terça-feira, 30 de agosto de 2011
''A multiplicação de carros no Brasil é uma bomba relógio ambiental de grandes proporções''. Entrevista especial com André Trigueiro
Postado no site do Instituto Humanitas Unisinos em 16/03/2011
“Não existe mais hora do rush e isso significa perda de mobilidade”, constata Trigueiro, ao avaliar o trânsito caótico das cidades. Segundo ele, a engenharia de tráfico do país tem que mudar e, “em bom português”, diz que isso “significa que os investimentos públicos em transporte de massa eficiente, barato e rápido devem ser superiores, devem suplantar os investimentos públicos que abrem caminho para o transporte individual”. De acordo com o jornalista, a maioria dos impostos pagos pelos brasileiros ainda beneficia o transporte individual. “Isso é um desajuste, um desacerto e é injusto, porque a maioria dos brasileiros não tem carro”, reitera.
Em entrevista à IHU On-Line, por telefone, Trigueiro defende a ideia de investir em transportes públicos que atendam centenas de pessoas, como o metrô, que, apesar de caro, é o meio mais indicado para solucionar problemas de tráfego e mobilidade urbana. “Chegamos a um ponto em que não é opção ter metrô; ele é fundamental, porque é o meio de transporte que irá reduzir, no longo prazo, a bomba relógio do crescimento desordenado das cidades e das suas frotas automobilísticas”.
André Trigueiro é jornalista, pós-graduado em Gestão Ambiental pela COOPE/UFRJ e professor do curso de Jornalismo Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Na Globo News, apresenta o programa “Cidades e soluções”, tratando da questão do meio ambiente. É autor de Mundo sustentável (São Paulo: Globo, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual sua reação diante da notícia de que um motorista atropelou diversos ciclistas que participavam de manifestação em prol da consciência ambiental?
André Trigueiro – É evidente que houve um crime, houve dolo e é evidente, de acordo com as imagens, que houve a intenção deliberada de atropelar. Nesse sentido, não há defesa, não há justificativa.
Por outro lado, o caso mostra que uma manifestação do gênero, evidentemente, haverá de requerer, em qualquer lugar, autorização prévia ao município para que os ciclistas sejam escoltados. Quer dizer, é muito arriscado realizar uma manifestação de bicicleta ou a pé, em uma avenida, contando com a boa vontade das pessoas. É importante que as manifestações sejam planejadas, que se avise a polícia e a guarda municipal. Cada cidade tem o seu protocolo e não é preciso arriscar a vida dos ciclistas.
Gostaria de fazer uma ressalva sobre o radicalismo, pois ele nunca é um aliado. Os movimentos extremistas, apaixonados, independente da causa, não agregam; pelo contrário, eles segregam. Não podem ser entendidos como uma ferramenta inteligente e, assim, não ganham musculatura e densidade.
Em sendo verdade a hipótese de que um motorista estressado, querendo atravessar a via, justificou a agressividade de alguns manifestantes, isso também merece atenção. A causa dos ciclistas é justa e nobre, é importante abrir espaços na cidade para a bicicleta, entendendo o veículo como meio de transporte consagrado em vários países do mundo, reduzindo as emissões de gases estufa, o ruído, aumentando o nível de conforto, de qualidade de vida das pessoas. Agora, perder a cabeça por uma razão qualquer, ficar impaciente e partir para a agressão não condiz com a nobreza da causa.
Há tantas outras maneiras de lidar com motorista impaciente, com pessoas que não atribuem importância ou consideram até uma ideia descabida uma manifestação do gênero. Não podemos impor aos outros a nossa visão de mundo, não podemos replicar uma visão monolítica do mundo e medi-lo conforme a nossa régua. O grande barato de viver em um país democrático como o Brasil é a possibilidade de organizar uma manifestação com ciclistas na rua, sem agravar o estresse que já existe e que confronta motoristas e ciclistas. Sou a favor da paz e penso que o movimento ambientalista não combina com guerra. Ele é muito criativo quando quer chamar atenção da opinião pública, da mídia, defendendo causas nobres e não consigo imaginar que a nossa estratégia seja outra, senão a de usar a criatividade, o bom senso, sem violência.
IHU On-Line – Muitas pessoas alegam que é complicado se locomover de bicicleta em função da engenharia das cidades. O que poderia mudar nesse sentido?
André Trigueiro – A engenharia de tráfico das cidades tem que mudar, temos que mudar o paradigma, o modelo. Isso, em bom português, significa que os investimentos públicos em transporte de massa eficiente, barato e rápido devem ser superiores, devem suplantar os investimentos públicos que abrem caminho para o transporte individual. Um estudo feito recentemente por um pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que a maior parte dos impostos pagos pelos brasileiros é aplicada na área de transporte, mas beneficiam o transporte individual. Isso é um desajuste, um desacerto e é injusto, porque a maioria dos brasileiros não tem carro. Além disso, não se podem utilizar recursos públicos majoritariamente para abrir caminho para o transporte privado.
É preciso promover não apenas a possibilidade de a bicicleta interligar domicílio a trabalho, ou seja, criar corredores, fluxo de bicicleta, demarcar no asfalto ou na calçada o espaço da ciclovia, mas ter uma sinalização eficiente, fiscalização presente, educação ostensiva para motoristas e ciclistas e punição severa e exemplar para quem não respeita as regras. Na Europa, o motorista tem medo de “encostar” em ciclista porque sabe que é encrenca. No Brasil, o pedestre é soberano, ninguém pode encostar nele, mesmo que esteja atravessando a rua fora da faixa de segurança, ou esteja em uma situação de risco. É dever do motorista parar o carro.
É fundamental entendermos que a bicicleta pode entrar como um elemento importante que interliga modais de transporte. A pessoa pode sair de casa usando a bicicleta, parar em uma grande estação de trem, de ônibus ou de metrô, onde haja bicicletário e, de lá, seguir para outros lugares da cidade. É preciso investir em lugares referenciais, onde o fluxo de ciclistas eventualmente seja grande. Poderiam criar um banheiro público e cobrar R$1, R$1,50, R$2 pela utilização. Os ciclistas poderiam tomar banho pagando uma taxa simbólica. Seria uma forma de facilitar a vida deles.
No metro, por exemplo, um vagão poderia ser destinado aos ciclistas. Essas seriam alternativas para reduzir a emissão de CO2, diminuir o ruído das cidades e melhorar a mobilidade urbana. A frota nacional de veículos cresceu mais de 100% em uma década, quer dizer, é um crescimento em progressão geométrica e as artérias das cidades não crescem na mesma proporção. Não existe mais hora do rush e isso significa perda de mobilidade.
IHU On-Line – O senhor escreveu no Twitter que há quatro anos comprou uma bicicleta para ir à PUC-Rio lecionar e acabou desistindo em função dos riscos que corria. Refere-se ao desrespeito dos carros? Como foi essa experiência?
André Trigueiro – Eu moro no bairro Laranjeiras e levo, de carro, cerca de dez minutos para chegar até a PUC, onde leciono. Atravesso um túnel, onde não é possível andar de bicicleta naturalmente. Quando opto por ir de bicicleta, faço um trajeto alternativo, saindo de Laranjeiras, pegando o bairro de Botafogo, Humaitá, Lagoa e Gávea, onde é a PUC. Parte desse percurso é coberto por ciclovia, outra parte não, justamente atravessando Laranjeiras e Botafogo. Nesse trecho, tenho que dividir a calçada e o asfalto com pedestres e motoristas.
As pessoas não têm a cultura do respeito ao ciclista, especialmente se a via não está demarcada. Senti-me exposto. Apesar de reconhecer a importância da bicicleta como modal de transporte, não posso ser irresponsável; tenho de priorizar a vida. Não adianta ter capacete, eventualmente uma roupa mais chamativa, fosforescente, aquela lanterninha piscando atrás do banco da bicicleta, pedal com olho de gato: a bicicleta é absolutamente frágil. Não se pode ter uma visão de que a bicicleta é maravilhosa, que todos devem usá-la, porque cada cidade tem a sua realidade.
Além de usar a bicicleta, podemos procurar alternativas para reduzir as emissões de gases estufa. A pecuária, por exemplo, é um dos maiores contribuintes para a emissão de gases estufa. Eu já reduzi drasticamente o consumo de carne. Procuro abrir espaço na universidade para esse debate, nas redes.
IHU On-Line – Algumas pessoas alegam que preferem se locomover de carro porque o transporte público é ineficiente. Será só isso mesmo, ou no Brasil o uso do carro já faz parte da cultura brasileira?
André Trigueiro – No Rio de Janeiro há um volume de investimento muito expressivo para preparar a cidade tanto para a Copa do Mundo em 2014 quanto para as Olimpíadas de 2016. O Rio de Janeiro tem uma oportunidade ímpar de promover, como nunca fez, o transporte público de massa. Há uma pressão enorme, o nível de consciência da população é muito grande, ou muito maior do que já foi. A tendência é que esse nível de pressão e de consciência cresça e que os tomadores de decisão percebam, como já percebem, que não há alternativa: não se consegue governar uma cidade colapsada na capacidade de promover o deslocamento das pessoas, as cidades são dinâmicas por vício de origem, as cidades são grandes formigueiros. Então, têm que ter fluxos de movimentação livres.
Estudos mostram que o deslocamento do centro da cidade até um determinado da periferia demorava 20 minutos há 10 anos e, agora, demora 45 minutos. Nos próximos dez anos, faremos esse percurso em quanto tempo? Há um problema de gerenciamento, pois os mandatos de prefeitos e governadores são de quatro anos e as mudanças feitas não resolvem o problema.
Respondendo objetivamente à pergunta, tem um pouco de tudo e cada região do Brasil tem a sua singularidade. Via de regra, existe certo comodismo, além da publicidade enganosa, que mostra o carro em comercial de televisão sempre andando sem engarrafamento. O carro também está cada vez mais confortável, oferece kits de conveniência. Não é normal perder até quatro horas da vida em engarrafamentos, todos os dias. Mas a loucura do automóvel também é a de tentar emprestar sentido à permanência no engarrafamento desde que seja em um carro Pop. Há uma inversão de valores.
IHU On-Line – Segundo informações do Ipea, com a ascensão das classes C e D, deverá aumentar a aquisição de automóveis no país. O sonho de muitas pessoas é possuir um carro próprio. Como lidar com esse paradoxo: ascensão econômica x sustentabilidade?
André Trigueiro – Em primeiro lugar, a multiplicação de carros no Brasil é uma bomba relógio ambiental de grandes proporções. O governo tem, nos impostos arrecadados, não apenas com a venda de automóveis, mas de todos os componentes, uma importantíssima fonte de arrecadação. Certa vez foi feita uma conta: se fosse possível somar todas as montadoras de veículos do mundo e toda a receita auferida pelo setor automotivo e isso fosse transformado em um número, esse número equivaleria ao sexto maior PIB do planeta, ou seja, em um ranking de países, o setor automotivo seria o sexto país mais rico do mundo.
