O Banco Mundial acaba de se tornar mais um motivador de peso para a inovação colaborativa (crowdsourcing innovation). Está conclamando desenvolvedores, profissionais ou amadores, a criar novas funcionalidades com seu gigantesco banco de dados que reúne informações sobre pobreza, desigualdade, meio ambiente e outros temas relativos ao desafio do desenvolvimento.
A ideia do concurso Apps for Development é criar aplicativos e ferramentas que ajudem servidores públicos, pesquisadores e ONGs a medir o sucesso de suas ações de maneira mais precisa e a desenvolver novas soluções.
A única restrição é que os projetos se dediquem a pelo menos um dos oito objetivos do milênio. As inscrições ficam abertas até o dia 11 de janeiro, em todo o mundo, e serão aceitos softwares para computadores pessoais, celulares, tablets e smartphones.
Aqui, você pode navegar no banco de dados do Banco Mundial, integralmente aberto para consulta desde abril. Mais informações sobre o concurso no site do banco e no vídeo ao lado.
Link:
http://pagina22.com.br/index.php/2010/10/um-aplicativo-para-mudar-o-mundo/
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Ceticismo contra os céticos do aquecimento global
Aos céticos, o ceticismo da ciência.
O site Skeptical Science buscou respostas a uma série de mais de 100 argumentos defendidos por céticos das mudanças climáticas. O portal contrasta ponto a ponto a partir de contra-argumentos baseados em pesquisas e publicações acadêmicas, procurando desmistificar as explicações, algumas até já bastante conhecidas, dos que não acreditam que a ação humana tenha influência sobre o aquecimento do planeta.
O primeiro ponto só poderia ser o velho argumento de que a atividade solar seria a verdadeira responsável pelo aumento das temperaturas. Segundo o site, a tese pode ser descartada porque, nos últimos 35 anos de aquecimento, o sol não intensificou sua atividade, mas, pelo contrário, apresentou tendência de queda.
O site ainda fornece mais de dez referências de estudos publicados contrariando a tese.
E o papel do CO2 na variação de temperatura? Para os céticos, a temperatura muda desde que o mundo é mundo e o dióxido de carbono não teria influência determinante sobre isso. Trata-se apenas de um processo “natural” e, afinal, se a atividade do sol está diminuindo, como mostram os chatos do clima, o CO2 até
que seria interessante na “neutralização” desses efeitos.
O Skeptical Science, no entanto, mostra que, apesar de a Terra sempre ter convivido com essas mudanças, uma série de estudos indica que os efeitos do CO2 se sobrepõem a qualquer fenômeno natural e esperado, como uma era glacial ou possíveis modificações no eixo da Terra. E não, o CO2, não poderia ser um “neutralizador” da diminuição da atividade do sol, pois, enquanto a tendência de
resfriamento poderia causar uma diminuição entre 0,1 °C e 0,3 °C, o aquecimento por gases estufa poderia ultrapassar os 4°C, dependendo, é claro, das emissões durante o século XXI.
Àqueles que duvidam de todos esses argumentos de alerta, o site afirma que 97% dos climatologistas que ativamente publicam estudos no mundo, incluindo as academias de ciências de 19 países, endossam a posição sobre a ação antrópica.
O Skeptical Science é mantido pelo físico australiano John Cook – que revela não ser climatologista – e é financiado por ele próprio, sem participação de qualquer organização ou grupo político. Toda a base dos contra-argumentos provém de revistas científicas oficiais.
Confira todos os pontos aqui - http://www.skepticalscience.com/argument.php (versão completa em inglês).
Acesse também o blog
do Skeptical Science - http://www.skepticalscience.com/.
http://pagina22.com.br/index.php/2010/09/ceticismo-contra-os-ceticos-do-aquecimento-global/
O site Skeptical Science buscou respostas a uma série de mais de 100 argumentos defendidos por céticos das mudanças climáticas. O portal contrasta ponto a ponto a partir de contra-argumentos baseados em pesquisas e publicações acadêmicas, procurando desmistificar as explicações, algumas até já bastante conhecidas, dos que não acreditam que a ação humana tenha influência sobre o aquecimento do planeta.
O primeiro ponto só poderia ser o velho argumento de que a atividade solar seria a verdadeira responsável pelo aumento das temperaturas. Segundo o site, a tese pode ser descartada porque, nos últimos 35 anos de aquecimento, o sol não intensificou sua atividade, mas, pelo contrário, apresentou tendência de queda.
O site ainda fornece mais de dez referências de estudos publicados contrariando a tese.
E o papel do CO2 na variação de temperatura? Para os céticos, a temperatura muda desde que o mundo é mundo e o dióxido de carbono não teria influência determinante sobre isso. Trata-se apenas de um processo “natural” e, afinal, se a atividade do sol está diminuindo, como mostram os chatos do clima, o CO2 até
que seria interessante na “neutralização” desses efeitos.
O Skeptical Science, no entanto, mostra que, apesar de a Terra sempre ter convivido com essas mudanças, uma série de estudos indica que os efeitos do CO2 se sobrepõem a qualquer fenômeno natural e esperado, como uma era glacial ou possíveis modificações no eixo da Terra. E não, o CO2, não poderia ser um “neutralizador” da diminuição da atividade do sol, pois, enquanto a tendência de
resfriamento poderia causar uma diminuição entre 0,1 °C e 0,3 °C, o aquecimento por gases estufa poderia ultrapassar os 4°C, dependendo, é claro, das emissões durante o século XXI.
Àqueles que duvidam de todos esses argumentos de alerta, o site afirma que 97% dos climatologistas que ativamente publicam estudos no mundo, incluindo as academias de ciências de 19 países, endossam a posição sobre a ação antrópica.
O Skeptical Science é mantido pelo físico australiano John Cook – que revela não ser climatologista – e é financiado por ele próprio, sem participação de qualquer organização ou grupo político. Toda a base dos contra-argumentos provém de revistas científicas oficiais.
Confira todos os pontos aqui - http://www.skepticalscience.com/argument.php (versão completa em inglês).
Acesse também o blog
do Skeptical Science - http://www.skepticalscience.com/.
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quarta-feira, 14 de julho de 2010
Sobre o Ato de Comer Carne
Coletânea das opiniões sobre o assunto...
A defesa, ( que aprovo e assino embaixo também ), do banimento da crueldade seria por questões sentimentais, morais e de coerência.. Morais porque o ser humano definiu a vida como bem máximo e coerência porque seria hipocrisia defender a integridade da vida somente se a sua própria estiver em ameaça perante ladrões ou ditadores, omitindo-se quando não é o caso. Além disto não há motivos para isentar formas não humanas de vida desta equação moral.. Agora, parece que os motivos acima não bastam, criando-se a falsa necessidade de justificá-los com argumentos racionais..
Tal empreitada no entanto esbarra em aspectos biológicos e no fim das contas são desnecessários pondo a causa numa situação frágil: há pessoas que acham que ao refutar algum argumento racional “pró-qualquer-causa” estariam provando que a causa é injusta.. O que não é o caso: ao refutar algum argumento vc refuta somente AQUELE argumento, não a causa em si.. É desnecessário racionalizar os motivos acima pois “civilizar” é "moralizar": é estabelecer fronteiras morais.. Logo, a causa moral é sim suficiente para justificá-la pelo homem ser um ente com compromisso social: se somente as regras naturais valessem não teríamos antibióticos, controle da natalidade ou hospitais..
Argumentos racionais para a dieta vegetariana esbarram em um fato biológico: ser humano é onívoro como seus primos chimpanzés.. Se partirmos da "teleologia" alimentar: substâncias biológicas "planejadas" pela seleção natural para serem comidas seriam os únicos alimentos legítimos.. A dieta seria muito restrita para um ser humano, limitando-se em trufas (fungo), frutas, mel e leite; Trufas por serem cogumelos subterrâneos que ocorrem em climas temperados que devido as dificuldades do clima em propagar os esporos através do "chapéu" externo teriam desenvolvido a estratégia de crescerem em nódulos subterrâneos nutritivos e com aroma para atrair animais escavadores que espalhariam os esporos.. Fruta pela mesma estratégia para espalhar sementes.. Mel por ser derivado do néctar, usado para atrair polinizadores e leite é uma substancia secretada pelos mamíferos para nutrir proles.. Somente estas substancias seriam “feitas para algo ou alguém” comer.. A ingestão das demais substancias seria basicamente comer parte ou todo o outro ser: vegetal ou animal.. Quanto ao cozimento citado como estratégia para viabilizar o consumo de carne.. o uso do fogo para preparar alimentos provocou sim uma adaptação da dieta humana tanto para consumo de carnes que ele não consumiria como para diversas partes de vegetais.. Os vegetais para “não serem comidos” enriquecem as suas partes ou com toxinas ou substancias difíceis de digerir.. O ser humano na cocção supera esta barreira, os grãos, por exemplo, têm cascas e fibras.. O ser humano cozinha, pré digerindo o alimento difícil: O arroz consumido cru, provavelmente seria indigesto.. A rigor não serviria para consumo humano.. Sob o aspecto anatômico, o aparelho digestivo de herbívoros são melhores adaptados para digerir fibras e celulose do que o humano, eis que muitos deles são ruminantes e tem ceco (porção do intestino) bem maior para a digestão bacteriana.. Dentro dos grandes primatas, o vegetariano restrito seria o gorila,se compararmos o homem com o gorila, ele tem mandíbulas fortes, e um grande abdome para digerir as fibras.. No homem o ceco é maior do que os carnívoros e bem menor do que os herbívoros indicando que seus ancestrais alimentavam-se de ambas as fontes, provavelmente frutas e tubérculos com algumas caças pequenas eventuais..
Há também enzimas no intestino humano adaptadas para romper o açúcar contido na camada externas dos insetos e outros artrópodes.. indicando dieta rica em insetos ou crustáceos dos nossos ancestrais e finalmente, há a suspeita de que comiam tutano dos ossos das carniças de animais abatidos, pelo cérebro humano maior exigir boa dose de energia cuja fonte suspeita-se que eram os tutanos dos ossos, que são bem preservados depois que leões e hienas já devoraram as partes moles (os humanos primitivos não eram páreo para competir com todos estes, correndo o risco de virar sobremesa se ousasse a tanto..)..
Quanto a comparar a anatomia humana com carnívoros noturnos e melhor especializados, não procede.. A rotina noturna não é típica: há carnívoro diurnos como a águia.. e leões caçam de dia.. A águia utiliza-se da surpresa e da capacidade obtida pelo vôo enquanto os leões fazem emboscadas pelo ataque em equipe.. Outros caçadores diurnos usam a camuflagem, como o tigre.. A noite é preferida pelos carnívoros menores pela surpresa e de ser o horário do sono para muitas presas, utilizando-se da noite como camuflagem natural.. Quanto a sensibilidade humana com animais ou bebês como prova de docilidade e inadequação para caça, leoas são meigas com filhotes, acho que isto é derivado de nossa característica compartilhada com outros mamíferos.. Mamíferos cuidam de proles e este cuidado é essencial para sua sobrevivência (mamífero: mamas ==> leite)..
