. Há cerca de 100 anos as séries econômicas se baseiam na ideia que estabilidade depende do aumento do crescimento. Agora é urgente desenvolver séries em que seja possível pensar em estabilidade econômica e financeira sem depender de crescimento.
Valor: E o que podemos medir ao invés do PIB?
Jackson: Todo tipo de coisa. Alguns dizem que devemos medir a felicidade das pessoas ou a situação da saúde e educação. São aspectos importantes, mas ainda acredito que o PIB é algo importante, porque calcula o que produzimos e o que gastamos na economia. Mas o PIB não é apenas uma medida de progresso. Sabemos que quando o PIB cai coisas ruins acontecem, mas também sabemos que quando sobe coisas ruins também acontecem. Sabemos que eu um sistema onde a estabilidade depende do crescimento do PIB também se cria uma dinâmica negativa, a dinâmica da crise financeira. Então também devemos medir a qualidade das nossas vidas no sentido de progresso social, educacional e político. E há medidas sobre todas essas possibilidades. Mas não devemos descartar o PIB.
Valor: O Brasil começará a medir o PIB Verde, mas pelo consumo de água, não pelo saneamento básico, em que não temos bons números. Um índice como esse pode ser usado como propaganda pelos governos?
Jackson: Claro que pode. A criação do PIB foi um consenso. O que for desenvolvido para fazer comparações internacionais precisa passar por esse mesmo processo de negociação, a definição do que é significativo para medir um PIB Verde ou outro índice de renda sustentável. O Butão conseguiu muita publicidade sobre o FIB [Felicidade Interna Bruta]. Mas criou uma ideia excitante que questiona o conceito convencional de desenvolvimento e o significado de prosperidade. E mostra não apenas aspectos materiais, mas sociais. Um pequeno país com uma grande ideia que convenceu até as Nações Unidas a pensar diferente.
terça-feira, 12 de junho de 2012
O meio ambiente volta ao Rio
Por Catarina de Albuquerque - Valor 12/06
Os olhos do mundo estão postos no Rio de Janeiro. E as nossas esperanças também. Vinte anos após a histórica Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a comunidade internacional volta a reunir-se. Políticos, negociadores e diplomatas irão encontrar-se para rever e (esperemos) fortalecer os seus compromissos políticos em favor do desenvolvimento sustentável tendo em conta os novos desafios do século XXI.
As decisões que forem tomadas irão afetar cada uma das 7 bilhões de pessoas na Terra: para o bem ou para o mal. Mas será que no Rio de Janeiro os negociadores vão se lembrar do pai cigano que encontrei na Eslovênia, cuja filha abandonou a escola por cheirar mal, simplesmente porque a família não tinha água em casa? Vão se lembrar da menina que conheci no Senegal, que me disse que não podia ir à escola quando estava menstruada porque lá não havia banheiro para meninas? Vão se lembrar da senhora que conheci no Uruguai que me explicou ser obrigada a esvaziar o conteúdo da sua fossa séptica com as próprias mãos por não ter dinheiro para contratar profissionais que o fazem de forma mecanizada?
Eu vou. E também me lembro constantemente que todos os dias 1,1 bilhão de pessoas são obrigadas a defecar a céu aberto, sem privacidade nem dignidade, e que, a cada 20 segundos, uma criança morre devido a doenças relacionadas com a má qualidade da água e falta de saneamento.
Há 20 anos, a famosa Agenda 21 contemplava como um dos objetivos para a eliminação da pobreza proporcionar água e saneamento aos mais pobres. Desde então houve importantes desenvolvimentos nessa matéria e são vários os documentos políticos internacionais referindo-se à água e ao saneamento como um objetivo central para o desenvolvimento humano. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) têm a ambição de reduzir à metade o número de pessoas sem acesso à agua e saneamento.
No entanto, apesar do progresso realizado nessa matéria, sabemos que o mesmo não tem beneficiado aqueles que devem ser a nossa prioridade: os mais pobres e os excluídos. Nas visitas que realizo mundo afora, enquanto Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU), tenho infelizmente constatado que apesar de terem acesso à água ou saneamento, várias pessoas não podem utilizar esses serviços porque são muito caros, estão longe demais ou não são seguros. Lembro-me claramente de um grupo de mulheres africanas dizendo-me "As contas da água nos estão matando"! Ou de imigrantes mexicanas na Califórnia explicando-me que a água de seus poços contaminados as estava literalmente destruindo aos poucos. Estas situações devem mudar urgentemente!