Outro ponto importante é que não se faz omelete sem quebras os ovos. É duro ter que dizer isso. Preciso ter cuidado ao explicar isso para não ter uma visão elitista, mas o fato é que não é possível todo o brasileiro ter carro, como não é possível todo indiano, todo chinês ter carro. Simplesmente não dá, não é uma questão de justiça, é uma questão física. 83% dos brasileiros vivem em cidades segundo o IBGE. Se todos esses tiverem um carro, a vida se tornará absolutamente insustentável, intolerável.
O estudo do Ipea indica que, possivelmente, o Brasil terá que replicar experiências que já acontecem em alguns países do mundo, que são restritivas ao automóvel. Em Cingapura, as pessoas completam 18 anos e tiram a carteira de motorista se houver disponibilidade, pois o governo estabeleceu uma cota. Eles têm um número definido de licenças de motoristas. Uma medida possível talvez seja restringir o número de carteiras de habilitação, não é qualquer um que pode ser motorista, é só quem pode, e o governo vai dizer isso em termos estritamente numéricos, pois tem um limite, uma capacidade de suporte.
Outra opção é sobretaxar o veículo, como fizemos com cigarros e bebidas. Na Califórnia, existem corredores, faixas de rolamento exclusivas para motoristas que estejam acompanhados. A maioria das pessoas, no Brasil, andam sozinhas e não poderiam pegar a faixa seletiva.
Toda a sobre taxa que o governo poderá criar para o transporte individual deverá ser canalizada diretamente para o transporte público. Para onde vai o dinheiro do pedágio urbano de Londres? Para melhorias do transporte público de massa do cidadão londrino. Não tem desvio de dinheiro e isso faz a diferença. O motorista, em lugares onde a cidadania é valorizada, pode até ficar chateado por precisar ir ao centro de carro, já que está sempre pagando seu imposto.
Confesso a você que eu teria um cuidado maior na propaganda de automóveis, como se tem em relação à bebida. Quando encerra um comercial de bebida aparece a frase: “beba com moderação”. Poderíamos pensar o mesmo para a propaganda de veículos, uma mensagem que vá ao encontro do uso sustentável. Hoje em dia ter carro é muito diferente de 20, 30 anos atrás. Por isso, a publicidade tem de lembrar, a quem queira comprar carro, que é preciso ter cuidado, uma visão mais encorpada de mundo.
Além dessas possibilidades, penso que o principal seja aderir à certificação energética, como se fosse um selo Procel, com letra A, B, C, D e E. A letra A representa o carro mais eficiente do ponto de vista do consumo do combustível. As montadoras tinham de ser obrigadas a terem prazos e metas de eficiência e de cinco em cinco anos, os carros deveriam superar a eficiência.
IHU On-Line – O curioso é que essas montadoras são praticamente as mesmas, aqui e lá fora, e lá elas têm um padrão de automóvel que não polui ou polui menos.
André Trigueiro – Porque lá fora há regulação, aqui não. Não podemos ser inocentes, quer dizer, no Brasil a tributação do setor automotivo é importante, pois gera contribuição fiscal, do setor automotivo, dos componentes, autopeças, lubrificantes, combustíveis. Se fizermos a conta, isso dá um lastro para as contas públicas. Não por acaso, o presidente da República, quando o mundo estava deprimido economicamente, aconselhou o brasileiro a comprar tudo. Essa situação ajudou o Brasil a não sofrer tanto. Contudo, manter esse período de consumo é perigoso, temerário, porque não é sustentável. Não dá para imaginar essa progressão geométrica do crescimento das vendas de veículos nas ruas e avenidas de um país onde 83% dos brasileiros vivem em cidades.
Todas as pessoas têm direito a ter carro se assim desejarem, só que o mundo mudou e para pior em relação à mobilidade. O carro é o grande vilão.
IHU On-Line – Em que consistiria um sistema integrado e inteligente de transporte?
André Trigueiro – Através de um bom mapeamento dos percursos, dos trajetos, corredores de deslocamentos na cidade. É preciso entender como a população está distribuída e onde há maior demanda de deslocamento. Segundo, um planejamento em resposta ao diagnóstico, ou seja, como melhorar os meios de transporte onde eles se fazem mais necessários. Penso que o ideal é priorizar, sempre, o transporte público de massa. O que é transporte público de massa? Não é ônibus, é metrô, trem, barca.
Os modais de transporte precisam aparecer em um grande mapa que esteja na sala do gestor público, para que ele visualize a deficiência de transporte em determinada área da cidade que está crescendo e precisa promover transporte.
IHU On-Line – Como o senhor vê a proposta do governo de construir um metrô? Qual a relação custo/benefício da obra?
André Trigueiro – O metrô em cidades já construídas é mais caro, porque tem o custo da desapropriação, a linha tem que passar e quem estiver pela frente pode pagar o pato. Tem o custo de ter a rede subterrânea da cidade, ou seja, são adutoras, transporte de água, esgoto, redes pluviais.
Existem lugares em que não precisa fazer o metrô subterrâneo, pode fazer o metrô de superfície e bingo, pois existe uma enorme rede de trilhos, de linhas férreas sucateadas no Brasil. Então, é possível aproveitar o que já existe dentro da região metropolitana, como em São Gonçalo, a segunda cidade mais importante do estado do Rio de Janeiro.
O mais importante é que chegamos a um ponto em que não é opção ter metrô; ele é fundamental, porque é o meio de transporte que irá reduzir, no longo prazo, a bomba relógio do crescimento desordenado das cidades e das suas frotas automobilísticas. Metrô é o caminho mais inteligente e urgente, seus investimentos estão demandando mais urgência hoje nas grandes cidades brasileiras.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Os Pecados da Carne
Por Luiz Eduardo Cheida
A PeTA oferece 1 milhão de dólares a quem criar, em laboratório, carne com gosto e textura de carne natural de frango, até junho de 2012.
PeTA ou People for the Ethical Treatment of Animals (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) é a maior organização mundial pelos direitos dos animais. Para seus 800.000 membros, animais não foram feitos para servir de comida, vestuário, cobaia, tração ou distração.
O prêmio, com gosto de desespero, pretende diminuir o sofrimento dos animais e reduzir os efeitos ambientais devastadores da indústria da carne.
Por sofrimento dos animais entende-se o esfolar raposas, ainda vivas, para a produção de casacos; enterrar gansos, deixando o pescoço de fora, despejando milho sem parar, através de um funil, até provocar esteatose hepática (engorduramento do fígado) para se fabricar o patê mais caro do planeta; seccionar as patas de cavalos e deixá-los esvair-se em sangue com o fim de obter-se carne mais enxuta; dilacerar o bico das aves de granja e espremê-las em espaço menor que uma folha de papel ofício, matando-as em um tempo 15 vezes menor do que se vivessem livremente; privar bezerros de esticar as pernas, após separá-los das mães, de sua alimentação natural, de sua liberdade, para abatê-los, com meses de vida, vendendo-os como vitela; dependurar em ganchos e dar choques elétricos em cães, ainda vivos, pois a adrenalina torna a carne mais saborosa...
A sinopse deste circo de horrores sado-masoquista ainda é a essência do resumo da síntese de até onde pode chegar a estupidez humana.
Por efeitos ambientais devastadores entende-se a produção de carne em escala, solapando os recursos naturais.
Produzir 450 gramas de bife de gado confinado gasta 2,26 Kg de grãos, 9.450 litros d'água, energia de 3,8 litros de gasolina e 16 Kg de solo erodido.
Os recursos fósseis são para o transporte, tratores, fertilizantes químicos e pesticidas: os animais já são quase subprodutos do petróleo.
Mas, contrariamente à produção de carne, produzir vegetais para consumo humano é, em geral, 5 vezes mais eficiente em termos energéticos do que criar gado no pasto; 20 vezes mais eficiente que criar galinhas e mais de 50 vezes mais eficiente que criar gado confinado. Se hoje ainda tem sentido fazer o contrário é porque a carne vale mais que o petróleo. Porém, a longo prazo, produzir carne com recursos fósseis não faz o mínimo sentido.
A utilização excessiva da terra para criação de gado resulta na perda de sua camada fértil. Por todo o globo, a terra, que é a base da produção de alimentos, está sendo rapidamente erodida. Os fazendeiros optam por métodos de produção de baixo custo que deixam o solo exposto e submetem terras fracas à produção intensiva levando-as à ruína. A principal causa mortis das grandes civilizações foi o esgotamento do solo.
Na Amazônia, 90% dos criadores de gado abandonam as terras em menos de 8 anos. Na América Central, 25% das florestas foram derrubadas para darem lugar às fazendas de gado. Na América do Norte, 30% das terras são pastagens e 50% das terras cultivadas são de grãos para ração animal (só 2% são para frutas e verduras).
Lá, 80% da soja e 90% do milho são para o gado. No Brasil, 44% das terras cultivadas produz alimento para animais. No mundo, a cifra é 50%!
Florestas e animais criados para a carne competem pela mesma terra.
O apetite do mundo banca o agronegócio. E este paga mais para quem come do que para quem preserva ou recupera a floresta.
Fazer carne em escala industrial gera sofrimento aos animais e devastação ao ambiente. Não se devolve a vida a um pedaço de bife. Da mesma forma, o ambiente destruído jamais será o mesmo.
Embora nenhuma diferença faça 1 milhão de dólares no bolso do cientista que criar carne artificial a preços competitivos, se você refletir sobre os pecados da carne, fará toda a diferença.
O CONTORCIONISTA
Com o Recado, "Os Pecados da Carne", o pau cantou para cima do lombo deste que vos fala. Algumas das manifestações:
- O autor confunde bem-estar animal com produção de alimentos e generaliza, perigosamente, os conceitos...
- Sou favorável às iniciativas da PeTA em relação ao bem-estar animal e sou contra qualquer tipo de crueldade com os animais, mas acho que misturar os assuntos e culpar a produção de carne não é uma boa saída.
- Segundo você, devemos todos nos tornar vegetarianos!
- Quem é a PeTA, grupelho que, com seus 800.000 membros, não representa 0,01% dos habitantes do planeta?
- Deveria estudar dados da FAO, conhecer hábitos de consumo, número de empregos gerados pela agricultura e produção animal. Está mal-informado. Entretanto, devemos provocar profundas discussões em nosso meio sobre produção animal com consciência ambiental e respeito ao bem-estar...
Tais manifestações vieram de gente que faz melhoramento animal, zootecnia, engenharia de alimento e outras atividades de respeito. Porém, também com muito respeito, quero fazer só duas perguntas:
Como é possível criar animais, em escala industrial, garantindo seu bem-estar, alimentação natural e liberdade, não lhes imputando castração, separação das mães, divisão artificial em grupos, marcação, transporte e outros tipos de sofrimento e dor?