Provavelmente os cérebros de mamíferos são derivações disto: um filhote para ser amamentado deve ter cuidados maternais.. A estratégia dos filhotes mamíferos é induzir a mãe mamífero com sentimento de desamparo, enquanto a resposta materna é a adoção dos filhotes.. Quanto aos machos: a tendência é de serem competitivos e de só adotarem os seus filhotes e em algumas espécies.. No entanto, como na espécie humana a infância é longa, o cuidado da prole exige muito da mãe.. Provavelmente a tendência evolutiva no homem foi na direção da colaboração para a manutenção da prole e uma certa escolha das fêmeas em escolher machos que ajudem a cuidar (ou que cuidem de vez da prole), então, a escolha foi sobre machos mais negociáveis sendo um dos fatores de divergência do chimpanzé, que é ultra violento formando verdadeiras gangues, chegando a matar filhotes para alcançar os seus fins reprodutivos..
Unté. Nildson
Ora,
mas esses sentimentos de amizade, confiança, são justamente as características de quase todos os tipos de mamíferos sociais, sobretudo os carnívoros, que precisam de relações de confiança para poderem realizar a
caça em grupos. Aliás, somos o que somos graças aos nossos antepassados caçadores. Não fossem eles, estaríamos até hoje dependurados nas árvores.
Não e´de se espantar que os animais que mais tenham se tornado amigos do homem sejam os lobos, transformados pela seleção
genética nos cachorros de hoje em dia. Um cachorro é justamente um carnívoro que "aprende" que o homem
(e, nas áreas rurais, o próprio rebanho) faz parte de sua matilha. Ele não devorar a ovelha porque a acha "amiga"
(e até arriscar sua vida para defendê-la) não faz dele um herbívoro.
marcelo.nuno
Não sou biólogo, mas se não estou enganado tanto o Homo Sapiens quanto o Canis Lupus Familiaris são classificados pela Biologia como sendo espécies onívoras. Logo, são capazes de consumir tanto produtos vegetais quanto animas. O importante é que a dieta forneça os todos os nutrientes necessários à uma vida saudável.
Quanto à filosofia do Veganismo, notei que o artigo que deu início à discussão é de um pedagogo com graduação em ciências sociais que também faz referência à textos de pessoas de outras áreas de conhecimento como a filosofia. Também seria interessante conhecer a opinião de biólogos, economistas, químicos, nutricionistas, engenheiros e agrônomos sobre se é possível e qual seria o impacto da substituição em grande escala dos insumos animais por insumos vegetais e sintéticos (na maioria das vezes derivados de petróleo) na vida moderna.
Annibal
Caro Annibal,
não é preciso ser biólogo, economista, etc.etc. para ter sensibilidade, inteligência, raciocínio e julgamento críticos.E principalmente, concluir que vc não tem o direito de tirar uma vida, de maneira cruel e covarde, para satisfazer seu prazer. Prazer, sim, pois a carne não é essencial na sua dieta alimentar. Se vc fizer uma pesquisa rápida na internet vai encontrar "n" sites de vegetarianos, vegans, opiniões e artigos prós e contras.... Daí vc raciocina, reflete, e tira suas conclusões, forma opinião sobre o assunto. É a melhor maneira, ler, pesquisar, se informar, meditar e assumir sua posição. Pró ou contra. Sou a favor dos animais. E não desisto dessa bandeira.
Abraço,
Aurora
Cara Aurora,
Discordo. Seria muito interessante conhecer estudos destas áreas de conhecimento humano. Sensibilidade, raciocínio e julgamento crítico de um único indivíduo com conhecimentos limitados em um determinada área não são suficientes para saber qual seria o impacto da substituição completa dos produtos animais na vida moderna. Veja que estou falando de PRODUTOS ANIMAIS e não de CARNE. Por exemplo, qual o produto que pode substituir o
sebo bovino para a fabricação de lápis, explosivos, tintas, sabão, detergentes e velas? E qual pode substituir o couro bovino para a fabricação da gelatina neutra, capsulas de medicamentos, cola, filmes fotográficos, fósforos e cosméticos? E da bílis bovina para a fabricação de remédios digestivos, pomadas e reagentes para pesquisa? E das tripas para a fabricação de fios cirúrgicos? Nunca encontrei nos “n” sites de vegetarianos respostas para estas questões simples (será que falta um químico para esclarecer?). Questões complicadas então, muito menos. Por exemplo, que cultura agrícola seria capaz de fornecer as todas as proteínas necessárias à humanidade e qual o impacto desta mudança no planeta em termos de clima, biodiversidade, economia, relações sociais? Haveria solo fértil suficiente no planeta? Como seria feita a correção do solo? Com mais fertilizantes à base de petróleo? Qual o impacto ecológico do enorme aumento de produção de fertilizantes e agrotóxicos? Seria a engenharia genética a solução? Muito advogam que produtos geneticamente modificados podem ser prejudiciais à humanidade. Será que consigo encontra estas respostas nos “n” sites de vegetarianismo?
Enfim, embora seja radicalmente contra o mau trato de animais, não imagino a vida moderna sem os produtos que eles fornecem. Inclusive, nunca soube de um vegetariano que fosse capaz de evitar todos os produtos que relacionei acima.
Abraço,
Annibal
Annibal, meu caro,
isso é questão de direcionamento, eu acho. Desde sempre nos acostumamos a ver o animal como uma "coisa" a ser usada. Todas as pesquisas levaram em consideração essa idéia, o animal é para ser usado, a vida, o sofrimento dele não importa. Aí, deu no que deu. Essa dependência enorme de insumo animal no nosso dia a dia. A partir de uma conscientização de que a coisa não é bem assim, que devemos respeitá-lo como um irmão não-humano, poderiamos começar uma mudança.
Todos sabem do impacto negativo da pecuária no meio ambiente. E ela continua. Estimulada. Claro, rende dinheiro, muito dinheiro. A vida do animal, ora, não importa.
Os insumos bovinos a que vc se refere são subprodutos da carne, que tiveram a destinação prevista para evitar o desperdício. Certo. Não se muda isso do dia pra noite.
Mas vamos supor que diminuisse o consumo de carne, pela conscientização em massa da população. Ainda assim, por muito tempo, os insumos, subprodutos, continuariam a existir para a indústria. Enquanto isso, pesquisas seriam direcionadas para a substituição paulatina do insumo animal pelo vegetal, por exemplo.
Hoje existe até "couro vegetal", como já coloquei na rede anteriormente. Por que não o resto? Quanto à proteínas, sou vegetariana há vários anos já. Regularmente faço exames (solicitados pelos médicos) para acompanhamento inclusive do nível de proteínas. Não é alto, mas está dentro do que chamam hoje de normalidade.
Annibal, não quero dizer aqui que sou a dona da verdade. Apenas expresso meu ponto de vista. E estou convencida de que não é preciso abater o animal para meu prazer degustativo. Não necessito realmente da carne para viver. Não me omito frente à covardia, crueldade que nós, humanos "racionais" infligimos aos animais.
Quase ia me esquecendo: os produtos denominados "orgânicos", sem agrotóxicos, tem ocupado cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados. Os fertilizantes usados são naturais, conforme apregoam os produtores. E a correção do solo, não sou agrônoma- vale dizer, é mineral.
Mas acho muito interessante questionamentos como os seus. Mesmo porque ninguém é dono da verdade e somente a partir de questionamentos é que a inteligência e o conhecimento se expandem.
Abraço,
Aurora
Ué! E os vegetais também não têm direito à vida? Segundo os estudiosos eles, também, têm sentimentos só que nós não percebemos. Dizem, inclusive, que um vegetal emite sinais quando estão sendo abatidos que são ‘sentidos’ pelos outros vegetais próximos. E aí, como ficamos? Vamos deixar de nos alimentar? Quanto aos animais eu os respeito e muito mas, não é por isto que vou deixar de abatê-los para me alimentar. Quanto às minhas netas, elas vêem sim. Da mesma forma que as ensino a cultivar um vegetal, também as ensino a criar animais para a nossa alimentação. É como você disse: tudo é uma questão de ponto de vista.
João eustáquio de Lima
Bem que gostaria que vegetais tivessem sentimentos, mas não há provas científicas que tenham algum sistema nervoso para produzir isto que chamamos “sentimentos”..
Experiências que “demonstraram” isto eram tendenciosas..
Mas e a reação das violetas com o bom trato do jardineiro ?? Efeito placebo..
Claro, não vamos discutir o lado moral de ser justificável matar algo por não ter “sentimentos” ou qualquer outra capacidade mental humana, daí esbarramos nos casos de seres humanos com cérebros danificados.. mas deixemos isto para lá..
“Sentimento” é um produto do cérebro, que por sua vez é produto da evolução do sistema nervoso..
Sistema nervoso é uma “invenção” dos animais, pois estes tem que processar informação de uma maneira rápida e decidir eficientemente para sobreviver..
Os animais são predadores: são ladrões que roubam matéria prima de outros seres vivos: animais ou vegetais.. Somos descendentes de Caim..
Para achar matéria prima o animal tem que processar informação: isto é venenoso, isto não é.. se a matéria prima está numa presa que foge, deve surpreende-la: mais informação rápida para processamento mais complexo: como capturar o alimento ?? e além disto, por causa da corrida armamentista do Cambriano, tem que prevenir-se para não virar comida: aquilo é um predador que vai me devorar: fuja ou defenda-se..
Por outro lado vegetais e fungos tem uma estratégia diferente, os primeiros têm sua energia do sol e matéria prima do solo, a reação contra os herbívoros é crescer, se defender com toxinas ou substancias que dificultam a digestão, e se multiplicar além da capacidade dos herbívoros de extingui-los.. Nesta estratégica o fluxo de informações é mais baixo podendo ser sanado com a “reação vegetativa”: cresça para o alto se comem as folhas de baixo ou produza armas químicas... Os fungos conseguem a energia e a matéria prima do substrato onde cresce: idem..
Portanto o animal mais simples em relação ao sistema nervoso processa mais informação que o vegetal mais complexo por simples questão de necessidade..
Então não será surpresa se noutro planeta que porventura tenha vida, se houver mentes que produzem máquinas, elas serão produzidas por predadores no topo da cadeia alimentar naquele planeta.. Difícil que a trajetória evolucionária obrigue a construção de cérebros em vegetais em algum lugar do Universo..
Att
Nildson
Eu já li, há muito tempo, histórias de pessoas que deram uma dieta vegetariana para um leão.
E isso não faz com que eles, ou os cachorros, deixem de ser carnívoros.
