terça-feira, 19 de junho de 2012

Três passos para chegar lá



Por Nick Clegg - Valor 19/06

A Eco-92 foi um momento decisivo e dela resultaram ações reais e globais - incluindo a criação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Mas o que aconteceu desde então? Com a chegada da Rio+20 - onde estarei chefiando a delegação do Reino Unido - precisamos nos questionar sobre o quão longe chegamos e o que mais precisamos fazer.

De muitas formas, o mundo avançou a passos largos. Em cada região do mundo em desenvolvimento, a porcentagem de pessoas vivendo com menos de US$ 1,24 por dia diminuiu. Temos visto melhorias significativas no acesso a educação, água e assistência médica também.

Ainda assim, o mundo não avançou tanto quanto os delegados da primeira conferência no Rio esperavam. Alguns dos indicadores ambientais mostram sinais preocupantes. As taxas de perda da biodiversidade aumentaram. Em relação ao crescimento econômico, a riqueza continua concentrada e os benefícios ainda não foram universalmente sentidos. Aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem em condições de pobreza extrema.

E, com o crescimento dramático da população mundial, nossos desafios só irão crescer. A resposta tem que ser o desenvolvimento sustentável. E, por isso, um dos temas mais importantes da Rio+20 é a criação de uma economia verde. Erradicando a pobreza, protegendo o meio ambiente, atingindo nossas necessidades futuras e garantindo que a prosperidade seja sentida por todos. Da nossa parte, o Reino Unido irá pressionar parceiros internacionais em três pontos prioritários: assinatura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que levem a ações; o PIB plus, e o estímulo para o setor de negócios faça sua parte com a elaboração de relatórios de sustentabilidade corporativa.

Primeiramente, a Rio+20 deve acordar o desenvolvimento dos ODS. Estes devem ser poucos em número e focados em ajudar as pessoas a sair da pobreza. Eles precisam se fixar em acordos e compromissos relacionados à distribuição de água e segurança alimentar, bem como expandir massivamente o acesso à energia sustentável. Depois da Conferência no Rio, o secretário-geral da ONU irá designar um Painel de Alto Nível para desenvolver um arcabouço pós-2015 para o desenvolvimento sustentável. Esse painel será co-presidido pelo primeiro ministro, David Cameron. Queremos objetivos que eliminem a pobreza mundial e que a agenda do Rio trabalhe em estreita colaboração com eles.

Outra prioridade é o PIB plus. As limitações do PIB como única medida de progresso foram reconhecidas há muito tempo. Um país pode crescer financeiramente e ainda assim destruir simultaneamente o capital natural do qual depende sua prosperidade futura. Precisamos ir além de um modelo no qual o progresso é medido unicamente com base nos ganhos financeiros de curto prazo, rumo a uma medida que avalie a qualidade do crescimento. Isso significa criar indicadores de desenvolvimento, os quais, por exemplo, considerem o valor da floresta em pé e da água limpa. A Avaliação Nacional do Ecossistema do Reino Unido calculou o valor que os pântanos representam para nossa economia, no que se refere à melhoria da qualidade da água, em £ 1,5 bilhão. O Reino Unido está abrindo novos caminhos, no sentido de incluir o capital natural nas contas nacionais. O Governo de Coalizão se comprometeu em ter isso pronto até 2020 - estamos pedindo que os outros façam o mesmo.

Obviamente, está claro que somente ações governamentais não serão suficientes. A Rio+20 precisa integrar o setor de negócios, ajudando a desenvolver uma economia mais verde pela forma como negociamos, inovamos e investimos. Por isso, não estamos apenas pedindo aos Governos que se comprometam com o PIB plus. Precisamos que os negócios tenham essa mesma linha de pensamento. Queremos que a declaração do Rio crie um arcabouço global que fará com que essa agenda realmente vá adiante, traga uma ampla gama de iniciativas e faça com que o relatório de sustentabilidade das empresas seja uma norma - e não uma exceção.

No Reino Unido as empresas estão mudando a forma como fazem seus negócios, colocando a sustentabilidade no centro de suas atividades e relatando seu progresso. Apreciamos as iniciativas de negócios como as da Aviva que está na liderança dos relatórios de sustentabilidade. Precisamos que pessoas saibam dessas iniciativas no Rio, e sigam o exemplo.

Eu apoio o setor de negócios britânico fazendo mais nessa área, especialmente em países onde a água, comida e energia não são suficientes - criando assim oportunidades de negócios que sejam verdadeiramente sustentáveis e boas para o desenvolvimento. A iniciativa Energia Sustentável para Todos (SE4All) é um bom exemplo e o secretário-geral Ban Ki Moon deve ser parabenizado por isso. Em uma recente reunião, em Londres, do painel do SE4All promovida por mim, anunciei que o Reino Unido irá apoiar essa Parceria Público-Privada global em £ 25 milhões. Caso um forte plano de ação seja desenvolvido, esperamos poder dobrar essa quantia.

Três prioridades. Três ideias claras do que queremos atingir. Três passos para o desenvolvimento sustentável: crescimento verde do qual depende a prosperidade real. O Reino Unido deixa claro: precisamos mostrar liderança, precisamos ser ambiciosos. Para os países desenvolvidos, assim como para os que estão se desenvolvendo. Para essa geração, e para todas que seguirem.



Nick Clegg é vice-primeiro-ministro do Reino Unido desde 2009 e lidera a delegação britânica na Conferência das Nações Unidas - Rio+20

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