Não vale responder que, em escala pequena é possível, porque isso não atende a imensa população. Carne de animais criados segundo os princípios do bem-estar animal seria iguaria para poucos de muitas posses. Também não vale o que Oliver Goldsmith, humanista do séc. XVIII, dizia sobre as pessoas: Elas sentem pena, mas comem o objeto de sua compaixão.
Como é possível ampliar o cultivo de grãos, para ração animal, por sobre áreas de florestas e áreas de alimentação humana, gerando maior devastação ambiental, e ainda menos alimentos, menos proteínas e menores perspectivas na resolução do problema da fome?
Não vale responder que 500 gramas de bife tem mais calorias que 500 gramas de feijão. Cada animal precisa comer para chegar ao peso do abate. Um bezerro pastando só capim, realmente, significa um ganho líquido de proteínas para os humanos. Mas, produzido em escala, o bezerro alimenta-se com comida que nós poderíamos comer. Para crescer, bater o coração, respirar e demais atividades, ele gasta calorias (energia). Seus ossos e outros tecidos, que não comemos, também são construídos com o que ele come. Depois de atendidas suas necessidades, só o que sobra é que se transforma em carne. E, pasme: um bezerro tem que comer 19 Kg de proteína na ração, para produzir menos de 1Kg de proteína para um ser humano. Dessa forma, recupera-se 5% daquilo que se investiu! Se metade das terras cultiváveis do planeta são para ração animal, e a população de famélicos não diminui, como estas coisas se justificam?
Este Recado não pretende dar receitas de conduta. É um espaço onde procuro instigar as pessoas a tomarem posição (sejam quais forem) sobre o que considero mais relevante: nossa sobrevivência.
Neste último, não critiquei a produção de animais e sim a produção industrial de animais e suas conseqüências de ordem moral e ambiental.
Pela qualidade dos interlocutores, considerei importante dar continuidade ao assunto. Contudo, um pedido: foquem o tema; não pratiquem contorcionismo pois, no final, bem pode acontecer, como diz a lenda:
- O contorcionista engoliu-se.
* Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Brasil quer que a cúpula Rio+20 fixe metas ambientais
Por Daniela Chiaretti Valor 24/08
O governo brasileiro espera 50 mil pessoas em junho de 2012, no Rio de Janeiro, quando acontece a Rio+20, a conferência das Nações Unidas que reedita o evento de 20 anos atrás, a Rio 92, também conhecida por Eco 92. Embora o Brasil não defina a agenda do evento, discutida previamente pelos quase 200 países da ONU, os esforços, agora, são de preparar um fórum sedutor o bastante para atrair um grande número de líderes estrangeiros e mostrar algum resultado no rumo do desenvolvimento sustentável.
Além de discutir os caminhos da economia verde no mundo, é possível que o evento produza metas similares aos Objetivos do Milênio, mas que mirem 2030 e versem sobre água, energia ou inovação tecnológica, por exemplo. Outra novidade seria indicar que a referência atual de vigor econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) deveria ser revista para contemplar aspectos sociais e ambientais. Como efeito colateral, reconhece Fernando Lyrio, assessor extraordinário para a Conferência Rio+20 do Ministério do Meio Ambiente, há também a redenção na credibilidade do sistema multilateral das Nações Unidas. "Não pode haver vencedores e perdedores em um processo como o da Rio + 20, porque corre-se o risco de gerar pouca apropriação dos resultados.". Abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu ao Valor:
Valor: Economia verde é o grande tema da Rio+20?
Fernando Lyrio : Há dois grandes temas para a conferência. Um deles é o da economia verde no contexto da erradicação da pobreza. O outro, a estrutura das Nações Unidas para viabilizar o desenvolvimento sustentável no mundo. É um debate sobre o que tem que ser mudado ou adaptado no nível institucional da ONU. Existe hoje uma proposta, basicamente europeia, de criação de uma agência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mas não há consenso.
Valor: Porque não?
Lyrio : Os europeus acham que a gestão ambiental na ONU tem que ser favorecida. Propõem transformar o PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em agência.
Valor: E o Brasil, o que acha?
Lyrio : O Brasil não favorece essa ideia porque entende que, sem prejuízo do reforço da gestão ambiental no âmbito da ONU, esta não é uma conferência de meio ambiente, mas de desenvolvimento sustentável. Não é só discutir a água, mas o acesso a água, a questão econômica, os múltiplos usos. É o acesso à energia, o tipo de energia, o custo. As questões têm que ser tratadas de maneira integrada, não de maneira estanque. Hoje, na ONU, há uma área de meio ambiente, outra de energia, outra de água, estes temas são tratados em diversas instâncias o que gera sobreposição de tarefas e vácuos. Falta coerência e organização.
Valor: E uma agência resolveria?
Lyrio: Não necessariamente. É como criar um ministério de desenvolvimento sustentável no Brasil. Não funciona, tem que ser transversal. Além disso, vários países não gostam da criação de uma nova agência porque seria gerar custos financeiros novos. Mas o Brasil acha que é preciso uma instância de governança politicamente qualificada e hierarquicamente elevada para orientar as diversas agências da ONU neste assunto.
Valor: O que seria?
Lyrio : As soluções não são muito claras. Pensamos em uma instância de coordenação das ações de desenvolvimento sustentável na ONU. Um dos órgãos máximos da ONU é o Conselho Econômico e Social, o Ecosoc, criado no pós-guerra. Mas o mundo mudou nestes 50 anos, temos hoje uma realidade onde os modelos de desenvolvimento pedem novos olhares. Achamos que o Ecosoc é um lugar adequado para esta instância de coordenação.
Valor: E a economia verde?
Lyrio: Este é o grande lance. Mas é um tema cuja definição e conceitos são amplos e pouco consensuais. Cada um entende diferente do outro. Pensamos em um processo de desenvolvimento que contemple a ideia de uma economia inclusiva e viável. Uma das possibilidades da Rio+20 é revisar a métrica de progresso dos países.
Valor: Porque alguns países não concordam com o termo economia verde?
Lyrio : Não é que não aceitem. Se for no contexto de sustentabilidade e erradicação da pobreza, tudo bem. O medo é que restrinja seu desenvolvimento. Aquele medo permanente de barreiras comerciais não tarifárias travestidas de condicionantes ambientais e sociais. A maior parte dos países em desenvolvimento tem muita preocupação com isso. Mas é preciso ver que a Rio+20 é uma conferência sobre desenvolvimento, sobre desenvolvimento sustentável. Os temas ambientais só vão avançar quando se tiver uma discussão ampliada. Não estamos falando de conservação ambiental mas de um processo muito maior. É sobre conceber para o Brasil e para o planeta estratégias de desenvolvimento. O que está em jogo é o modelo de desenvolvimento do planeta.
Valor: Sobre a métrica, a Rio+20 indicaria algo novo?
Lyrio : Não há tempo para fechar nada até lá. Mas poderia se reconhecer a limitação atual, que o PIB não reproduz uma medida de desenvolvimento. O PIB hoje é o principal instrumento de mensuração de progresso do planeta. Mas é, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, insuficiente porque mede progresso econômico única e exclusivamente. Não entra em considerações sociais, ambientais, nada disso. Há várias propostas já discutidas no passado, que tem méritos, mas que, na prática não emplacaram. O presidente Nicolas Sarkozy chamou o economista Joseph Stiglitz para fazer um trabalho nesta linha, há várias coisas em curso. O governo brasileiro tem pensado nisso, em um novo parâmetro de mensuração do progresso que leve em conta aspectos sociais, de escassez ecológica. Mas não há uma proposta formal, é apenas uma ideia que está na mesa.
Valor: Como será a agenda da Rio+20?
Lyra : A conferência em si foi convocada para os dias 4,5 e 6 de junho, quando virão os chefes de Estado. Há todo um processo preparatório internacional e nacional em curso para ela acontecer. Mas é importante saber que o fato da conferência ser no Rio dá pouca governança ao Brasil sobre a sua agenda. A Rio+20 é uma conferência da ONU, o Brasil se ofereceu para ser sede dela. A discussão da agenda, de tudo o que vai acontecer, e como, está ocorrendo em Nova York e tem que ser acordado por todos os países das Nações Unidas.
Valor: Como acontece a participação brasileira?
Lyrio : No dia 1º de novembro todos os países deverão apresentar, por escrito, suas visões e ideias para o que se quer que a Rio + 20 seja. Governo, grupos empresariais, ONGs, todos podem apresentar suas propostas. O Brasil está hoje no processo de preparação das posições brasileiras. Dentro do governo estamos começando discussões sobre contas públicas, sobre instrumentos econômicos, falando de erradicação da pobreza, de muitas coisas além da biodiversidade e mudança do clima do ponto de vista ambiental em estrito senso.
Valor: Mas como vai ser isso? Empresas têm demandas, ONGs têm demandas, todos têm as suas...
Lyrio Os diversos segmentos da sociedade fazem parte da comissão nacional e o Brasil fechará um documento que tentará refletir toda essa gama de interesses. Só que o Brasil apresentará o documento com quase 200 outros países. O secretariado da ONU irá pegar todas as propostas e transformar em um documento único, que será o documento de negociação, a base das conversas daquilo que iremos aprovar como resultado da Rio +20.
Valor: É por isso o Brasil tem pouca governança sobre a agenda?
Lyrio : Do ponto de vista formal da agenda, o Brasil tem pouca governança. Mas do ponto de vista político pode mobilizar, conscientizar, ressaltar a importância do debate. Isso tem sido feito em diversos fóruns, com a presença da presidenta Dilma Rousseff e de vários ministros. Para o Brasil é importante que esta conferência seja bem sucedida.
Valor: Mas o momento é complicado. Ela também é um balanço do que se fez, ou não se fez, nestes 20 anos, desde a Rio 92?
Lyrio : O momento, que você diz que é complicado, eu chamo de diferente. Não dá para comparar a Rio+20 com a Rio 92.
Valor: Porque não?
Lyrio : São dois momentos muito diferentes. Quando a Rio 92 aconteceu havia um movimento mundial, estava se seguindo à queda do muro de Berlim, havia uma grande abertura multilateral. Havia forte expectativa de acordos como a Convenção de Biodiversidade e a Convenção sobre Mudança do Clima serem aprovados. A Rio 92 acabou representando uma oportunidade rara, foi uma conferência muito bem sucedida.
Valor: E hoje?
Lyrio : Hoje há grandes dúvidas sobre o multilateralismo como solução, mas o Brasil acredita nele como encaminhamento dos problemas globais. Entendemos que um dos resultados que a Rio+20 deve oferecer ao mundo é uma redenção de credibilidade no sistema multilateral das Nações Unidas. Hoje vive-se uma clivagem Norte-Sul que é perversa, aquela coisa de apontar o dedo "isso é culpa dos países desenvolvidos, que não puseram dinheiro". Esta clivagem não é construtiva e não gera consenso. E o problema dos processos da ONU é que trabalha-se por consenso e não por votação, como no Congresso Nacional. E consenso é muito difícil de se conseguir quando se trata de 200 países com realidades sociais, ambientais, políticas e econômicas muito diferentes.