Mas eu também sou a favor da vida: sou contrário ao aborto. Muitos vegetarianos (sobretudo nos EUA) se preocupam tanto com o sofrimento de um camarão, mas acham que tirar a vida de um feto é um direito da mulher.
Vá entender.
marcelo.Nuno
Caro Marcelo,
temos 6 cachorros. Que comem ração, legumes, frutas. Não lhes fornecemos carne de nenhum animal. Mas eles continuam caçadores e cuidam do seu território. Só que não comem carne. Existem muitos por aí que não comem carne não pq os donos são vegetarianos, mas por que seus donos não podem comprar carne para eles. Assim, se habituam a não comer carne. E vão muito bem, obrigado. Por isso não os considero carnívoros, pois podemos substituir a carne por outros alimentos e eles vivem muito bem sem ela. Hábitos. Somente o hábito nos faz comer carne. Hábito e "dessenssibilização" quanto ao sofrimento que se infringe ao animal para termos sua carne à mesa. A pecuária é um grande negócio. Uma coisa cultural, geradora de lucro, desumana. E danosa ao meio ambiente. Mas, cada um vê conforme quer.
Eu defendo a minha visão. Pelos animais. Pelo direito à vida.
Aurora
Toda ração premium e superpremium contém vísceras e carne de outros animais, principalmente de frangos e suínos. A recomendação para não oferecê-la a ruminantes, presente em quase todas as embalagens, é para prevenir o mal da vaca louca, cujo príon está presente no encéfalo dos animais contaminados. Sinal de que também podem fazer parte da composição, acidentalmente ou nem tanto assim.
E essa é uma indústria que movimenta bilhões a cada ano, sem nenhuma indicação de que venha a se retrair em breve. A menos que os humanos parem de ter animais de estimação.
É legal que façamos a nossa parte, mas somos mais vítimas do sistema do que queremos acreditar, e acabamos, mesmo indiretamente, mesmo involuntariamente, contribuindo para o mal que combatemos.
Abraços,
Jussara
Repassando:
A frescura dos brasileiros diante da comida
Matéria de Luiza Fecarotta na Folha de hoje -- "Guia dos Curiosos" -- mostra comidas estranhas ou curiosas, de queijo de leite materno a café comido e defecado por um tipo de gambá. Sobre a reação que os brasileiros costumam ter a comidas diferentes, escrevi o seguinte comentário, na matéria:
Mais estranho é o fato de estranhá-los
Mais bizarro do que determinadas comidas bizarras é o hábito brasileiro (não só das classes mais abastadas, do povo também) de rejeitar comidas que saiam de um restrito repertório do trivial cotidiano.
Por que só arroz, feijão, macarrão e bife? Por que não coentro (fora da Bahia), jambu (fora da Amazônia), maxixe (fora do Nordeste), ora-pro-nobis (fora de Minas)? E por que não miúdos e partes de animais que não sejam só o filé mignon (ou algum tipo de bife)? E por que não outros animais além dos poucos de sempre?
Bucho, testículos, miolo; e também escorpiões, cobras e lagartos alimentam povos considerados altamente civilizados e ricos. Os franceses, com seus sapos e lesmas, talvez tenham-se a eles habituado em função das guerras (inclusive internas -durante a Comuna de Paris, não sobrou pata sobre pata no zoológico da cidade).
No caso dos chineses, foi a escassez de recursos e o excesso de população que fizeram nada ser rejeitado, resultando numa culinária variada e sofisticada.
O Brasil não sofreu a pressão das guerras, mas sofre o da escassez, da pobreza. Quando um nordestino come um calango, soa como desespero; mas não deveria ser tão normal quanto um italiano que caça um tordo?
Nunca comi calango, mas isso é um mau sinal. Significa que não estão à venda, que ninguém os prepara como o que são: uma fonte de proteína a mais que a natureza oferece, e que possivelmente é gostosa. Certamente, poderia se tornar uma iguaria nas mãos de cozinheiros aplicados.
Miúdos tendem a ser ultraproteicos e baratos: ideal para um país pobre. Mas parece que nosso complexo de Casa Grande extirpou até o gosto pela aventura do gosto. Uma perda.
(Publicado na Folha Ilustrada, 8/4/2010)
A carne é eliminada da alimentação humana. 1- as pastagens darão lugar à produção de mais cereais para a alimentação humana. 2- bovinos caprinos, suínos etc. não tema mais interesse econômico. 3- no primeiro momento, são tolerados, confinados em reservas. Paulatinamente sua população vai-se reduzindo até desaparecer ( é só ver a relação de animais em extinção: aqueles que não têm valor econômico) ou, vão virar bichinhos de estimação? “doa-se um “boizinho” , pesa só 1200 kg e sobrevive com apenas 40 kg de ração por dia....”
João eustáquio de Lima
... a nossa convivência com os animais deveria ser baseada no pressuposto da liberdade de ir e vir deles ... não temos o direito de coibir, tolher o animal ... (Aurora)
e quanto à liberdade de escolha de o que comer deles ???
Em respeito ao animal, deveria ser oferecido tanto vegetais quanto carne, e ele que escolha!
Miguel (vegetariano)
Oi, Miguel. Eu disse o que eu penso que deveria ser. Uma vez que estamos com animais sob nossa guarda, devemos dar a eles o que for bom para a saúde deles. Como eu penso que comer carne é puro hábito, posso deixar meus animais sem a carne, é só não criar o hábito. Nâo acho que esteja tolhendo, estou educando.
Ótimo que vc se declare vegetariano. Você deve entender o que eu digo, né?
Aurora
Não só como vegan vive o homem, graças a Deus....Eu já comi jacaré, tatu, mixirra (tamanduá mirim), teu (tiú, teju, conforme a região) que nada mais é do que um calango grande, João de barro, tico-tico etc. Só não comi cobra porque ainda não as encontrei prontas e, garanto, que são todos pratos saborosos . E, num sô índio não, sô minero da gema uai!
João eustáquio de Lima
Podemos construir outros cenários também, por que não ??:
Ocidental come menos carne e diminui a natalidade, ele precisa ir menos para a chata e cara academia perder tempo em diminuir pança que também foi cara obter, pode também morrer menos de infarto, gastar menos com médico e com isto poupar e viver mais e melhor..
Na aposentadoria pode viajar para Europa ou onde quiser.. com natalidade menor e menor demanda por pasto ou emprego (comida é pasto e bebida é água, vc tem fome de que ??): mais florestas para ele conhecer e cidades menos populosas para passear..
Chegando onde quiser: crescimento sustentável.. não precisa esconder dólar em bolso especial para não ser assaltado.. nem se preocupar em deixar filho ir sozinho para a escola.. Podendo o neto ir de bicicleta em ciclovias sem monstros metálicos perigosos e barulhentos conhecidos antes por “carros”..
Pois é....... I have a dream
Hehehe!
Nildson
Tal empreitada no entanto esbarra em aspectos biológicos e no fim das contas são desnecessários pondo a causa numa situação frágil: há pessoas que acham que ao refutar algum argumento racional “pró-qualquer-causa” estariam provando que a causa é injusta.. O que não é o caso: ao refutar algum argumento vc refuta somente AQUELE argumento, não a causa em si.. É desnecessário racionalizar os motivos acima pois “civilizar” é "moralizar": é estabelecer fronteiras morais.. Logo, a causa moral é sim suficiente para justificá-la pelo homem ser um ente com compromisso social: se somente as regras naturais valessem não teríamos antibióticos, controle da natalidade ou hospitais..
Argumentos racionais para a dieta vegetariana esbarram em um fato biológico: ser humano é onívoro como seus primos chimpanzés.. Se partirmos da "teleologia" alimentar: substâncias biológicas "planejadas" pela seleção natural para serem comidas seriam os únicos alimentos legítimos.. A dieta seria muito restrita para um ser humano, limitando-se em trufas (fungo), frutas, mel e leite; Trufas por serem cogumelos subterrâneos que ocorrem em climas temperados que devido as dificuldades do clima em propagar os esporos através do "chapéu" externo teriam desenvolvido a estratégia de crescerem em nódulos subterrâneos nutritivos e com aroma para atrair animais escavadores que espalhariam os esporos.. Fruta pela mesma estratégia para espalhar sementes.. Mel por ser derivado do néctar, usado para atrair polinizadores e leite é uma substancia secretada pelos mamíferos para nutrir proles.. Somente estas substancias seriam “feitas para algo ou alguém” comer.. A ingestão das demais substancias seria basicamente comer parte ou todo o outro ser: vegetal ou animal.. Quanto ao cozimento citado como estratégia para viabilizar o consumo de carne.. o uso do fogo para preparar alimentos provocou sim uma adaptação da dieta humana tanto para consumo de carnes que ele não consumiria como para diversas partes de vegetais.. Os vegetais para “não serem comidos” enriquecem as suas partes ou com toxinas ou substancias difíceis de digerir.. O ser humano na cocção supera esta barreira, os grãos, por exemplo, têm cascas e fibras.. O ser humano cozinha, pré digerindo o alimento difícil: O arroz consumido cru, provavelmente seria indigesto.. A rigor não serviria para consumo humano.. Sob o aspecto anatômico, o aparelho digestivo de herbívoros são melhores adaptados para digerir fibras e celulose do que o humano, eis que muitos deles são ruminantes e tem ceco (porção do intestino) bem maior para a digestão bacteriana.. Dentro dos grandes primatas, o vegetariano restrito seria o gorila,se compararmos o homem com o gorila, ele tem mandíbulas fortes, e um grande abdome para digerir as fibras.. No homem o ceco é maior do que os carnívoros e bem menor do que os herbívoros indicando que seus ancestrais alimentavam-se de ambas as fontes, provavelmente frutas e tubérculos com algumas caças pequenas eventuais..
Há também enzimas no intestino humano adaptadas para romper o açúcar contido na camada externas dos insetos e outros artrópodes.. indicando dieta rica em insetos ou crustáceos dos nossos ancestrais e finalmente, há a suspeita de que comiam tutano dos ossos das carniças de animais abatidos, pelo cérebro humano maior exigir boa dose de energia cuja fonte suspeita-se que eram os tutanos dos ossos, que são bem preservados depois que leões e hienas já devoraram as partes moles (os humanos primitivos não eram páreo para competir com todos estes, correndo o risco de virar sobremesa se ousasse a tanto..)..
Quanto a comparar a anatomia humana com carnívoros noturnos e melhor especializados, não procede.. A rotina noturna não é típica: há carnívoro diurnos como a águia.. e leões caçam de dia.. A águia utiliza-se da surpresa e da capacidade obtida pelo vôo enquanto os leões fazem emboscadas pelo ataque em equipe.. Outros caçadores diurnos usam a camuflagem, como o tigre.. A noite é preferida pelos carnívoros menores pela surpresa e de ser o horário do sono para muitas presas, utilizando-se da noite como camuflagem natural.. Quanto a sensibilidade humana com animais ou bebês como prova de docilidade e inadequação para caça, leoas são meigas com filhotes, acho que isto é derivado de nossa característica compartilhada com outros mamíferos.. Mamíferos cuidam de proles e este cuidado é essencial para sua sobrevivência (mamífero: mamas ==> leite)..