Em 2010, a Assembleia Geral da ONU reconheceu a água e o saneamento como direito humano. Isso quer dizer que existe a vontade política de ir mais longe. Existe a consciência de que temos o dever de garantir água e saneamento para todos, dar prioridade aos mais pobres e marginalizados e ainda que esses serviços sejam seguros, tenham um preço acessível e se encontrem próximos (ou dentro) das casas das pessoas a quem queremos atender.
A Conferência do Rio+20 tem a chance histórica de se tornar relevante para todas as pessoas, em especial para aquelas pessoas a quem me referi e que não têm se beneficiado do progresso realizado nas últimas décadas em matéria de acesso à água e ao saneamento e que ainda morrem todos os dias simplesmente porque a água que bebem não é segura.
Como é que Rio+20 pode conseguir alcançar esse objetivo? Tendo presentes no Brasil e no Rio de Janeiro as vozes das pessoas que são sistematicamente esquecidas ou mesmo ignoradas nas conferências internacionais. Colocando os direitos humanos e seus princípios na coluna vertebral da declaração final da Conferência. Lembrando as histórias que aqui referi. Não renegociando nem pondo em causa aquilo que foi decidido há dois anos pela ONU: a água e o saneamento são direitos humanos, e todos - incluindo os mais desfavorecidos - devem se beneficiar deles. Ponto final.
Por que isso me parece muito importante? Porque os direitos humanos são o passaporte e garantia para que as políticas sejam desenhadas e implementadas de forma a darem prioridade aos mais excluídos. No caso da água e saneamento, os direitos humanos exigem ainda que o acesso aos mesmos seja para todos, que os serviços sejam de qualidade e seguros, e que tenham um preço acessível. Não se esqueçam desses direitos e dessas pessoas. Eu não os esqueço.
Catarina de Albuquerque é a primeira relatora especial da ONU para a água potável e saneamento, tendo sido nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos em 2008. Foi agraciada com a Ordem de Mérito pelo presidente da República de Portugal e recebeu a medalha de ouro de Direitos Humanos da Assembleia da República portuguesa. Site: www.ohchr.org/srwaterandsanitation
terça-feira, 5 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Caminhos para o Rio
Por Wilhelm Meier - Valor 01/06
Vamos falar sobre o Rio. Tanto o Brasil quanto a Suíça traçaram um longo caminho desde a primeira Cúpula realizada no Rio há 20 anos, com avanços na redução da pobreza e no desenvolvimento sustentável. Nesse caminho, a Rio+20 é uma oportunidade para fortalecer a cooperação internacional no campo da sustentabilidade ambiental. O momento não poderia ser mais urgente para reunir a comunidade global e definir caminhos para um futuro mais próspero.
Na primeira Cúpula das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, (Eco-92), muitos dos riscos ambientais foram previstos. A caminho da Rio+20, esses riscos foram confirmados e outros maiores identificados. Vinte anos depois, a ciência demonstra claramente, com base em diversos relatos das Nações Unidas, de ONGs, de especialistas e de grupos ambientais, a premência de mudanças na nossa relação com o planeta. Como cientista de formação, não posso deixar de ficar impressionado com o alto custo de nosso impacto ambiental sobre a Terra, tais como a perda de biodiversidade e das florestas e, consequentemente, do que elas oferecem. Os custos econômicos da mudança climática são bem conhecidos.
Estamos muito além dos limites ecológicos de resiliência da Terra. A situação de nosso meio ambiente no início do século XXI, segundo um relatório recente das Nações Unidas, é de maior fragilidade dos ecossistemas e volatilidade da segurança alimentar, associadas às mudanças climáticas. Danos irreversíveis, portanto, devem ser contidos. Um outro recente relatório do WWF, indica que estamos usando 50% a mais de recursos do que nosso planeta pode fornecer. Portanto, o consumo humano exigiria pelo menos duas Terras para sustentar a vida de 9 bilhões de pessoas até 2030, se continuarmos neste ritmo. Uma economia verde é baseada no uso de menos recursos naturais e energia, e em um reduzido impacto ambiental. Assim, temos que criar incentivos para um processo produtivo mais limpo e para as tecnologias verdes.