Valor: O que sairá da Rio+20?
Lyrio : Como efeito colateral, redimir um pouco a credibilidade no sistema da ONU. Qualquer coisa que saia de lá tem que ser aceitável e adequado para todos os países. Não pode haver vencedores e perdedores em um processo como o da Rio + 20, porque corre-se o risco de gerar pouca apropriação dos resultados.
Valor: O que o Brasil quer?
Lyrio : Há algumas coisas na mesa. Temos hoje uma discussão, que pode avançar bastante, de a Rio+20 ter objetivos de desenvolvimento sustentável do planeta. É uma proposta da Colômbia. Da mesma maneira que tivemos os objetivos do desenvolvimento do Milênio, ter metas de desenvolvimento sustentável. É adotar um conjunto de indicadores e de metas para os próximos 20 ou 30 anos. Quais serão estes indicadores, teremos que negociar. Mas o foco do Brasil, nesta conferência, tem sido o da inclusão social e da redução da pobreza, prioridades do governo brasileiro.
Valor: O que poderiam ser?
Lyrio : Água, resíduos sólidos, instrumentos financeiros, conservação da biodiversidade, compras públicas. Poderia ser algo como adotar tanto % de energias renováveis até tal ano ou estratégias de sustentabilidade para as compras públicas.
Valor: Não seriam metas vagas...
Lyrio : Não. Por exemplo, temos conversado muito sobre compras públicas. Em todos os países do mundo, principalmente nos em desenvolvimento, o Estado é o maior comprador. Tem uma capacidade muito grande de indução, de orientação dos mercados. Se o Estado puder orientar a produção, nas rota da sustentabilidade, já é um ganho fantástico. Há indicadores sendo imaginados. Quando se fala de energia, o componente social é ter acesso à energia. É importante que toda a população do planeta tenha acesso a condições dignas de vida e isso inclui energia, água, alimentação. Mas o acesso à energia tem que ser ambientalmente adequado. Não pode então, para dar acesso a energia a todo mundo encher tudo de termoelétricas. E tem que ser viável economicamente, com escala.
Valor: O que mais a conferência pode produzir?
Lyrio : A conferência começa dia 28 de maio e dura dez dias. De 28 a 30 de maio ocorre a última das reuniões preparatórias, com os negociadores. Depois, de 31 a 3 de junho pensamos em ter oito grandes painéis, sobre temas relevantes à agenda da conferência e que informem o debate dos chefes de Estado. Vamos convidar personalidades mundiais, com relevância sobre assuntos como água, energia e outros. Esta é uma proposta brasileira. Além disso queremos pensar uma maneira que assegure maiores espaços para os atores não governamentais que cada vez tem mais influência no mundo, como o setor privado, os setores sociais, ONGs. Estamos imaginando como eles podem se fazer representar e se colocar de forma a influenciar os processos decisórios. É uma questão complexa, porque não vai se alterar o sistema das Nações Unidas, mas é algo que o Brasil quer fazer.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Greenpeace aponta substância nociva em roupas de 14 grandes marcas
SÃO PAULO - Uma pesquisa divulgada hoje pela organização não-governamental Greenpeace aponta a presença de etoxilatos de nonilfenol (NPEs), substâncias químicas, no tecido de roupas e calçados vendidos por 14 marcas internacionais.
Um laboratório independente contratado pelo Greenpeace para analisar 78 itens de 15 marcas, indicou a existência de NPEs nos produtos com etiquetas Adidas, Calvin Klein, Converse, Lacoste, Nike, Ralph Lauren, Puma, G-Star RAW, H&M, Kappa, Li Ning, Abercombie & Fitch, Uniglo e Youngor. A Gap foi a única marca aprovada entre as pesquisadas.
Dos artigos observados, 52 apontaram presença da substância acima dos limites permitidos na Europa, de 1 miligrama de NPE por quilo de material.
Os NPEs estão presentes em detergentes usados por alguns fabricantes de têxteis. Em contato com a água, a substância transforma-se em nonilfenol, tóxico que, por meio dos rios, espalha-se pela cadeia alimentar e que tem propriedades de desregulação hormonal, segundo o Greenpeace.
Os itens analisados foram comprados em 18 países entre abril e maio deste ano e tinham 13 origens diferentes de fabricação. A substância química nociva foi encontrada em produtos manufaturados de 12 países, entre eles a Argentina, único país da América Latina analisado.
(Luciana Seabra | Valor)
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
O VENENO ESTÁ NA MESA
Por Andrea.Barreto via Erdanet
AMIGOS E PARCEIROS DO TESTE DE AUDIÊNCIA!
TEMOS A SATISFAÇÃO DE RECOMENDAR-LHES O EXCELENTE DOCUMENTÁRIO DO CONSAGRADO CINEASTA SILVIO TENDLER QUE TRATA DE UM DOS ASSUNTOS MAIS IMPORTANTES DO MOMENTO: A QUALIDADE DOS ALIMENTOS QUE CONSUMIMOS.
MARCIO CURI E RENATO BARBIERI - Curadores do Teste de Audiência
O VENENO ESTÁ NA MESA
Um filme de Sílvio Tendler
"Cada brasileiro consome em média 5,2 Kg de agrotóxicos por ano.
Até quando vamos engolir isso?"
No dia 22 de agosto, às 19 horas, no Museu da República (ao lado da Catedral), lançamento no Distrito Federal do renomado documentário “O veneno está na mesa”.
Após o filme, debate com o cineasta Sílvio Tendler.
Informações: contraagrotoxicosdf@gmail.com
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
TEMOS A SATISFAÇÃO DE RECOMENDAR-LHES O EXCELENTE DOCUMENTÁRIO DO CONSAGRADO CINEASTA SILVIO TENDLER QUE TRATA DE UM DOS ASSUNTOS MAIS IMPORTANTES DO MOMENTO: A QUALIDADE DOS ALIMENTOS QUE CONSUMIMOS.
MARCIO CURI E RENATO BARBIERI - Curadores do Teste de Audiência
O VENENO ESTÁ NA MESA
Um filme de Sílvio Tendler
"Cada brasileiro consome em média 5,2 Kg de agrotóxicos por ano.
Até quando vamos engolir isso?"
No dia 22 de agosto, às 19 horas, no Museu da República (ao lado da Catedral), lançamento no Distrito Federal do renomado documentário “O veneno está na mesa”.
Após o filme, debate com o cineasta Sílvio Tendler.
Informações: contraagrotoxicosdf@gmail.com
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
CULTURA VERDE
Valor 17/08
A atenção crescente dispensada por empresas e instituições a práticas sustentáveis e ecológicas está criando um mercado promissor, dentro e principalmente fora do Brasil, para papéis reciclados ou produzidos a partir do que seria resíduo em outras indústrias. É o caso do papel feito a partir da celulose extraída do bagaço de cana-de-açúcar, carro-chefe dos negócios da brasileira GCE Papéis, que, por sua vez, é dona da Ecoquality, primeira marca nacional de sulfite produzido a partir dessa matéria-prima.
A empresa, que tem como sócios dois profissionais com mais de 20 anos de experiência em grandes papeleiras, nasceu em 2006. Mas a pesquisa e desenvolvimento da tecnologia de produção de papel a partir de bagaço de cana, em escala industrial, teve início ainda no fim da década de 90. Diferentes fontes de celulose foram testadas em busca do papel "ambientalmente correto" com características de impressão o mais próximo possível daquelas do produto feito integralmente com fibras virgens.
Os testes, conta Luiz Machado, um dos sócios e diretor comercial da GCE, mostraram que o bagaço de cana produzia o melhor resultado. "Antes, fizemos tentativas com resina pet, sisal, entre outros materiais. Mas ou o aspecto era ruim ou a matéria-prima tornava o produto final economicamente inviável", afirma o empresário. "No fim, o bagaço de cana reuniu performance e custo viável." Com o insumo, ainda é possível gerar 65% da energia que é utilizada no processo produtivo.
O passo seguinte, conforme Machado, foi escolher o local de produção do papel "ecológico", que pode alcançar até 93 graus de alvura e sair em versão extra branco. Diante dos elevados custos no país, a GCE optou por arrendar os equipamentos em duas fábricas, instaladas na Argentina e na Colômbia, que juntas tem capacidade de produção de 3 milhões de toneladas por ano. Na unidade argentina, o consumo de bagaço de cana fica entre 400 mil e 450 mil toneladas anuais. Na Colômbia, o volume salta a 1,8 milhão de toneladas.
Por enquanto, a maior parte das 460 mil toneladas produzidas por ano do papel Ecoquality é vendida pela GCE para clientes de outros países, como Estados Unidos e Holanda. No Brasil, ficam cerca de 20 mil toneladas por ano do produto - que tem o certificado ISO 14000 -, compradas por grandes companhias que adotam práticas de sustentabilidade. As multinacionais representam mais de 60% dessa clientela. "Muitas vezes, até para conseguir alguma certificação, as empresas passam a utilizar papel reciclado em documentos ou relatórios", explica Machado. "Mudança de cultura e normas têm impulsionado o consumo."
Embora o consumo de papel reciclado e a taxa de recuperação de papéis recicláveis seja crescente no país - 46% em 2009, ante 38,3% no ano anterior -, o diretor da GCE admite que ainda há um caminho importante a ser percorrido no país no que tange ao uso de papéis reciclados. "Entre as multinacionais, essa cultura é bem mais forte. Mas há mudança de mentalidade no país", reitera. A estimativa é a de que cerca de 80% do papel cut-size (cortado) consumido no Brasil utilize apenas celulose de eucalipto virgem como matéria-prima.
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terça-feira, 16 de agosto de 2011
GATO POR LEBRE
Por Jose Eli da Veiga - Valor 16/08
"Tudo que cresce aumenta de tamanho", truísmo adorado pelo conselheiro Acácio e pura tautologia na lógica, é o inverso para o cânone da teoria econômica.
Procure-se nas bíblias dessa disciplina as respostas a três indagações: (1) o que aumenta quando a economia cresce? (2) de que tamanho ela está agora? (3) de que tamanho deveria ser, ou qual tamanho poderia atingir?
Dada a monumental importância do crescimento econômico para as sociedades contemporâneas, seria de se esperar reações diretas e precisas às três perguntas. Todavia, só a primeira é ingenuamente respondida. As outras nem sequer chegam a ocorrer à imensa maioria dos economistas. Muitos até as consideram irrelevantes ou ilegítimas.
A resposta 1) é obviamente o Produto Interno Bruto (PIB), que mede o fluxo anual das transações mercantis de produtos e serviços. Só que ele não dá conta de seu próprio fundamento: o fluxo metabólico de matéria e energia que sai do ambiente e a ele retorna como rejeito, depois de atravessar esse subsistema chamado de economia (produção e consumo).