Provavelmente os cérebros de mamíferos são derivações disto: um filhote para ser amamentado deve ter cuidados maternais.. A estratégia dos filhotes mamíferos é induzir a mãe mamífero com sentimento de desamparo, enquanto a resposta materna é a adoção dos filhotes.. Quanto aos machos: a tendência é de serem competitivos e de só adotarem os seus filhotes e em algumas espécies.. No entanto, como na espécie humana a infância é longa, o cuidado da prole exige muito da mãe.. Provavelmente a tendência evolutiva no homem foi na direção da colaboração para a manutenção da prole e uma certa escolha das fêmeas em escolher machos que ajudem a cuidar (ou que cuidem de vez da prole), então, a escolha foi sobre machos mais negociáveis sendo um dos fatores de divergência do chimpanzé, que é ultra violento formando verdadeiras gangues, chegando a matar filhotes para alcançar os seus fins reprodutivos..
Unté. Nildson
Ora,
mas esses sentimentos de amizade, confiança, são justamente as características de quase todos os tipos de mamíferos sociais, sobretudo os carnívoros, que precisam de relações de confiança para poderem realizar a
caça em grupos. Aliás, somos o que somos graças aos nossos antepassados caçadores. Não fossem eles, estaríamos até hoje dependurados nas árvores.
Não e´de se espantar que os animais que mais tenham se tornado amigos do homem sejam os lobos, transformados pela seleção
genética nos cachorros de hoje em dia. Um cachorro é justamente um carnívoro que "aprende" que o homem
(e, nas áreas rurais, o próprio rebanho) faz parte de sua matilha. Ele não devorar a ovelha porque a acha "amiga"
(e até arriscar sua vida para defendê-la) não faz dele um herbívoro.
marcelo.nuno
Não sou biólogo, mas se não estou enganado tanto o Homo Sapiens quanto o Canis Lupus Familiaris são classificados pela Biologia como sendo espécies onívoras. Logo, são capazes de consumir tanto produtos vegetais quanto animas. O importante é que a dieta forneça os todos os nutrientes necessários à uma vida saudável.
Quanto à filosofia do Veganismo, notei que o artigo que deu início à discussão é de um pedagogo com graduação em ciências sociais que também faz referência à textos de pessoas de outras áreas de conhecimento como a filosofia. Também seria interessante conhecer a opinião de biólogos, economistas, químicos, nutricionistas, engenheiros e agrônomos sobre se é possível e qual seria o impacto da substituição em grande escala dos insumos animais por insumos vegetais e sintéticos (na maioria das vezes derivados de petróleo) na vida moderna.
Annibal
Caro Annibal,
não é preciso ser biólogo, economista, etc.etc. para ter sensibilidade, inteligência, raciocínio e julgamento críticos.E principalmente, concluir que vc não tem o direito de tirar uma vida, de maneira cruel e covarde, para satisfazer seu prazer. Prazer, sim, pois a carne não é essencial na sua dieta alimentar. Se vc fizer uma pesquisa rápida na internet vai encontrar "n" sites de vegetarianos, vegans, opiniões e artigos prós e contras.... Daí vc raciocina, reflete, e tira suas conclusões, forma opinião sobre o assunto. É a melhor maneira, ler, pesquisar, se informar, meditar e assumir sua posição. Pró ou contra. Sou a favor dos animais. E não desisto dessa bandeira.
Abraço,
Aurora
Cara Aurora,
Discordo. Seria muito interessante conhecer estudos destas áreas de conhecimento humano. Sensibilidade, raciocínio e julgamento crítico de um único indivíduo com conhecimentos limitados em um determinada área não são suficientes para saber qual seria o impacto da substituição completa dos produtos animais na vida moderna. Veja que estou falando de PRODUTOS ANIMAIS e não de CARNE. Por exemplo, qual o produto que pode substituir o
sebo bovino para a fabricação de lápis, explosivos, tintas, sabão, detergentes e velas? E qual pode substituir o couro bovino para a fabricação da gelatina neutra, capsulas de medicamentos, cola, filmes fotográficos, fósforos e cosméticos? E da bílis bovina para a fabricação de remédios digestivos, pomadas e reagentes para pesquisa? E das tripas para a fabricação de fios cirúrgicos? Nunca encontrei nos “n” sites de vegetarianos respostas para estas questões simples (será que falta um químico para esclarecer?). Questões complicadas então, muito menos. Por exemplo, que cultura agrícola seria capaz de fornecer as todas as proteínas necessárias à humanidade e qual o impacto desta mudança no planeta em termos de clima, biodiversidade, economia, relações sociais? Haveria solo fértil suficiente no planeta? Como seria feita a correção do solo? Com mais fertilizantes à base de petróleo? Qual o impacto ecológico do enorme aumento de produção de fertilizantes e agrotóxicos? Seria a engenharia genética a solução? Muito advogam que produtos geneticamente modificados podem ser prejudiciais à humanidade. Será que consigo encontra estas respostas nos “n” sites de vegetarianismo?
Enfim, embora seja radicalmente contra o mau trato de animais, não imagino a vida moderna sem os produtos que eles fornecem. Inclusive, nunca soube de um vegetariano que fosse capaz de evitar todos os produtos que relacionei acima.
Abraço,
Annibal
Annibal, meu caro,
isso é questão de direcionamento, eu acho. Desde sempre nos acostumamos a ver o animal como uma "coisa" a ser usada. Todas as pesquisas levaram em consideração essa idéia, o animal é para ser usado, a vida, o sofrimento dele não importa. Aí, deu no que deu. Essa dependência enorme de insumo animal no nosso dia a dia. A partir de uma conscientização de que a coisa não é bem assim, que devemos respeitá-lo como um irmão não-humano, poderiamos começar uma mudança.
Todos sabem do impacto negativo da pecuária no meio ambiente. E ela continua. Estimulada. Claro, rende dinheiro, muito dinheiro. A vida do animal, ora, não importa.
Os insumos bovinos a que vc se refere são subprodutos da carne, que tiveram a destinação prevista para evitar o desperdício. Certo. Não se muda isso do dia pra noite.
Mas vamos supor que diminuisse o consumo de carne, pela conscientização em massa da população. Ainda assim, por muito tempo, os insumos, subprodutos, continuariam a existir para a indústria. Enquanto isso, pesquisas seriam direcionadas para a substituição paulatina do insumo animal pelo vegetal, por exemplo.
Hoje existe até "couro vegetal", como já coloquei na rede anteriormente. Por que não o resto? Quanto à proteínas, sou vegetariana há vários anos já. Regularmente faço exames (solicitados pelos médicos) para acompanhamento inclusive do nível de proteínas. Não é alto, mas está dentro do que chamam hoje de normalidade.
Annibal, não quero dizer aqui que sou a dona da verdade. Apenas expresso meu ponto de vista. E estou convencida de que não é preciso abater o animal para meu prazer degustativo. Não necessito realmente da carne para viver. Não me omito frente à covardia, crueldade que nós, humanos "racionais" infligimos aos animais.
Quase ia me esquecendo: os produtos denominados "orgânicos", sem agrotóxicos, tem ocupado cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados. Os fertilizantes usados são naturais, conforme apregoam os produtores. E a correção do solo, não sou agrônoma- vale dizer, é mineral.
Mas acho muito interessante questionamentos como os seus. Mesmo porque ninguém é dono da verdade e somente a partir de questionamentos é que a inteligência e o conhecimento se expandem.
Abraço,
Aurora
Ué! E os vegetais também não têm direito à vida? Segundo os estudiosos eles, também, têm sentimentos só que nós não percebemos. Dizem, inclusive, que um vegetal emite sinais quando estão sendo abatidos que são ‘sentidos’ pelos outros vegetais próximos. E aí, como ficamos? Vamos deixar de nos alimentar? Quanto aos animais eu os respeito e muito mas, não é por isto que vou deixar de abatê-los para me alimentar. Quanto às minhas netas, elas vêem sim. Da mesma forma que as ensino a cultivar um vegetal, também as ensino a criar animais para a nossa alimentação. É como você disse: tudo é uma questão de ponto de vista.
João eustáquio de Lima
Bem que gostaria que vegetais tivessem sentimentos, mas não há provas científicas que tenham algum sistema nervoso para produzir isto que chamamos “sentimentos”..
Experiências que “demonstraram” isto eram tendenciosas..
Mas e a reação das violetas com o bom trato do jardineiro ?? Efeito placebo..
Claro, não vamos discutir o lado moral de ser justificável matar algo por não ter “sentimentos” ou qualquer outra capacidade mental humana, daí esbarramos nos casos de seres humanos com cérebros danificados.. mas deixemos isto para lá..
“Sentimento” é um produto do cérebro, que por sua vez é produto da evolução do sistema nervoso..
Sistema nervoso é uma “invenção” dos animais, pois estes tem que processar informação de uma maneira rápida e decidir eficientemente para sobreviver..
Os animais são predadores: são ladrões que roubam matéria prima de outros seres vivos: animais ou vegetais.. Somos descendentes de Caim..
Para achar matéria prima o animal tem que processar informação: isto é venenoso, isto não é.. se a matéria prima está numa presa que foge, deve surpreende-la: mais informação rápida para processamento mais complexo: como capturar o alimento ?? e além disto, por causa da corrida armamentista do Cambriano, tem que prevenir-se para não virar comida: aquilo é um predador que vai me devorar: fuja ou defenda-se..
Por outro lado vegetais e fungos tem uma estratégia diferente, os primeiros têm sua energia do sol e matéria prima do solo, a reação contra os herbívoros é crescer, se defender com toxinas ou substancias que dificultam a digestão, e se multiplicar além da capacidade dos herbívoros de extingui-los.. Nesta estratégica o fluxo de informações é mais baixo podendo ser sanado com a “reação vegetativa”: cresça para o alto se comem as folhas de baixo ou produza armas químicas... Os fungos conseguem a energia e a matéria prima do substrato onde cresce: idem..
Portanto o animal mais simples em relação ao sistema nervoso processa mais informação que o vegetal mais complexo por simples questão de necessidade..
Então não será surpresa se noutro planeta que porventura tenha vida, se houver mentes que produzem máquinas, elas serão produzidas por predadores no topo da cadeia alimentar naquele planeta.. Difícil que a trajetória evolucionária obrigue a construção de cérebros em vegetais em algum lugar do Universo..
Att
Nildson
Eu já li, há muito tempo, histórias de pessoas que deram uma dieta vegetariana para um leão.
E isso não faz com que eles, ou os cachorros, deixem de ser carnívoros.