A Suíça, como o Brasil, está empenhada em trabalhar para conquistas ambiciosas na Rio+20 que fortaleçam o compromisso político do desenvolvimento sustentável. Para a Suíça a conferência deve também produzir resultados substanciais no campo da Economia Verde, na forma de comprometimento de princípios, bem como medidas tangíveis, inclusive no estabelecimento e na implementação de planos de ação nacionais. Nós propomos o fortalecimento da governança das Nações Unidas para monitorar o progresso do desenvolvimento sustentável, com a formação do Conselho para o Desenvolvimento Sustentável e o revigoramento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A Suíça também espera que a conferência estabeleça objetivos de desenvolvimento sustentável. Além disso, a redução do risco de desastres e a promoção da resiliência a desastres naturais devem ser enfrentadas com urgência renovada, no contexto do desenvolvimento sustentável - um aspecto que os brasileiros conhecem bem com as graves inundações anuais.
O Brasil, como país anfitrião da Rio+20, tem um papel crucial e sabe muito bem que uma visão clara é imperativa para obter resultados concretos. A Suíça está ao lado do Brasil nessa tarefa - temos uma agenda comum em várias áreas.
A Suíça, assim como o Brasil, está se concentrando no transporte público como um dos elementos-chave para a sustentabilidade. Ela possui uma das mais densas redes de transporte público na Europa. Para aumentar o uso dos trens, construímos dois túneis (Lötschberg e Gotthard) através dos Alpes, que criaram um eixo Norte-Sul através da Europa, promovendo um transporte mais sustentável. Em geral, a Suíça está fazendo tudo o que é possível para tirar os carros das ruas e usar meios de transporte menos poluentes, tornando mais atraente o uso do transporte público.
Por outro lado, o Brasil está assumindo o desafio e concentra-se em várias melhorias nos seus sistemas de transporte e de infraestrutura, em particular no contexto da Copa do Mundo e da Olimpíada. Nessa conjuntura de expansão da economia brasileira, as autoridades brasileiras estão reunindo ciência, educação e inovação para aumentar a sustentabilidade ambiental.
Neste aspecto, o Brasil e a Suíça têm uma agenda positiva. Estamos trabalhando para incentivar a consciência ambiental, aliada à capacidade de inovação, e apoiar o setor de tecnologia limpa. Segundo Doris Leuthard, ministra do Meio Ambiente da Suíça, parcerias nos setores tecnológicos entre o Brasil e a Suíça podem atingir um rápido desenvolvimento. É aqui que os nossos setores privados entram em cena para integrar a infraestrutura verde. Um exemplo é o "Stade de Suisse", de Wankdorf em Berna, que foi reconstruído com tecnologia limpa, com o uso de painéis solares na sua cobertura, para os jogos de futebol da UEFA em 2008.
Para colocar a economia verde em prática, a nossa Terra merece - e precisa - de toda a nossa criatividade, nosso poder e nossa vontade de inovação. O Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia Aquática (Eawag) tem um projeto, apoiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, para melhorar o saneamento na África do Sul, e também recuperar os nutrientes da urina - como azoto, potássio, fósforo e enxofre - usados como fertilizantes. Esta é uma área com boas perspectivas para a cooperação trilateral com o Brasil.
Outro exemplo, a fundação suíça, SENS Internacional, juntamente com seu parceiro, Indústria Fox, em Cabreúva, São Paulo, criaram a primeira fábrica de reciclagem de geladeiras e congeladores na América do Sul, onde os gases CFCs são removidos e destruídos.
Em junho, os caminhos da sustentabilidade vão passar mais uma vez pelo Rio. Para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável, temos os dados científicos e sabemos o que deve ser feito. Agora, só necessitamos de vontade política para alcançarmos políticas proativas e uma implementação ambiciosa da agenda ambiental. Esse foi o espírito que conquistou tantos resultados na Eco-92. Esperamos levar adiante esse espírito para criar "o futuro que nós queremos." Ao sairmos do Rio temos que deixar para nossas crianças o maior legado de todos os tempos.
Wilhelm Meier é embaixador da Suíça no Brasil
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