Nos anos 1960, alguns poucos pioneiros chamaram a atenção para o reducionismo da dupla "input/output", pois deixa de lado a crucial importância do biofísico "throughput". Meio século depois, o próprio termo continua estranho a um jargão profissional inteiramente dominado pelo fetichismo mercadológico.
Aí está, contudo, o cerne da questão. Pois é muito mais esse "transumo" do que o casalzinho insumo/produto a chave para encontrar respostas coerentes às três perguntas.
2) Considerando-se os processos naturais que regeneram os recursos básicos da economia, absorvem suas emissões, e prestam inúmeros outros serviços ambientais, que tamanho relativo tem hoje o fluxo metabólico? As evidências científicas indicam que a economia global já está grande demais para o ecossistema que a sustenta.
3) Que tamanho pode atingir? Qual pode ser a dimensão desse subsistema para que não aniquile seus próprios fundamentos naturais? Qual é a escala adequada ao ecossistema?
Aparentemente só se saberá depois do temerário teste empírico em curso. No entanto, para que os economistas fossem levados a sério, a resposta a esse tipo de indagações deveria ter surgido antes que os custos começassem a exceder os benefícios que podem gerar. Coisa que o PIB é incapaz de mostrar, pois é algo que esteve inteiramente ausente de sua própria concepção. Além da substituição do produto pelo consumo para medir o desempenho econômico, é indispensável que seja calculada a sua pegada ecológica.
O aumento do PIB já se tornou antieconômico em vários países do primeiro mundo. Um crescimento que mais acumula mazelas do que acrescenta riquezas. Mas não faltam economistas para garantir que o aumento do produto tende a se desvincular do aumento do transumo, proeza apelidada de "descasamento" ("decoupling").
Pretendem não saber que isso só ocorre em termos relativos, não absolutos. O exemplo mais eloquente é a brutal saturação da atmosfera com gases de efeito estufa, simultânea ao ganho de eficiência energética com forte redução da intensidade-carbono da economia global. Só poderia ter sido diferente com estabilização do consumo.
O mais curioso, porém, é supor - na contramão das evidências - que o avanço tecnológico um dia engendre descasamento absoluto. Haveria razão suplementar para se limitar o transumo. Pois, hipoteticamente, seria absurdo aceitar o correspondente prejuízo ambiental, já que seu aumento teria se tornado desnecessário à prosperidade.
Em suma: no desespero de insistir que as economias da vanguarda do primeiro mundo devem continuar a crescer, nada pode ser mais tolo do que desencarnar ou angelizar o PIB.
Praticamente tudo o que foi dito acima é da lavra de Herman Daly, professor emérito da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Maryland (EUA). Em livre adaptação de seu prefácio ao livro "Prosperidade sem crescimento", do colega Tim Jackson, da Universidade de Surrey (RU).
Por que evocar aqui e agora essas considerações de Daly? Porque não há melhor maneira de explicitar o caráter eufemístico da expressão "economia verde". Seus usuários nem sempre estão conscientes de que um dos maiores desafios da atualidade é levar as sociedades mais avançadas a superar a obsessão pelo crescimento econômico. E tem sido muito frequente a tentativa de esconder esse imenso desafio histórico, propondo-se gato por lebre: a ilusão do descasamento absoluto embrulhado como economia verde.
Claro, isso não deve impedir o uso de tão boa imagem de marca na promoção de iniciativas favoráveis à sustentabilidade. Todavia, no processo preparatório à cúpula global de junho sobre o desenvolvimento sustentável (Rio+20), há que se separar o joio do trigo. Os lobbies que estão pautando os debates fazem de tudo para que o principal seja ocultado: a inevitabilidade de uma mudança macroeconômica que será equivalente àquela que no século passado foi engendrada pelos pactos políticos de Bretton Woods combinados à vitória ideológica do keynesianismo.
José Eli da Veiga, professor da pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP) e do mestrado profissional em sustentabilidade do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
Procure-se nas bíblias dessa disciplina as respostas a três indagações: (1) o que aumenta quando a economia cresce? (2) de que tamanho ela está agora? (3) de que tamanho deveria ser, ou qual tamanho poderia atingir?
Dada a monumental importância do crescimento econômico para as sociedades contemporâneas, seria de se esperar reações diretas e precisas às três perguntas. Todavia, só a primeira é ingenuamente respondida. As outras nem sequer chegam a ocorrer à imensa maioria dos economistas. Muitos até as consideram irrelevantes ou ilegítimas.
A resposta 1) é obviamente o Produto Interno Bruto (PIB), que mede o fluxo anual das transações mercantis de produtos e serviços. Só que ele não dá conta de seu próprio fundamento: o fluxo metabólico de matéria e energia que sai do ambiente e a ele retorna como rejeito, depois de atravessar esse subsistema chamado de economia (produção e consumo).
Nos anos 1960, alguns poucos pioneiros chamaram a atenção para o reducionismo da dupla "input/output", pois deixa de lado a crucial importância do biofísico "throughput". Meio século depois, o próprio termo continua estranho a um jargão profissional inteiramente dominado pelo fetichismo mercadológico.
Aí está, contudo, o cerne da questão. Pois é muito mais esse "transumo" do que o casalzinho insumo/produto a chave para encontrar respostas coerentes às três perguntas.
2) Considerando-se os processos naturais que regeneram os recursos básicos da economia, absorvem suas emissões, e prestam inúmeros outros serviços ambientais, que tamanho relativo tem hoje o fluxo metabólico? As evidências científicas indicam que a economia global já está grande demais para o ecossistema que a sustenta.
3) Que tamanho pode atingir? Qual pode ser a dimensão desse subsistema para que não aniquile seus próprios fundamentos naturais? Qual é a escala adequada ao ecossistema?
Aparentemente só se saberá depois do temerário teste empírico em curso. No entanto, para que os economistas fossem levados a sério, a resposta a esse tipo de indagações deveria ter surgido antes que os custos começassem a exceder os benefícios que podem gerar. Coisa que o PIB é incapaz de mostrar, pois é algo que esteve inteiramente ausente de sua própria concepção. Além da substituição do produto pelo consumo para medir o desempenho econômico, é indispensável que seja calculada a sua pegada ecológica.
O aumento do PIB já se tornou antieconômico em vários países do primeiro mundo. Um crescimento que mais acumula mazelas do que acrescenta riquezas. Mas não faltam economistas para garantir que o aumento do produto tende a se desvincular do aumento do transumo, proeza apelidada de "descasamento" ("decoupling").
Pretendem não saber que isso só ocorre em termos relativos, não absolutos. O exemplo mais eloquente é a brutal saturação da atmosfera com gases de efeito estufa, simultânea ao ganho de eficiência energética com forte redução da intensidade-carbono da economia global. Só poderia ter sido diferente com estabilização do consumo.
O mais curioso, porém, é supor - na contramão das evidências - que o avanço tecnológico um dia engendre descasamento absoluto. Haveria razão suplementar para se limitar o transumo. Pois, hipoteticamente, seria absurdo aceitar o correspondente prejuízo ambiental, já que seu aumento teria se tornado desnecessário à prosperidade.
Em suma: no desespero de insistir que as economias da vanguarda do primeiro mundo devem continuar a crescer, nada pode ser mais tolo do que desencarnar ou angelizar o PIB.
Praticamente tudo o que foi dito acima é da lavra de Herman Daly, professor emérito da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Maryland (EUA). Em livre adaptação de seu prefácio ao livro "Prosperidade sem crescimento", do colega Tim Jackson, da Universidade de Surrey (RU).
Por que evocar aqui e agora essas considerações de Daly? Porque não há melhor maneira de explicitar o caráter eufemístico da expressão "economia verde". Seus usuários nem sempre estão conscientes de que um dos maiores desafios da atualidade é levar as sociedades mais avançadas a superar a obsessão pelo crescimento econômico. E tem sido muito frequente a tentativa de esconder esse imenso desafio histórico, propondo-se gato por lebre: a ilusão do descasamento absoluto embrulhado como economia verde.
Claro, isso não deve impedir o uso de tão boa imagem de marca na promoção de iniciativas favoráveis à sustentabilidade. Todavia, no processo preparatório à cúpula global de junho sobre o desenvolvimento sustentável (Rio+20), há que se separar o joio do trigo. Os lobbies que estão pautando os debates fazem de tudo para que o principal seja ocultado: a inevitabilidade de uma mudança macroeconômica que será equivalente àquela que no século passado foi engendrada pelos pactos políticos de Bretton Woods combinados à vitória ideológica do keynesianismo.
José Eli da Veiga, professor da pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP) e do mestrado profissional em sustentabilidade do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Futuro do Protocolo de Kyoto será prioridade na cúpula do clima
Valor 10/08
A próxima conferência internacional do clima, em Durban, na África do Sul, centrará seu foco no destino do Protocolo de Kyoto. O acordo internacional, que dividiu o mundo entre países ricos, com obrigações de reduzir as emissões de gases-estufa, e os outros, sem compromissos mandatórios, começou a funcionar em 2008. Se não for renovado, expira em 2012. Durban é a última oportunidade de salvar Kyoto. Sem ele, desaparece o único acordo climático internacional que existe. A decisão tem dia marcado: 9 de dezembro.
É quando termina a CoP-17, o encontro anual que reúne negociadores do mundo todo para discutir um acordo climático internacional, desta vez, na África do Sul.
"O mais importante para Durban é definir o segundo período do Protocolo de Kyoto", diz uma fonte do governo brasileiro. "Se ele não se confirmar, a negociação climática entra em um limbo muito perigoso", prossegue. "Podem ficar só os defeitos de Kyoto e nenhuma de suas qualidades."
A qualidade do Protocolo de Kyoto, no entendimento do governo brasileiro, é que ele acentua a responsabilidade dos países industrializados sobre a mudança climática - um argumento do gênero "a culpa é deles". Boa parte dos gases-estufa que estão na atmosfera e que já causam o aquecimento da Terra foram emitidos há mais de 100 anos pelas nações mais ricas. Foi esse argumento que baseou o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", que está na Convenção do Clima, e diz que todos os países são responsáveis pelo problema, mas de jeito diferente. Por este entendimento, os mais ricos têm que pagar a conta, transferir tecnologias limpas e reduzir suas emissões. Isso ficou acordado pelo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
Por Kyoto, os países industrializados reduziriam suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação a 1990, no período 2008-2012. O Protocolo criou na Europa um mercado de licenças para emitir e créditos de carbono. Surgiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permitia aos países emissores reduzirem suas emissões em algum país em desenvolvimento, investindo em tecnologias limpas e produzindo créditos de carbono.