Mas eu também sou a favor da vida: sou contrário ao aborto. Muitos vegetarianos (sobretudo nos EUA) se preocupam tanto com o sofrimento de um camarão, mas acham que tirar a vida de um feto é um direito da mulher.
Vá entender.
marcelo.Nuno
Caro Marcelo,
temos 6 cachorros. Que comem ração, legumes, frutas. Não lhes fornecemos carne de nenhum animal. Mas eles continuam caçadores e cuidam do seu território. Só que não comem carne. Existem muitos por aí que não comem carne não pq os donos são vegetarianos, mas por que seus donos não podem comprar carne para eles. Assim, se habituam a não comer carne. E vão muito bem, obrigado. Por isso não os considero carnívoros, pois podemos substituir a carne por outros alimentos e eles vivem muito bem sem ela. Hábitos. Somente o hábito nos faz comer carne. Hábito e "dessenssibilização" quanto ao sofrimento que se infringe ao animal para termos sua carne à mesa. A pecuária é um grande negócio. Uma coisa cultural, geradora de lucro, desumana. E danosa ao meio ambiente. Mas, cada um vê conforme quer.
Eu defendo a minha visão. Pelos animais. Pelo direito à vida.
Aurora
Toda ração premium e superpremium contém vísceras e carne de outros animais, principalmente de frangos e suínos. A recomendação para não oferecê-la a ruminantes, presente em quase todas as embalagens, é para prevenir o mal da vaca louca, cujo príon está presente no encéfalo dos animais contaminados. Sinal de que também podem fazer parte da composição, acidentalmente ou nem tanto assim.
E essa é uma indústria que movimenta bilhões a cada ano, sem nenhuma indicação de que venha a se retrair em breve. A menos que os humanos parem de ter animais de estimação.
É legal que façamos a nossa parte, mas somos mais vítimas do sistema do que queremos acreditar, e acabamos, mesmo indiretamente, mesmo involuntariamente, contribuindo para o mal que combatemos.
Abraços,
Jussara
Repassando:
A frescura dos brasileiros diante da comida
Matéria de Luiza Fecarotta na Folha de hoje -- "Guia dos Curiosos" -- mostra comidas estranhas ou curiosas, de queijo de leite materno a café comido e defecado por um tipo de gambá. Sobre a reação que os brasileiros costumam ter a comidas diferentes, escrevi o seguinte comentário, na matéria:
Mais estranho é o fato de estranhá-los
Mais bizarro do que determinadas comidas bizarras é o hábito brasileiro (não só das classes mais abastadas, do povo também) de rejeitar comidas que saiam de um restrito repertório do trivial cotidiano.
Por que só arroz, feijão, macarrão e bife? Por que não coentro (fora da Bahia), jambu (fora da Amazônia), maxixe (fora do Nordeste), ora-pro-nobis (fora de Minas)? E por que não miúdos e partes de animais que não sejam só o filé mignon (ou algum tipo de bife)? E por que não outros animais além dos poucos de sempre?
Bucho, testículos, miolo; e também escorpiões, cobras e lagartos alimentam povos considerados altamente civilizados e ricos. Os franceses, com seus sapos e lesmas, talvez tenham-se a eles habituado em função das guerras (inclusive internas -durante a Comuna de Paris, não sobrou pata sobre pata no zoológico da cidade).
No caso dos chineses, foi a escassez de recursos e o excesso de população que fizeram nada ser rejeitado, resultando numa culinária variada e sofisticada.
O Brasil não sofreu a pressão das guerras, mas sofre o da escassez, da pobreza. Quando um nordestino come um calango, soa como desespero; mas não deveria ser tão normal quanto um italiano que caça um tordo?
Nunca comi calango, mas isso é um mau sinal. Significa que não estão à venda, que ninguém os prepara como o que são: uma fonte de proteína a mais que a natureza oferece, e que possivelmente é gostosa. Certamente, poderia se tornar uma iguaria nas mãos de cozinheiros aplicados.
Miúdos tendem a ser ultraproteicos e baratos: ideal para um país pobre. Mas parece que nosso complexo de Casa Grande extirpou até o gosto pela aventura do gosto. Uma perda.
(Publicado na Folha Ilustrada, 8/4/2010)
A carne é eliminada da alimentação humana. 1- as pastagens darão lugar à produção de mais cereais para a alimentação humana. 2- bovinos caprinos, suínos etc. não tema mais interesse econômico. 3- no primeiro momento, são tolerados, confinados em reservas. Paulatinamente sua população vai-se reduzindo até desaparecer ( é só ver a relação de animais em extinção: aqueles que não têm valor econômico) ou, vão virar bichinhos de estimação? “doa-se um “boizinho” , pesa só 1200 kg e sobrevive com apenas 40 kg de ração por dia....”
João eustáquio de Lima
... a nossa convivência com os animais deveria ser baseada no pressuposto da liberdade de ir e vir deles ... não temos o direito de coibir, tolher o animal ... (Aurora)
e quanto à liberdade de escolha de o que comer deles ???
Em respeito ao animal, deveria ser oferecido tanto vegetais quanto carne, e ele que escolha!
Miguel (vegetariano)
Oi, Miguel. Eu disse o que eu penso que deveria ser. Uma vez que estamos com animais sob nossa guarda, devemos dar a eles o que for bom para a saúde deles. Como eu penso que comer carne é puro hábito, posso deixar meus animais sem a carne, é só não criar o hábito. Nâo acho que esteja tolhendo, estou educando.
Ótimo que vc se declare vegetariano. Você deve entender o que eu digo, né?
Aurora
Não só como vegan vive o homem, graças a Deus....Eu já comi jacaré, tatu, mixirra (tamanduá mirim), teu (tiú, teju, conforme a região) que nada mais é do que um calango grande, João de barro, tico-tico etc. Só não comi cobra porque ainda não as encontrei prontas e, garanto, que são todos pratos saborosos . E, num sô índio não, sô minero da gema uai!
João eustáquio de Lima
Podemos construir outros cenários também, por que não ??:
Ocidental come menos carne e diminui a natalidade, ele precisa ir menos para a chata e cara academia perder tempo em diminuir pança que também foi cara obter, pode também morrer menos de infarto, gastar menos com médico e com isto poupar e viver mais e melhor..
Na aposentadoria pode viajar para Europa ou onde quiser.. com natalidade menor e menor demanda por pasto ou emprego (comida é pasto e bebida é água, vc tem fome de que ??): mais florestas para ele conhecer e cidades menos populosas para passear..
Chegando onde quiser: crescimento sustentável.. não precisa esconder dólar em bolso especial para não ser assaltado.. nem se preocupar em deixar filho ir sozinho para a escola.. Podendo o neto ir de bicicleta em ciclovias sem monstros metálicos perigosos e barulhentos conhecidos antes por “carros”..
Pois é....... I have a dream
Hehehe!
Nildson
segunda-feira, 12 de julho de 2010
OS HUMANOS SEGUNDO A ENCICLOPÉDIA GALÁCTICA
Aproveitando a conversa da moda na Starnet. Vou deixar aqui um pequeno exercício de criatividade que escrevi há alguns meses. Atenção para o terceiro parágrafo!!!
Enciclopédia Galáctica: Ano 3256*
Por rodrigo.andolfato
A Espécie humana, uma das 23.423 espécies da galáxia com nível de inteligência 3, foi descoberta pelos Rávens, espécie membro da Federação Galáctica e que possui nível de inteligência 7. Os Rávens chegaram ao planeta dos humanos, chamado de Terra, no ano de 2027 e descobriram que os a espécie tinham cerca de 6 mil anos de história escrita, marcadas principalmente por guerras e conflitos, desigualdade e doenças, mas também descobriram que os humanos haviam desenvolvido uma tecnologia primária, produzida principalmente a partir de metais e elementos de combustão, e também desenvolveram uma arte classificada pelos Rávens como "rasteira", mas que na época da chegada dos Rávens, encontrava-se em grande estágio de regressão e em grande dificuldade criativa. Durante duzentos anos os Rávens dominaram a Terra e a espécie humana tanto economicamente quanto politicamente. Os Rávens vendiam ao planeta Terra Tecnologia de nível 4, enquanto importavam mão de obra e grande parte dos recursos minerais e suprimentos do planeta Terra. Mas a situação dos humanos sofreu uma grave mudança quando os Zorts, espécie de nível de inteligência 9, que dominava os Rávens, chegou a Terra. Os Zorts não quiseram nenhum acordo com os terráqueos e não consideravam a espécie humana como inteligente, pois ainda não tinha desenvolvido meios para colonizar outros sistema solares ou planetas e, principalmente, por ter uma uma capacidade mental considerada pelos Zorts como “unidimensional”. Muitos membros da Federação foram contra os Zorts, mas numa votação do conselho da Federação, os Zorts impuseram sua força, convencendo os membros a votarem contra a espécie humana, caso contrário sofreriam retaliações.
No ano de 2257, a espécie humana, reduzida a um bilhão de habitantes, devido as guerras e doenças trazidas por Zorts e Rávens, foi declarada como “Não-inteligente” pela federação galáctica”. Hoje existem cerca de 500 bilhões de seres humanos espalhados por mais de cinquenta planetas da Galáxia, mas a sua situação em nada lembra a época da chegada dos Rávens. Agora, os seres humanos são unicamente criados em grandes criadouros dos Zorts. São produzidos em laboratório e colocados em berçários durante dois meses, após isso são criados em grandes balcões onde são alimentados com ração especial. Os humanos levam três anos para atingirem a idade adulta, ideal para o abate. Na época da chegada dos Rávens os humanos levavam 18 anos para atingirem esta fase. Hoje, através dos métodos genéticos e comida processada dos Zorts, atingem seu tamanho de adulto já aos três anos de idade. Não chegando nem a desenvolver a fala.
Os Zorts procuram aproveitar os humanos de quase todas as formas possíveis. Através da macia carne humana são produzidos alguns dos pratos mais apreciados pelos Zorts. Os ossos humanos são utilizados para enriquecer com cálcio bebidas Zortinianas e os olhos são utilizados na produção de cosméticos. Cremes rejuvenescedores feitos a partir de olhos humanos são muito apreciados pelos Zorts.
Mas o produto feito a partir de humanos que é sem dúvida o mais apreciado entre os Zorts é o caríssimo patê produzido a partir de fígados de exemplares humanos que recebem altissimas doses de alcóol durante seu crescimento. Esses fígados incham e o patê produzido através destes órgãos é um dos mais caros e populares da galáxia. Este patê é chamado "Humans - Pronto Para Consumo".
Enciclopédia Galáctica: Ano 3256*
Por rodrigo.andolfato
A Espécie humana, uma das 23.423 espécies da galáxia com nível de inteligência 3, foi descoberta pelos Rávens, espécie membro da Federação Galáctica e que possui nível de inteligência 7. Os Rávens chegaram ao planeta dos humanos, chamado de Terra, no ano de 2027 e descobriram que os a espécie tinham cerca de 6 mil anos de história escrita, marcadas principalmente por guerras e conflitos, desigualdade e doenças, mas também descobriram que os humanos haviam desenvolvido uma tecnologia primária, produzida principalmente a partir de metais e elementos de combustão, e também desenvolveram uma arte classificada pelos Rávens como "rasteira", mas que na época da chegada dos Rávens, encontrava-se em grande estágio de regressão e em grande dificuldade criativa. Durante duzentos anos os Rávens dominaram a Terra e a espécie humana tanto economicamente quanto politicamente. Os Rávens vendiam ao planeta Terra Tecnologia de nível 4, enquanto importavam mão de obra e grande parte dos recursos minerais e suprimentos do planeta Terra. Mas a situação dos humanos sofreu uma grave mudança quando os Zorts, espécie de nível de inteligência 9, que dominava os Rávens, chegou a Terra. Os Zorts não quiseram nenhum acordo com os terráqueos e não consideravam a espécie humana como inteligente, pois ainda não tinha desenvolvido meios para colonizar outros sistema solares ou planetas e, principalmente, por ter uma uma capacidade mental considerada pelos Zorts como “unidimensional”. Muitos membros da Federação foram contra os Zorts, mas numa votação do conselho da Federação, os Zorts impuseram sua força, convencendo os membros a votarem contra a espécie humana, caso contrário sofreriam retaliações.
No ano de 2257, a espécie humana, reduzida a um bilhão de habitantes, devido as guerras e doenças trazidas por Zorts e Rávens, foi declarada como “Não-inteligente” pela federação galáctica”. Hoje existem cerca de 500 bilhões de seres humanos espalhados por mais de cinquenta planetas da Galáxia, mas a sua situação em nada lembra a época da chegada dos Rávens. Agora, os seres humanos são unicamente criados em grandes criadouros dos Zorts. São produzidos em laboratório e colocados em berçários durante dois meses, após isso são criados em grandes balcões onde são alimentados com ração especial. Os humanos levam três anos para atingirem a idade adulta, ideal para o abate. Na época da chegada dos Rávens os humanos levavam 18 anos para atingirem esta fase. Hoje, através dos métodos genéticos e comida processada dos Zorts, atingem seu tamanho de adulto já aos três anos de idade. Não chegando nem a desenvolver a fala.
Os Zorts procuram aproveitar os humanos de quase todas as formas possíveis. Através da macia carne humana são produzidos alguns dos pratos mais apreciados pelos Zorts. Os ossos humanos são utilizados para enriquecer com cálcio bebidas Zortinianas e os olhos são utilizados na produção de cosméticos. Cremes rejuvenescedores feitos a partir de olhos humanos são muito apreciados pelos Zorts.
Mas o produto feito a partir de humanos que é sem dúvida o mais apreciado entre os Zorts é o caríssimo patê produzido a partir de fígados de exemplares humanos que recebem altissimas doses de alcóol durante seu crescimento. Esses fígados incham e o patê produzido através destes órgãos é um dos mais caros e populares da galáxia. Este patê é chamado "Humans - Pronto Para Consumo".
quinta-feira, 8 de julho de 2010
ANTINATURALIDADE
A "antinaturalidade" do ato de comer carne
por Allan Menegassi Zocolotto[2]
Concepções correntes proclamam o vegetarianismo antinatural por se tratar o ser humano um ser anatômica e fisiologicamente adaptado ao consumo de carne. Enunciam ainda ser natural e moralmente justificável esse consumo, por meio do argumento da cadeia alimentar em que são, os seres humanos, consumidores carnívoros. Aqui eu afirmo o oposto: a alimentação humana com ingestão de carne é ‘antinatural’.
1. PARA INÍCIO DE CONVERSA
Importante apontar, antes de qualquer coisa, a impertinência dos dois argumentos usualmente comunicados, contidos nas linhas precedentes, quais sejam, (a) adaptação humana ao consumo de carne e (b) cadeia alimentar, mesmo que não seja esse o objetivo central do presente texto. Aqui, preocupo-me mais com o que pode ser nomeado “estrato psicológico-subjetivo” do ser humano.
Fácil é contrapor-nos à informação de que somos carnívoros. Assim como os animais herbívoros, temos caninos curtos, molares achatados, saliva com enzimas digestivas, mandíbula com boa movimentação lateral, pequena abertura da boca (em relação ao tamanho da cabeça), menor acidez estomacal, sistema digestivo longo e unhas achatadas. Também suamos pela pele e não contamos com visão noturna ou agilidade suficiente para a caça, nem mandíbula e maxilar proeminentes.
Os animais carnívoros, por sua vez, têm caninos grandes e afiados e garras para capturar e rasgar a carne de suas presas. Eles não mastigam seu alimento e seus intestinos são curtos e secretam enzimas digestivas muito ácidas.
As características biológicas humanas não deixam dúvidas. Distinguimo-nos sobremaneira dos carnívoros e não apenas destes. Milton R. Mills, MD, afirma que os seres humanos têm a estrutura de um herbívoro típico e, ao contrário do que comumente se fala, não apresentam as características mistas encontradas em onívoros como ursos e guaxinins. Comparando os tratos gastrointestinais de seres humanos, carnívoros, herbívoros e onívoros, concluímos que o corpo humano é concebido para uma dieta alimentar estritamente vegetal.[3]
Ainda que, por tradição, consumamos carne, não quer dizer que sejamos adaptados a esse fim. Há quem faça uso de cigarros, por exemplo, o que não significa serem preparados para isso. A verdade é que o corpo humano suporta, em alguma medida (em alguns casos e sujeitos mais, noutros menos), os maus hábitos alimentares e de vida como um todo.
A imagem de um animal morto causa-nos repugnância e não salivação. Não nos empenhamos em matar e comer cruas nossas presas como legítimos carnívoros o fazem. Além disso, a ingestão não-letal de carne em humanos só é possível quando antecedida por preparo (assar, cozinhar, condimentar, etc.) capaz de assegurar a não-contaminação por microorganismos. Mesmo que os nossos antepassados tenham sido carnívoros ou onívoros, a evolução e a seleção natural fizeram permanecer hoje um tipo de hominídeo anatômica e fisiologicamente não-carnívoro, herbívoro para ser mais exato.
De acordo com Sônia Felipe[4], podemos afirmar que a utilização do argumento da cadeia alimentar também é deveras irrefletida. “Não procede afirmar que ‘na natureza’ ‘os animais’ se comem uns aos outros. Correto seria dizer que, na natureza, alguns animais comem outros, enquanto a quase totalidade dos demais não o faz. A ‘natureza’ não dá lição alguma de moralidade, pois não oferece parâmetro algum segundo o qual se possa orientar ações livres.”[5]
Além de tudo isso, precisamos tomar bastante cuidado sempre que nos servimos de vocábulos como ‘natural’ e ‘antinatural’ para referirmo-nos ao que, porventura, diga respeito, ou não, ao Humano. Ainda que sejamos constituídos de matéria tão orgânica quanto quaisquer outros seres do planeta, nós, seres humanos, pertencemos muito mais ao campo do social e cultural, que se nomeia, comumente, e, pode-se acrescentar, de modo não muito claro, ‘mundo humano’.
O tornar-se homem ou mulher[6], ainda que determinado, em parte, pela corporeidade, não se encontra regido, integralmente, por ela. O homem e a mulher se fazem de um jeito ou de outro, também porque a educação tende-os para isso ou aquilo. Temos então que, socioculturalmente, se aprende a fazer-se humano.
Não comungo, em absoluto, de um posicionamento determinista. Por mais fortes que sejam os “tendenciosismos”, há sempre a potência humana (em alguma medida) de diferir e engendrar outros “eus”, porém, não há como negar que grande é o número de elementos que influenciam marcantemente a vida de cada indivíduo.
Mesmo sabendo das limitações do emprego de vocábulos com radical ‘natural’, parto do lugar de quem concebe um “natural humano” — ainda que não o mesmo em todos os locais do globo nem em todos os períodos da história — e que, tão mais se esforce para discutir acerca dos atributos desse “homem essencial”, melhor.
Centro meus argumentos de defesa da concepção da ‘antinaturalidade’ do ato de comer carne, em duas frentes: (a) “natureza humana em realização” (referência à infância) e (b) “natureza humana em manifestação” (ou “sinais da natureza roubada” ou ainda “indícios da natureza inebriada” — referência ao apego burlador e à ilusão autoinfligida).
De início, apresento as referências à infância e aos jeitos-de-ser criança que por mais que se façam distintos em todos os casos reais (e sempre se fazem), de sua média se pode emular uma “criança genérica” que aqui servirá de “tipo ideal” (em sentido weberiano) e que pode dizer da “natureza histórica do homem”, isto é, da “natureza recente do homem médio de hoje”.[7]
2. O NATURAL DO HUMANO
2.1. O “outro necessário”
É da natureza humana sensibilizar-se, afinar-se, apegar-se. É natural criar vínculos, estender-se ao outro, apelar cuidados, lançar-se aos braços alheios e tomar nos braços próprios. O bebê, frágil, indefeso e incapaz não consegue manter-se vivo quando em isolamento, de modo independente de quem o tome no colo e o trate. Carece do outro tanto para manter-se vivo quanto para tornar-se humano. É biologicamente dependente, biologicamente sociável. Necessita de quem se ocupe dele. Necessita de quem o intronize à Humanidade.
É de praxe discutir o ‘aprender a ser humano’ que se faz no meio e por meio de humanos — discussão sobremaneira pertinente e a que cientistas sociais se habilitam (ou se arrogam habilitados) a tocar.
O bebezinho humano tem necessidade de contato, cuidado e carinho e, só quando ela é atendida, o projeto de Humanidade que nele se encerra poder-se-á por em operância, não no sentido de um acontecimento prenunciado, e sim de uma constante realização (devir). Nos intercursos dessa “imprescindibilidade humana” (o outro necessário) os laços entre ‘zelado’ e ‘zelador’ são construídos e estreitados.
Por mais íntimos que sejam os ligames que vinculem ‘gerado’ e ‘geradora’ (filho e mãe biológica), o que pode haver de mais forte são os laços medrados entre ‘quem é cuidado’ e ‘quem cuida’, independentemente de quem seja o ‘cuidador’ e da vinculação “sanguínea” entre esse e o imaturo sob sua guarda. A criança se apega ao seu diligente responsável de modo intenso e verdadeiro. O alimentar, o aconchegar, o embalar, o acalentar, o ninar, o engraçar, tornam séria a relação entre ambos. A correspondência criada nos interstícios do par é deveras substanciosa para requerer “credenciais gênicas”. Basta o querer e ser querido e tem-se tudo. Disso pega a vida.