O Protocolo tem vários problemas. O principal é que os Estados Unidos nunca o aceitaram internamente, o que faz com que a Europa lide sozinha com o ônus do aquecimento. Em tempos de crise econômica, isso pesa mais. O surgimento de economias emergentes - e muito emissoras - como China, Índia e Brasil, não contempladas por Kyoto, é outro ponto de tensão. O Protocolo é modesto demais - 5% de corte está longe de resolver a questão. Hoje Japão, Canadá e Austrália querem as mesmas prerrogativas dos EUA e dos emergentes - abandonar Kyoto e ter apenas compromissos voluntários. "Se Kyoto não tiver continuidade, mata-se a origem da necessidade dos créditos e morre o MDL", diz a fonte do governo. É mais que isso. "Ficará como símbolo do fracasso na questão do clima".
Em Durban, os países em desenvolvimento exigirão, novamente, que os ricos apresentem seus compromissos de cortes nas emissões para depois de 2012. "Sem isso, só haverá uma negociação onde cada um declara o que pode fazer. Todos os países estarão negociando em situação similar, o fato de uns serem ricos não os obrigará a nada."
A próxima conferência internacional do clima, em Durban, na África do Sul, centrará seu foco no destino do Protocolo de Kyoto. O acordo internacional, que dividiu o mundo entre países ricos, com obrigações de reduzir as emissões de gases-estufa, e os outros, sem compromissos mandatórios, começou a funcionar em 2008. Se não for renovado, expira em 2012. Durban é a última oportunidade de salvar Kyoto. Sem ele, desaparece o único acordo climático internacional que existe. A decisão tem dia marcado: 9 de dezembro.
É quando termina a CoP-17, o encontro anual que reúne negociadores do mundo todo para discutir um acordo climático internacional, desta vez, na África do Sul.
"O mais importante para Durban é definir o segundo período do Protocolo de Kyoto", diz uma fonte do governo brasileiro. "Se ele não se confirmar, a negociação climática entra em um limbo muito perigoso", prossegue. "Podem ficar só os defeitos de Kyoto e nenhuma de suas qualidades."
A qualidade do Protocolo de Kyoto, no entendimento do governo brasileiro, é que ele acentua a responsabilidade dos países industrializados sobre a mudança climática - um argumento do gênero "a culpa é deles". Boa parte dos gases-estufa que estão na atmosfera e que já causam o aquecimento da Terra foram emitidos há mais de 100 anos pelas nações mais ricas. Foi esse argumento que baseou o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", que está na Convenção do Clima, e diz que todos os países são responsáveis pelo problema, mas de jeito diferente. Por este entendimento, os mais ricos têm que pagar a conta, transferir tecnologias limpas e reduzir suas emissões. Isso ficou acordado pelo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
Por Kyoto, os países industrializados reduziriam suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação a 1990, no período 2008-2012. O Protocolo criou na Europa um mercado de licenças para emitir e créditos de carbono. Surgiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permitia aos países emissores reduzirem suas emissões em algum país em desenvolvimento, investindo em tecnologias limpas e produzindo créditos de carbono.
O Protocolo tem vários problemas. O principal é que os Estados Unidos nunca o aceitaram internamente, o que faz com que a Europa lide sozinha com o ônus do aquecimento. Em tempos de crise econômica, isso pesa mais. O surgimento de economias emergentes - e muito emissoras - como China, Índia e Brasil, não contempladas por Kyoto, é outro ponto de tensão. O Protocolo é modesto demais - 5% de corte está longe de resolver a questão. Hoje Japão, Canadá e Austrália querem as mesmas prerrogativas dos EUA e dos emergentes - abandonar Kyoto e ter apenas compromissos voluntários. "Se Kyoto não tiver continuidade, mata-se a origem da necessidade dos créditos e morre o MDL", diz a fonte do governo. É mais que isso. "Ficará como símbolo do fracasso na questão do clima".
Em Durban, os países em desenvolvimento exigirão, novamente, que os ricos apresentem seus compromissos de cortes nas emissões para depois de 2012. "Sem isso, só haverá uma negociação onde cada um declara o que pode fazer. Todos os países estarão negociando em situação similar, o fato de uns serem ricos não os obrigará a nada."
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
NIÓBIO, METAL ESTRATÉGICO
Por Adriano Benayon
Está em nosso País a quase totalidade das jazidas conhecidas no Planeta do nióbio, minério essencial para as indústrias aeronáutica e aeroespacial, para a indústria nuclear, inclusive armas e seus mísseis. A atual tecnologia faz o nióbio, graças à sua superioridade substituir metais, como molibdênio, vanádio, níquel, cromo, cobre e titânio, em diversas outros setores industriais.
2. Embora a maioria das pessoas nem saiba o que é nióbio ou para que serve, esse mineral mostra emblematicamente, como o País, extremamente rico em recursos naturais, permanece pobre, além de perder, sem volta, esses recursos, e de se estar desindustrializando, sobre tudo nos setores de maior conteúdo tecnológico.
3. A primarização da economia brasileira é fato confirmado até nas estatísticas oficiais. O Brasil está cada vez mais importando produtos de elevado valor agregado e exportando, com pouco ou nenhum valor agregado, seus valiosos recursos naturais.
4. Isso acarreta baixos níveis salariais no País e também a gestação de crises nas contas externas, cujo equilíbrio sempre dependeu de grandes saldos (que agora estão definhando) no balanço das mercadorias, para compensar o déficit crônico nas contas de “serviços” e de “rendas” do Balanço de Pagamento.
5. O que está por acontecer de novo já ocorreu antes, quando a oligarquia financeira mundial atirou o Brasil na crise da dívida externa de 1982/1987. Os prejuízos decorrentes dessa crise foram grandemente acrescidos com o privilegiamento do “serviço da dívida” no Orçamento Federal, instituído por meio de fraude, no texto da Constituição de 1988. Esse “serviço” já acarretou despesa, desde então, de 6 trilhões (sim, trilhões) de reais, com a dívida pública externa e interna, esta derivada daquela.
6. Tudo isso concorreu para agravamento da situação gerada pelo defeito original do modelo: ter, desde 1954, favorecido os investimentos diretos estrangeiros com subsídios e vantagens maiores que os utilizáveis por empresas de capital nacional. Estas foram sendo eliminadas em função da política econômica governamental. As que restaram tornaram-se caudatárias das transnacionais e de interesses situados no exterior. Vê-se, pois, a conexão entre os grandes vetores de empobrecimento e de primarização da economia nacional
7. O niobio é tão indispensável quanto o petróleo para as economias avançadas e provavelmente ainda mais do que ele. Além disso, do lado da oferta, é como se o Brasil pesasse mais do que todos os países da OPEP juntos, pois alguns importantes produtores não fazem parte dela.
Números
8. Cerca de 98% das reservas da Terra estão no Brasil. Delas, pois, depende o consumo mundial do nióbio. A produção, cresceu de 25,8 mil tons. em 1997 para 44,5 mil tons., em 2006. Chegou a quase 82 mil tons. em 2007, caindo para 60,7 mil tons., em 2008, com a depressão econômica (dados do Departamento Nacional de Produção Mineral). Estima-se atualmente 70 mil toneladas/ano. Mas a estatística oficial das exportações brasileiras aponta apenas 515 toneladas do minério bruto, incluindo “nióbio, tântalo ou vanádio e seus concentrados”!
9. Fontes dignas de atenção indicam que o minério de nióbio bruto era comprado no garimpo a 400 reais/quilo, cerca de U$ 255,00/quilo (à taxa de câmbio atual e atualizada a inflação do dólar).
10. Ora, se o Brasil exportasse o minério de nióbio a esse preço, o valor anual seria US$ 15.300.000.000 (quinze bilhões, trezentos milhões de dólares). Se confrontarmos essa cifra com a estatística oficial, ficaremos abismados ao ver que nela consta o total de US$ 16,3 milhões (0,1% daquele valor), e o peso de 515 toneladas ( menos de 1% do consumo mundial). Observadores respeitáveis consideram que o prejuízo pode chegar a US$ 100 bilhões anuais.
11. Mesmo que o nióbio puro seja cotado a somente US$ 180 por quilo, como indica o site chemicool.com, ainda assim, o valor nas exportações brasileiras do minério bruto correspondia a apenas 1/10 disso. O nióbio não é comercializado nem cotado através das bolsas de mercadorias, como a London Metal Exchange, mas, sim, por transações intra-companhias.
12. Há, ademais, um item, ligas de ferro-nióbio, em que o total oficial das exportações alcança US$ 1,6 bilhão, valor mais de 100 vezes superior à da exportação do nióbio e de minérios a ele associados, em bruto. O mais notável é que o nióbio entra com somente 0,1% na composição das ligas de ferro-nióbio. Vê-se, assim, o enorme valor que o nióbio agrega num mero insumo industrial, de valor ínfimo em relação aos produtos finais das indústrias altamente tecnológicas que o usam como matéria-prima.
13. Note-se também que a quantidade oficialmente exportada do ferro-nióbio em 2010 foi 66.947 toneladas. O nióbio entrando com 0,1% implicaria terem saído apenas 67 toneladas de nióbio, fração ínfima da produção mundial quase toda no Brasil e do consumo mundial realizado nas principais potências industriais e militares.
Campanha nacional
14. As discrepâncias e absurdos são enormes e têm de ser elucidados e corrigidos. Para isso, há que expô-los em grande campanha nacional, que leve a acabar não só com o saqueio do nióbio, mas também com a extração descontrolada de metais estratégicos e preciosos, sem qualquer proveito para o País, o qual, ainda por cima, fica com as dívidas aumentadas.
15. O desenvolvimento dessa campanha deverá também fazer o povo entender que a roubalheira dos recursos minerais só poderá cessar se forem substituídas as atuais estruturas de poder.
* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br (esta é uma versão modificada e atualizada do artigo “Nióbio a Preço de Banana”, publicado em A Nova Democracia, nº 74, Ano 9, fevereiro de 2011.)
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Face à crise: quatro princípios e quatro virtudes
Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.
Leonardo Boff
A frase de Einstein goza de plena atualidade: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai superá-la”. É tarde demais para fazer só reformas. Estas não mudam o pensamento. Precisamos partir de outro, fundado em princípios e valores que possam sustentar um novo ensaio civilizatório. Ou então temos que aceitar um caminho que nos leva a um precipício. Os dinossauros já o percorreram.
Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.
O primeiro é o cuidado. É uma relação de não agressão e de amor à Terra e a qualquer outro ser. O cuidado se opõe à dominação que caracterizou o velho paradigma. O cuidado regenera as feridas passadas e evita as futuras. Ele retarda a força irrefreável da entropia e permite que tudo possa viver e perdurar mais. Para os orientais o equivalente ao cuidado é a compaixão; por ela nunca se deixa o outro que sofre abandonado, mas se caminha, se solidariza e se alegra com ele.
O segundo é o respeito. Cada ser possui um valor intrínseco, independetemente de seu uso humano. Expressa alguma potencialidade do universo, tem algo a nos revelar e merece exisitir e viver. O respeito reconhece e acolhe o outro como outro e se propõe a conviver pacificamente com ele. Ético é respeitar ilimitadamene tudo o que existe e vive.
O terceiro é a responsabilidade universal. Por ela, o ser humano e a sociedade se dão conta das consequências benéficas ou funestas de suas ações. Ambos precisam cuidar da qualidade das relações com os outros e com a natureza para que não seja hostil mas amigável à vida. Com os meios de destruição já construidos, a humanidade pode, por falta de responsabilidade, se autoeliminar e danificar a biosfera.
O quarto princípio é a cooperação incondicional. A lei universal da evolução não é a competição com a vitória do mais forte mas a interdependência de todos com todos. Todos cooperam entre si para coevoluir e para assegurar a biodiversidade. Foi pela cooperação de uns com os outros que nossos ancestrais se tornaram humanos. O mercado globalizado se rege pela mais rígida competição, sem espaço para a cooperação. Por isso, campeiam o individualismo e o egoismo que subjazem à crise atual e que impediram até agora qualquer consenso possível face às mudanças climáticas.
Os quatro princípios devem vir acolitados por quatro virtudes, imprescindíveis para a consolidação da nova ordem.
A primeira é a hospitalidade, virtude primacial, segundo Kant, para a república mundial. Todos tem o direito de serem acolhidos o que correspode ao dever de acolher os outros. Esta virtude será fundamental face ao fluxo dos povos e aos milhões de refugiados climáticos que surgirão nos próximos anos. Não deve haver, como há, extra-comunitários.
A segunda é a convivência com os diferentes. A globalização do experimento homem não anula as diferenças culturais com as quais devemos aprender a conviver, a trocar, a nos complementar e a nos enriquecer com os intercâmbios mútuos.
A terceira é a tolerância. Nem todos os valores e costumes culturais são convergentes e de fácil aceitação. Dai impõe-se a tolerância ativa de reconhecer o direito do outro de existir como diferente e garantir-lhe sua plena expressão.
A quarta é a comensalidade. Todos os seres humanos devem ter acesso solidário e suficiente aos meios de vida e à seguridade alimentar. Devem poder sentir-se membros da mesma família que comem e bebem juntos. Mais que a nutrição necessária, trata-se de um rito de confraternização.
Todos os esforços serão em vão se a Rio+20 de 2012 se limitar à discussão apenas de medidas práticas para mitigar o aquecimento global, sem discutir outros princípios e valores que podem gerar um consenso mínimo entre todos e assim conferir sustentabilidade à nossa civilização. Caso contrário, a crise continuará sua corrosão até se transformar num tragédia. Temos meios e ciência para isso. Só nos faltam vontade e amor à vida, à nossa, e a de nossos filhos e netos. Que o Espírito que preside à história, não nos falte.
Leonardo Boff é teólogo e escritor
Leonardo Boff
A frase de Einstein goza de plena atualidade: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai superá-la”. É tarde demais para fazer só reformas. Estas não mudam o pensamento. Precisamos partir de outro, fundado em princípios e valores que possam sustentar um novo ensaio civilizatório. Ou então temos que aceitar um caminho que nos leva a um precipício. Os dinossauros já o percorreram.
Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.
O primeiro é o cuidado. É uma relação de não agressão e de amor à Terra e a qualquer outro ser. O cuidado se opõe à dominação que caracterizou o velho paradigma. O cuidado regenera as feridas passadas e evita as futuras. Ele retarda a força irrefreável da entropia e permite que tudo possa viver e perdurar mais. Para os orientais o equivalente ao cuidado é a compaixão; por ela nunca se deixa o outro que sofre abandonado, mas se caminha, se solidariza e se alegra com ele.
O segundo é o respeito. Cada ser possui um valor intrínseco, independetemente de seu uso humano. Expressa alguma potencialidade do universo, tem algo a nos revelar e merece exisitir e viver. O respeito reconhece e acolhe o outro como outro e se propõe a conviver pacificamente com ele. Ético é respeitar ilimitadamene tudo o que existe e vive.
O terceiro é a responsabilidade universal. Por ela, o ser humano e a sociedade se dão conta das consequências benéficas ou funestas de suas ações. Ambos precisam cuidar da qualidade das relações com os outros e com a natureza para que não seja hostil mas amigável à vida. Com os meios de destruição já construidos, a humanidade pode, por falta de responsabilidade, se autoeliminar e danificar a biosfera.
O quarto princípio é a cooperação incondicional. A lei universal da evolução não é a competição com a vitória do mais forte mas a interdependência de todos com todos. Todos cooperam entre si para coevoluir e para assegurar a biodiversidade. Foi pela cooperação de uns com os outros que nossos ancestrais se tornaram humanos. O mercado globalizado se rege pela mais rígida competição, sem espaço para a cooperação. Por isso, campeiam o individualismo e o egoismo que subjazem à crise atual e que impediram até agora qualquer consenso possível face às mudanças climáticas.
Os quatro princípios devem vir acolitados por quatro virtudes, imprescindíveis para a consolidação da nova ordem.
A primeira é a hospitalidade, virtude primacial, segundo Kant, para a república mundial. Todos tem o direito de serem acolhidos o que correspode ao dever de acolher os outros. Esta virtude será fundamental face ao fluxo dos povos e aos milhões de refugiados climáticos que surgirão nos próximos anos. Não deve haver, como há, extra-comunitários.
A segunda é a convivência com os diferentes. A globalização do experimento homem não anula as diferenças culturais com as quais devemos aprender a conviver, a trocar, a nos complementar e a nos enriquecer com os intercâmbios mútuos.
A terceira é a tolerância. Nem todos os valores e costumes culturais são convergentes e de fácil aceitação. Dai impõe-se a tolerância ativa de reconhecer o direito do outro de existir como diferente e garantir-lhe sua plena expressão.
A quarta é a comensalidade. Todos os seres humanos devem ter acesso solidário e suficiente aos meios de vida e à seguridade alimentar. Devem poder sentir-se membros da mesma família que comem e bebem juntos. Mais que a nutrição necessária, trata-se de um rito de confraternização.
Todos os esforços serão em vão se a Rio+20 de 2012 se limitar à discussão apenas de medidas práticas para mitigar o aquecimento global, sem discutir outros princípios e valores que podem gerar um consenso mínimo entre todos e assim conferir sustentabilidade à nossa civilização. Caso contrário, a crise continuará sua corrosão até se transformar num tragédia. Temos meios e ciência para isso. Só nos faltam vontade e amor à vida, à nossa, e a de nossos filhos e netos. Que o Espírito que preside à história, não nos falte.
Leonardo Boff é teólogo e escritor
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Desmatamento na Amazônia neste ano já supera o de 2010
FSP 03/08
Dados do Inpe mostram que tendência de queda foi revertida
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
O desmatamento na Amazônia reverteu sua tendência de queda em 2011.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados nesta terça-feira mostram que o acumulado do ano até agora já foi 6% maior que o do ano passado inteiro.
Foram 2.429 km2 de agosto de 2010 a junho deste ano (11 meses), contra 2.295 km2 de agosto de 2009 a julho do ano passado (12 meses).
Ou seja, mesmo que em julho não caia uma só árvore na Amazônia, 2011 já terá batido 2010. Mas a possibilidade de desmatamento zero é remota, já que o mês de seca costuma ter mais devastação.
Em junho, os dados do sistema Deter indicaram um desmatamento de 312,69 km2. É um aumento de 28% em relação ao mesmo mês de 2010.
O ano passado registrou o menor desmate desde que o Inpe começou a série com satélites, em 1988: foram 6.451 km2 medidos pelo Prodes, sistema que dá a taxa oficial.
O Deter é mais rápido que o Prodes, mas, como não detecta pequenas áreas desmatadas, o governo evita usá-lo para cálculo de área. No entanto, o Deter permite estimar a tendência da devastação.
A série de dados do Deter indica que a reversão da tendência de queda do desmatamento começou em março.
Em abril, quando o debate sobre o Código Florestal começou a pegar fogo no Congresso, a devastação medida pelo Deter cresceu 835%.
Segundo o governo, expectativas do setor produtivo em relação à anistia a desmatadores, somadas ao mercado de commodities agrícolas aquecido e a uma lei de zoneamento complacente em Mato Grosso, foram os culpados.
Mas ações do próprio governo também estão se mostrando corresponsáveis pelo aumento no desmate. Entre os municípios mais desmatados em junho estão Porto Velho (RO) e Altamira (PA), o que pode refletir impactos de novas hidrelétricas na região.
O diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do ministério, Mauro Pires, reconhece a reversão, mas diz que as ações de fiscalização do governo no Pará e em Mato Grosso após o pico de desmatamento de abril estão surtindo efeito.
Dados do Inpe mostram que tendência de queda foi revertida
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
O desmatamento na Amazônia reverteu sua tendência de queda em 2011.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados nesta terça-feira mostram que o acumulado do ano até agora já foi 6% maior que o do ano passado inteiro.
Foram 2.429 km2 de agosto de 2010 a junho deste ano (11 meses), contra 2.295 km2 de agosto de 2009 a julho do ano passado (12 meses).
Ou seja, mesmo que em julho não caia uma só árvore na Amazônia, 2011 já terá batido 2010. Mas a possibilidade de desmatamento zero é remota, já que o mês de seca costuma ter mais devastação.
Em junho, os dados do sistema Deter indicaram um desmatamento de 312,69 km2. É um aumento de 28% em relação ao mesmo mês de 2010.
O ano passado registrou o menor desmate desde que o Inpe começou a série com satélites, em 1988: foram 6.451 km2 medidos pelo Prodes, sistema que dá a taxa oficial.
O Deter é mais rápido que o Prodes, mas, como não detecta pequenas áreas desmatadas, o governo evita usá-lo para cálculo de área. No entanto, o Deter permite estimar a tendência da devastação.
A série de dados do Deter indica que a reversão da tendência de queda do desmatamento começou em março.
Em abril, quando o debate sobre o Código Florestal começou a pegar fogo no Congresso, a devastação medida pelo Deter cresceu 835%.
Segundo o governo, expectativas do setor produtivo em relação à anistia a desmatadores, somadas ao mercado de commodities agrícolas aquecido e a uma lei de zoneamento complacente em Mato Grosso, foram os culpados.
Mas ações do próprio governo também estão se mostrando corresponsáveis pelo aumento no desmate. Entre os municípios mais desmatados em junho estão Porto Velho (RO) e Altamira (PA), o que pode refletir impactos de novas hidrelétricas na região.
O diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do ministério, Mauro Pires, reconhece a reversão, mas diz que as ações de fiscalização do governo no Pará e em Mato Grosso após o pico de desmatamento de abril estão surtindo efeito.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Japão mostra que é possível viver sem tanta eletricidade
Peter Landers The Wall Street Journal, de Tóquio
01/08/2011
Quando o tsunami de 11 de março tirou de operação mais da metade das usinas nucleares que alimentam a região metropolitana de Tóquio, isso gerou uma das maiores experiências não planejadas já realizadas numa sociedade moderna: será que uma metrópole de 30 milhões de pessoas consegue funcionar depois de perder cerca de um quinto de seu suprimento elétrico?
Depois de um julho calorento no Japão, repleto de dias acima de 32 graus centígrados, a resposta preliminar já está disponível e ela é sim. Não apenas a Tokyo Electric Power Co. tem mantido as luzes acesas o verão inteiro até agora, como teve tanta capacidade extra na maioria dos dias que também poderia abastecer a cidade de Nova York.
O impacto econômico que muitos temiam que viria com os apagões não aconteceu. As bolsas japonesas se recuperaram para praticamente o nível de antes do terremoto, a economia voltou a crescer e algumas empresas foram até revigoradas pela demanda por produtos com consumo menor de eletricidade.
Poupar eletricidade se tornou uma religião nacional. Com muitos aparelhos de ar condicionado limitados a 27 graus centígrados, os empresários abandonaram os ternos habituais em favor de camisas de manga curta incentivadas pela campanha governamental "Super Cool Biz". As montadoras têm sido forçadas a operar nos finais de semana para não sugar eletricidade demais nos horários de pico durante a semana.
O consumo máximo de eletricidade da região de Tóquio tem sido 23% menor neste verão que no do ano passado.
O declínio do consumo elétrico está enfraquecendo o compromisso japonês de décadas com a energia nuclear, que até este ano fornecia quase 30% da eletricidade do país. Se o país conseguir passar pelas últimas semanas de verão com o suprimento elétrico reduzido, o acidente com a usina Fukushima Daiichi provavelmente vai transformar a política energética do Japão. Isso terá consequências mundiais, já que muitos países estão repensando a energia nuclear diante do pior desastre radioativo desde Chernobyl, em 1986.
Há uma sensação crescente de que o Japão vai depender cada vez menos das usinas nucleares e pode desligá-las inteiramente um dia, dizem políticos e muitos empresários. A Alemanha e a Suíça já anunciaram seus planos para fechar as usinas, enquanto os líderes dos Estados Unidos e da França, os dois países que mais usam energia nuclear, dizem que planejam manter seus reatores em funcionamento.
"No médio e longo prazo é desejável progredir para diminuir a energia nuclear com o fechamento de nossos reatores mais antigos e o incentivo a fontes renováveis", afirmou a Associação de Executivos do Japão num comunicado após sua reunião de julho.
Há quem queira ainda mais. "Acho que é melhor nem ter energia nuclear", disse Hiroshi Mikitani, o bilionário de 46 anos que comanda a empresa de comércio eletrônico Rakuten Inc., e também um dos maiores expoentes de uma nova geração de executivos japoneses. Mikitani disse que não é a favor de fechar todas as usinas nucleares de vez, mas que os acontecimentos do verão abalaram a confiança que os japoneses tinham na indústria nuclear.
O sucesso do Japão em evitar um apagão se deve tanto à oferta maior quanto à demanda menor. A Tokyo Electric Power, conhecida como Tepco, correu para reativar velhas termelétricas a gás e a carvão, interrompendo rapidamente os apagões programados que Tóquio enfrentou nos primeiros dias depois do terremoto. Enquanto isso, a campanha para poupar eletricidade reduziu em 10.000 megawatts a demanda da região de Tóquio nos horários de pico de vários dias.
Essas medidas têm suas desvantagens. As termelétricas emitem mais gases do efeito estufa e o Japão precisa importar o combustível para elas. Isso encarece o custo da eletricidade, embora a alta do iene diminua esse fardo.
E alguns idosos estão exagerando na economia de eletricidade e se arriscam a ter problemas de saúde associados ao excesso de calor. No Palácio Imperial, o imperador e a imperatriz, ambos quase com 80 anos, chegaram a usar apenas velas e lanternas à noite, segundo um porta-voz do palácio. Ambulâncias trouxeram 22.418 pessoas com problemas médicos ligados ao calor para os hospitais até 24 de julho, segundo a Agência de Gerenciamento de Incêndios e Desastres do Japão. Quase metade era de idosos e 43 pessoas morreram. O número de pacientes sofrendo com o calor é mais de 50% maior que o do ano passado, mas o total de mortes é um terço menor.
Os executivos das empresas de eletricidade e alguns líderes empresariais dizem que o esforço para poupar eletricidade, obrigatório para as grandes empresas na região de Tóquio, atrapalha a produção a gera incerteza. "Acho que é uma conclusão apressada dizer que não precisamos de usinas nucleares porque temos eletricidade suficiente", disse ao Wall Street Journal Zengo Aizawa, vice-presidente executivo da Tepco e um dos principais executivos do setor nuclear do país. "O Japão é um país que vive de produzir coisas, e a produção está sofrendo muito com isso."
Mesmo assim, para um corte tão grande no consumo de eletricidade, o prejuízo à economia parece relativamente pequeno.
O vice-presidente do banco central japonês, o Banco do Japão, Hirohide Yamaguchi, disse em 20 de julho que a escassez de eletricidade "não deve restringir a atividade econômica até o ponto que se esperava antes", e o BC prevê uma recuperação moderada nos próximos meses e crescimento de 2,9% ano que vem. A capital japonesa está funcionando praticamente como de costume, com filas nas lojas de eletrônicos e trens lotados para as áreas de recreação.
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01/08/2011
Quando o tsunami de 11 de março tirou de operação mais da metade das usinas nucleares que alimentam a região metropolitana de Tóquio, isso gerou uma das maiores experiências não planejadas já realizadas numa sociedade moderna: será que uma metrópole de 30 milhões de pessoas consegue funcionar depois de perder cerca de um quinto de seu suprimento elétrico?
Depois de um julho calorento no Japão, repleto de dias acima de 32 graus centígrados, a resposta preliminar já está disponível e ela é sim. Não apenas a Tokyo Electric Power Co. tem mantido as luzes acesas o verão inteiro até agora, como teve tanta capacidade extra na maioria dos dias que também poderia abastecer a cidade de Nova York.
O impacto econômico que muitos temiam que viria com os apagões não aconteceu. As bolsas japonesas se recuperaram para praticamente o nível de antes do terremoto, a economia voltou a crescer e algumas empresas foram até revigoradas pela demanda por produtos com consumo menor de eletricidade.
Poupar eletricidade se tornou uma religião nacional. Com muitos aparelhos de ar condicionado limitados a 27 graus centígrados, os empresários abandonaram os ternos habituais em favor de camisas de manga curta incentivadas pela campanha governamental "Super Cool Biz". As montadoras têm sido forçadas a operar nos finais de semana para não sugar eletricidade demais nos horários de pico durante a semana.
O consumo máximo de eletricidade da região de Tóquio tem sido 23% menor neste verão que no do ano passado.
O declínio do consumo elétrico está enfraquecendo o compromisso japonês de décadas com a energia nuclear, que até este ano fornecia quase 30% da eletricidade do país. Se o país conseguir passar pelas últimas semanas de verão com o suprimento elétrico reduzido, o acidente com a usina Fukushima Daiichi provavelmente vai transformar a política energética do Japão. Isso terá consequências mundiais, já que muitos países estão repensando a energia nuclear diante do pior desastre radioativo desde Chernobyl, em 1986.
Há uma sensação crescente de que o Japão vai depender cada vez menos das usinas nucleares e pode desligá-las inteiramente um dia, dizem políticos e muitos empresários. A Alemanha e a Suíça já anunciaram seus planos para fechar as usinas, enquanto os líderes dos Estados Unidos e da França, os dois países que mais usam energia nuclear, dizem que planejam manter seus reatores em funcionamento.
"No médio e longo prazo é desejável progredir para diminuir a energia nuclear com o fechamento de nossos reatores mais antigos e o incentivo a fontes renováveis", afirmou a Associação de Executivos do Japão num comunicado após sua reunião de julho.
Há quem queira ainda mais. "Acho que é melhor nem ter energia nuclear", disse Hiroshi Mikitani, o bilionário de 46 anos que comanda a empresa de comércio eletrônico Rakuten Inc., e também um dos maiores expoentes de uma nova geração de executivos japoneses. Mikitani disse que não é a favor de fechar todas as usinas nucleares de vez, mas que os acontecimentos do verão abalaram a confiança que os japoneses tinham na indústria nuclear.
O sucesso do Japão em evitar um apagão se deve tanto à oferta maior quanto à demanda menor. A Tokyo Electric Power, conhecida como Tepco, correu para reativar velhas termelétricas a gás e a carvão, interrompendo rapidamente os apagões programados que Tóquio enfrentou nos primeiros dias depois do terremoto. Enquanto isso, a campanha para poupar eletricidade reduziu em 10.000 megawatts a demanda da região de Tóquio nos horários de pico de vários dias.
Essas medidas têm suas desvantagens. As termelétricas emitem mais gases do efeito estufa e o Japão precisa importar o combustível para elas. Isso encarece o custo da eletricidade, embora a alta do iene diminua esse fardo.
E alguns idosos estão exagerando na economia de eletricidade e se arriscam a ter problemas de saúde associados ao excesso de calor. No Palácio Imperial, o imperador e a imperatriz, ambos quase com 80 anos, chegaram a usar apenas velas e lanternas à noite, segundo um porta-voz do palácio. Ambulâncias trouxeram 22.418 pessoas com problemas médicos ligados ao calor para os hospitais até 24 de julho, segundo a Agência de Gerenciamento de Incêndios e Desastres do Japão. Quase metade era de idosos e 43 pessoas morreram. O número de pacientes sofrendo com o calor é mais de 50% maior que o do ano passado, mas o total de mortes é um terço menor.
Os executivos das empresas de eletricidade e alguns líderes empresariais dizem que o esforço para poupar eletricidade, obrigatório para as grandes empresas na região de Tóquio, atrapalha a produção a gera incerteza. "Acho que é uma conclusão apressada dizer que não precisamos de usinas nucleares porque temos eletricidade suficiente", disse ao Wall Street Journal Zengo Aizawa, vice-presidente executivo da Tepco e um dos principais executivos do setor nuclear do país. "O Japão é um país que vive de produzir coisas, e a produção está sofrendo muito com isso."
Mesmo assim, para um corte tão grande no consumo de eletricidade, o prejuízo à economia parece relativamente pequeno.
O vice-presidente do banco central japonês, o Banco do Japão, Hirohide Yamaguchi, disse em 20 de julho que a escassez de eletricidade "não deve restringir a atividade econômica até o ponto que se esperava antes", e o BC prevê uma recuperação moderada nos próximos meses e crescimento de 2,9% ano que vem. A capital japonesa está funcionando praticamente como de costume, com filas nas lojas de eletrônicos e trens lotados para as áreas de recreação.
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