Em estado inicial, o “filhote de humano” está de todo aberto e, mais que isso, é todo reclames de enlace, apreço e filiação e sua compleição física e seus caracteres psicológicos lhes conferem os atributos mesmos capazes de fidelizar (ou tentá-lo) o humano maduro: é pequenino, inofensivo e gracioso. Pela sua natureza (de incapaz), o bebê não escolhe quem dele se ocupa e dele cuida e essa contingência faz deitar raízes o relacionamento eventual inicial e, tanto quanto o responsável se lhe faça solícito, ele constituir-se-á grato e fiel. Como tratamos de tipos ideais, extraímos quaisquer pontos “falhos” e destoantes.
2.2. O “outro desejável” e o “outro envolvente”
Com o enunciado suposto acima, acrescido dos argumentos apresentados a seguir, subsidia-se a consideração acerca da “natureza humana” que defendo aqui: a precisão de vínculo (outro necessário), a querença de vínculo (outro desejável) e a potência de vínculo (outro envolvente).[8]
Não precisamos fazer nenhum salto hipotético para concebermos que os vínculos que podem acontecer entre humanos (vínculos intraespecíficos), podem acontecer também (e acontecem) entre outros seres (vínculos interespecíficos). E falo disso para além dos casos de ‘meninos selvagens’[9] constantes da literatura científica.
Os vínculos criados não são exclusivos de ocorrer entre ‘tratador’ e ‘tratado’. Os vínculos são criáveis entre outros para além dessa relação inicial e imprescindível. O ser humano não possui um quantitativo de elos possíveis de realizar-se tampouco um sensor de discriminação de possíveis elos responsável por distinguir “o joio do trigo”, quem merece de quem não merece sua atenção. Os círculos de confiança e relação são expansíveis e com frequência se expandem. De modo natural, no fluxo fácil do desenvolver-se, o ser em humanização (em realização), vai-se “elando” (criando elos e elações — “elevações de espírito, excitações emotivas”).
Aliamo-nos, afinamo-nos e fidelizamo-nos, e nossas alianças, afinidades e fidelidades não são restritivas, mas o justo contrário: são abertas e renováveis, provocantes e rizomáticas (“polifrontais”). Aliamo-nos, afinamo-nos e fidelizamo-nos, teórica e naturalmente, com qualquer ser, humano ou não.
2.3. O mundo em experiência
Toda criança tem ânsia de totalidade e não lhe basta ver, quer pegar, cheirar, lamber, comer, integrar. À medida que crescem, as crianças (imagino não apenas as de tradição judaico-cristã ocidental) tomam o “mundo inteiro” (aquelas porções que lhe são imediatas) em experimentação. Desde que o “novinho humano” apercebe-se de um “objeto” qualquer, se empenha para com ele. Toca nos pedriscos, arranca flores, aperta o bichinho, agarra o colega.
Todo o mundo o encanta (“gente, bicho e planta”), mas em especial, os que lhe provocam, os que não se passivam, os que se mexem e reclamam soltura, (gente e bicho, portanto). Uma folha de árvore por mais colorida, macia, cheirosa e ricamente sinestesiante (devido todas as sensações capaz de provocar), logo se torna monótona e desinteressante aos olhos da criança. O maior detentor de atenções é o explicitamente vivo, o ativo, o autônomo prático, o que mexe, vira, pula, grita, chora. Esse sim se torna um desafio e tanto. Com esse, o novinho humano trata de vincular-se mais porque se parece consigo, responde aos seus “implicos”, reage aos seus ditames. Provoca-lhe em sua humanidade em ativação.
O toque, o enlace e o amasso são alguns dos elementos básicos da infância. As crianças não vibram e clamam por um animalzinho quando este se encontra em seu campo de visão? Não brincam com ele e o tomam no colo, perigosamente, inclusive, para a manutenção da vida de qualquer um dos dois? Isso se pode explicar, a meu ver, pelo egocentrismo inicial (“o mundo sou eu”) ou pelo desejo “pan-elacionista” (de elar-se — criar elos — com tudo) que aos poucos se vão amestrando e dando o imaturo a habilitar-se a humano (quando, à medida que consegue operar com o que lhe é ensinado, lhe aceitam como membro da família, comunidade, etc.).
2.4. A estima entre “mesmos-orgânicos”
A criança se afina com os animais porque deles se sente igual (como animais que todos somos), porque ainda não assimilou o antropocentrismo que vige o mundo adulto (muito embora já esteja a assimilar, devido a educação a que se vê obrigada). Ela brinca com os bichos como quem brinca com outras crianças, ela papeia com eles (ou tão-somente chia e balbucia) e os toca e abraça. Ela se amiga dum animalzinho e pede aos pais ou responsáveis que lhe permitam levá-lo para casa. Ela se cerca dele, rindo e felicitando-se profundamente. Chora sua morte, sua fuga ou sua retirada. Também briga e discute com ele. Relaciona-se de igual para igual.
O “amor”[10] por animais começa cedo em cada um de nós como decorrência natural do próprio humanizar-se: identificar-se, elar-se e fidelizar-se a todo aquele que lhe partilha a característica da senciência[11]. Somente desse modo, tornamo-nos “humanos” para com todos os humanos porque somente quando assumimos essa característica como o que conta para a integração à comunidade moral (quem têm direitos) é que nos irmanamos a todos os humanos. Abrindo-nos a todos os humanos, abrimo-nos, por tabela, a todos os animais sencientes. É no mesmo tecido moral que se costuram os direitos de humanos e animais e, mais que isso, apenas se os critérios adotados para a atribuição de direitos aos animais forem aceitos (sensibilidade e consciência de si) é que se podem legitimar os direitos humanos, evitando critérios excludentes como linguagem e racionalidade ou capacidade de rei
vindicar direitos. (REGAN apud OLIVEIRA, 2004, p.285)[12].
No processo do “naturalmente humanizar-se”, ‘humano’ não é diferido de ‘animal’. Somos todos “mesmos-orgânicos” (igualmente orgânicos, corpóreos, autônomos práticos, sencientes). Somos igualmente sensíveis à dor, ao prazer, à tristeza e à felicidade e assim nos entendemos quando criança porque ainda não antropocentrados e assim sentir-nos-íamos, quando adultos, caso o programa de antropocentrização não funcionasse conosco. O natural é a ética senciocêntrica[13] vingar pois ela é lógica e diretamente aplicável às experiências que preenchem nossos dias desde a infância.
3. O HUMANO ARTIFICIAL
A sensibilidade é o que há de mais natural no ser humano e o que primeiro e certeiramente se manifesta.[14] Naturalmente, o ser humano vai, desde criança, se filiando e vinculando aos animais (tanto quanto aos humanos), vai lhes partilhando vivências e graças. Entretanto, aos poucos, o que é vínculo geral (entre “iguais”, apesar da espécie) torna-se vínculo particular (entre “iguais”, dentro da espécie). O antropocentrismo vai-se construindo e fixando por intermédio do “culto humano”, do adestramento a ser humano que se arroga a coroa da Evolução/Criação. Desse modo, quem era amigo (o animal), naturalmente amigo, sensivelmente amigo, logicamente amigo é transformado em alimento, tradicionalmente alimento, costumeiramente alimento, convenientemente alimento.
A criança no meio rural brinca com a “cocó” (galinha) em uma hora e, em outra, a come (lhe é dado de comer). Destarte, a criança vai naturalizando o que não é natural; a criança vai internalizando o que lhe é externo; ela vai concebendo como cabível o que não traz em si, o que não sabe nem sente per se. Ela aos poucos não mais vê problema nisso e vai rompendo os vínculos que naturalmente se construíram entre ela e seus amigos animais “iguais”. Comer animais traveste-se, dessa maneira, de ato certo, bom e natural. Rompendo com o que traz consigo, naturalmente em seu íntimo, o ser humano torna-se homem artificial.
Se não fossem desatados pela educação (artificialização), os elos que se fazem entre ela e seus amigos animais, não precisaria ser dito à criança “não se deve comer carne” porque comer carne não seria nem mesmo uma hipótese credível de consideração. “Como poderia sequer pensar em alimentar-me de quem me é amigo?” proclamariam as crianças não-antropocêntricas crescidas. Entretanto, o que traz consigo em seu íntimo (o vínculo fácil e farto com animais), não é permitido consolidar-se e por isso entra em óbito (mortificação, esquecimento), ou antes, em hipostenia (debilitação, silenciamento).
4. OS SINAIS DA NATUREZA ROUBADA
4.1. Os rompantes de vínculo
Agora, deixemos nossa criança genérica e chamemos, para ilustrar o que se pretende afirmar, um pequeno camponês (caso real) que planta sua horta e cria seus animais para a subsistência própria e de sua família. Talvez seja esse um bom exemplo para aprofundarmos o debate acerca dos sinais do “homem natural” que restam em cada um apesar da artificialidade do “homem antropocêntrico” implantado e dominante em nós.
Esse homem simples do meio rural cria um porco por vez no chiqueiro para servir de provimento de carne tão logo o peso dele denuncie maturidade e a hora do abate. A ocasião é sempre de uma grande festividade: Natal, Páscoa, aniversário, casamento, etc.
É sempre o velho senhor que se encarrega da criação do porquinho, alimenta-o e dessedenta-o, e, naturalmente, tanto por descuido (outro envolvente) quanto por vontade (outro desejável), dá vazão ao que carrega em si: a precisão, a querença e a potência de vínculo.
O porquinho tem seu próprio nome. O velho senhor brinca e conversa com ele, acarinha-o, traz relva macia, trata-o com zelo como faz a um ente especial. O tempo vai passando e o porquinho crescendo e engordando, do mesmo modo que a amizade que une senhor e animal. O velho homem se apega cada vez mais burlando o prescrito pela sociedade. No entanto, a amizade, “nascida de enxerida”, “bobageira infantil”, conforme dizem os “homens” já formados (leia-se antropocentrados), não deve nem pode prosseguir.
Perguntam ao velho senhor como vai ser na hora do abate do animal, ele desconversa querendo não pensar nisso, não adiantar o passo… mas acaba soltando: “Vou pra cidade no dia… e volto bêbado!” Deixará o encargo de matar o bicho a outrem. Não seria capaz de fazê-lo. Seria traição. “Torna-te eternamente responsável por aquilo que cativas” diz Saint-Exupéry. O velho campônio sabe disso e sente assim também.
Esse é apenas um caso representativo de inumeráveis outros, facilmente registráveis. Basta conversar com quem vive cercado de animais tratando-os, mesmo que para fins comerciais, mas, especialmente, em situações de criação de subsistência. Orelha-torta, Manchada, Cotó, Perna-preta, Manquinho… todos animais que fazem dos humanos seus amigos, os conquistam o coração e os tiram a coragem e a vontade de matar-lhes.
A amizade sempre pega. No entanto, não de enxerida que é, mas de natural (imanente) e desejosa (transcendente) e ela só não se realiza quando, apesar de todos seus esforços (e pode acreditar que ela é fera nisso) o homem teima em matá-la em si. Em alguns casos, mortifica-se o “amigar” até um ponto que conforme se diz, não mais seja possível deixá-lo renascer — o homem artificial total (há que se refletir sobre essa suposta irreversibilidade).
Quem trabalha em fazendas industriais de criação de animais, em abatedouros e frigoríficos já se dessensibilizou por completo, ou está em vias disso. Já deixou (foi preciso deixar) morrer em si esse lastro natural que lhe acompanha desde que se fez gente. Os vínculos são naturalmente “vínculos gerais”, entre “iguais” apesar da espécie; socialmente é que eles assumem o tipo “vínculos particulares”, socialmente é que se internaliza o especismo (forma discriminatória pela qual seres humanos tratam seres de outras espécies animais como se estes existissem exclusivamente para servir aos interesses daqueles)[15].
Não pretendo aqui fazer juízo de valor (não tenho esse poder) sobre quem mata animais e/ou se alimenta com seus restos, até porque, conforme se sabe, a maciça maioria dos trabalhadores (de fazendas de criação intensiva, de abatedouros e frigoríficos, inclusive) não tem outra opção de trabalho (a exploração de animais e a exploração humana são faces da mesma realidade) e desde criança são educados para acharem natural e normal esses ofícios e essa dieta. Vivem imersos na artificialidade (antinaturalidade) do homem que é explorado e que explora — a naturalização da exploração.
4.2. O esquecimento forçado
Outro caso que pode ser trazido aqui é o das pessoas que não suportam matar ou sequer ver matar um animal porque, caso contrário, conforme elas mesmas afirmam, deixariam de ter coragem de comer carne. Isso só pode fazer-nos pensar numa coisa. Não se quer ver porque, caso contrário, a sua visão traria a realidade conhecida e que se tenta, forçosamente, esquecer (só se tenta esquecer o que se sabe). As pessoas esforçam-se continuamente nessa empreitada. Há ainda o caso dos que fazem isso por outros, por exemplo, pais que pensando fazer o “bem”, não dizem a verdade da carne: o que ela é, de onde ela vem, como é “produzida”.
Não são nacos de carne que estão aí para o deleite e a (suposta) saúde dos seres humanos, mas CORTES, PEDAÇOS arrancados de seres com os quais anteriormente compartilhava a vida (cadáveres, portanto). Isso é o que se mascara (tenta mascarar) e se ativamente esquece (tenta esquecer). No entanto, não importa em quantas partes foi cortado, nem de quais modos foi preparado, é sempre um corpo morto, um corpo drenado de vida o que está aí.
“A carne não existe.”[16] O ato de comer carne passa pela transformação de animais em carne o que, por sua vez, depende do inebriamento da ‘natureza humana’, qual seja, sensibilizar-se, apegar-se, fidelizar-se, irmanar-se. Somente matando em si os naturais elos e desejos de bemquerença para com os animais é que se pode reduzi-los a um monte de carne e se consegue comê-lo.
A sugestão de que cada qual cace e prepare o animal para alimentar-se dele causa repulsa à maioria das pessoas. Fuga, defesa, luta, choro, sangue é o que se vê em caçadas e abates de animais. Não creia que se perde a vida por entrega. Não há resignação da parte deles. É somente depois de um embate desesperado por manter-se vivo que a vida se lhes é roubada de seus condenados corpos.
Entretanto, não é isso que se encontra nos supermercados e não é isso que as pessoas querem saber. Elas se auto-infligem a ilusão da “vaquinha feliz”, da “galinha poedeira”, do “porquinho asseado”, da “lida gentil”, da “morte humanitária”, da “colheita da carne” como se colhe um fruto maduro do pé, sem traumas, sem gritos, sem dor, nem sangue. “Doce ilusão”.
“O ato de matar um animal é, em si, perturbador. Dizem que, se tivéssemos que matar nossa própria ‘carne’, seríamos todos vegetarianos. Com certeza, muitas poucas pessoas já visitaram um abatedouro e filmes que mostram o interior dos mesmos não são populares na TV. As pessoas esperam que a carne que compram venha de um animal que morreu sem dor. Mas eles não querem saber da verdade.” (trecho do documentário Terráqueos [17]). Uma pergunta provocante aos que se alimentam de “carne limpa” (comprada) pode ser aqui reproduzida: “se você não tem coragem de matar, por que tem coragem de comer?”.
5. CONCLUINDO
Não propus a discussão da evolução da espécie humana e do papel que o consumo de carne, eventualmente, tenha desempenhado nesse processo e sim da “natureza atual e local” do ser humano e do que diz respeito, em maior ou menor grau, às experiências de cada um de nós, desde a infância. Também não se trata de eleger culpados uma vez que as causas dos jeitos-de-ser do Hoje estão deveras emaranhadas no Ontem. Não se pode mudar o passado. E o presente não pode sê-lo de uma tacada só. PODEMOS pensar o presente e DEVEMOS projetar um futuro mais honesto às “sementes” trazidas no âmago do “homem natural médio de hoje”.
Talvez a realidade não se preste a acabados pensamentos e teorizações reducionistas tais como as que se passam aqui, mas julguei por bem arriscar-me a lançar essas palavras à folha com o fito de apresentar um contradiscurso mais que a tempo (se há quem defenda a ‘naturalidade’ do ato de comer carne, defendo a ‘antinaturalidade’ desse mesmo ato), até porque, se o Real é superior à capacidade de dele acercar-se por uma única via (explicação una), melhor provocarmos a proliferação de “altervisões” e explicações dissidentes, não nos contentando com o batido.
Crianças que se filiam aos animais, criadores que se apegam às suas criações e consumidores que precisam se iludir para manter seus hábitos e confortos me parecem indícios importantes que não podem nem devem ser negligenciados. Esses são sinais que nos dizem alguma coisa. Não é natural o que se precisa forçar mediante o mascaramento da realidade ou a mortificação de tendências. Não é natural o que imprescinde de conformação e consolidação contínuas. ‘Natureza’ que se mantêm por mentiras e omissões não é natureza, é forjamento.
Trazemos conosco, desde a infância, o apreço aos animais de modo que torná-los objetos, meios para fins de qualquer ordem não pode ser chamado natural. Natural é seu oposto: o modo-de-vida vegetariano estrito (vegano) que reconhece os animais como fins-em-si-mesmos tanto quanto você e eu o somos.
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NOTAS
[1] A elaboração do presente texto se deveu a várias críticas e sugestões de familiares e amigos.
[2] Vegano, membro do Grupo Abolicionista pela Libertação Animal (GALA), formado em Pedagogia (UFES, 2007) e graduando em Ciências Sociais (UFES). E-mail: allanzocolotto@yahoo.com.br
[3] MILLS, Milton. The comparative anatomy of eating. Disponível em:
. Acesso em: 03 out. 2009.
[4] Doutora em Teoria Política e Filosofia Moral pela Universidade de Konstanz, Alemanha (1991) e grande promotora do veganismo no Brasil.
[5] FELIPE, Sônia T. Ética predatória? In: Pensata animal: revista de direitos dos animais. 2009. Disponível em:
. Acesso em: 01 out. 2009.
[6] Não me ponho a discutir a temática ‘sexo e gênero’. Apenas para deixar o texto mais fluido é que escrevi tão-somente “homem e mulher”. O certo teria sido servir-me da expressão “homem e mulher e algo mais”.
[7] Chamo “natureza histórica do homem”, “natureza recente do homem médio de hoje” ou “natureza atual e local” o que em, alguma medida, num dado período histórico e determinado lócus geográfico, pode ser encontrado no estrato psicológico-subjetivo de cada sujeito. Por mais que sejamos diferentes uns dos outros, compartilhamos algumas concepções, trejeitos e inclinações junto aos demais seres humanos locados no mesmo tempo-espaço. A concepção de “consciência coletiva” talvez sirva para aproximarmo-nos do entendimento aqui proposto.
[8] Para além do outro necessário (determinado pela precisão de vínculos sem os quais não há humano) está, como natural do humano, o desejo, a vontade, a querença, a não-satisfação plena, a incompletude assumida e a gula de Ser mais, o não-contentamento completo, a-fome-a-sede-o-sono-o-tesão não-saciáveis de uma vez por todas. Esse “quero mais” é o fluxo do e para o outro desejável (nomeia-se abulia a ausência de vontade, a perda total ou parcial de ânimo, o estado de apatia generalizada não-salutar). Somado a isso tudo existe ainda o outro envolvente (ou cativante), aquele que não é convidado, que não se espera e, mesmo assim, se aproxima, se encosta, vai ficando e, de repente, quando se percebe, já se incluiu e foi incluído.
[9] ‘Meninos selvagens’ são crianças que, por algum motivo, ausentaram-se do convívio com humanos e acabaram sendo criadas, acredita-se, por fêmeas de mamíferos em gestação e amamentação (lobas, ursas, macacas, cabras, etc.), como seus próprios filhotes. Quando reencontradas, estabelecido o convívio e realizadas análises, essas crianças acendem o debate acerca do que sejam ‘atributos humanos’ e da casualidade da situação, caminhando no sentido de confirmar que “recebemos a natureza por herança, mas a cultura não nos pode ser dada senão pela educação”.
(TRUFFAUT, François. In: GONÇALVES, Jorge; PEIXOTO, Maria Alexandra. O menino selvagem: estudo do caso de uma criança retratado no filme “O menino selvagem” de François Truffaut. Disponível em:. Acesso em: 03. out. 2009.)
[10] Relação afetuoso-emotiva construída sócio-históricamente mas deveras influenciada pelo “lastro natural” que jaz em todos.
[11] Senciência refere-se à sensibilidade e à consciência. Diz da capacidade que os animais dotados de sistema nervoso central (vertebrados superiores — mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes) possuem de sentir dor, medo, alegria, prazer, estresse, memória e até saudades. Com base nisso, Peter Singer sintetizou o princípio da igual consideração dos interesses semelhantes, pelo qual propõe que todos os interesses semelhantes sejam considerados de modo semelhante. “Interesses são interesses e devem ser considerados por igual — sejam eles os interesses de seres humanos ou de animais, com ou sem consciência de si.” Alguns teóricos concebem que o direito à vida deve ser exclusivo dos que têm autoconsciência. Contudo, quando não temos indícios científicos de que um ser tem consciência de si devemos dar a ele o benefício da dúvida.
Um ser sensível, autoconsciente ou não, é um ser de interesses e preferências. Por ser capaz de sentir dor ou alguma fruição, num estado doloroso tem a preferência de ter sua dor aliviada e merecem tê-la. (TONETTO, Milene Consenso. Do valor da vida senciente e autoconsciente. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 207-222, Dez 2004. Disponível em:. Acesso em: 03. out. 2009.)
[12] OLIVEIRA, Gabriela Dias de. A teoria dos direitos animais humanos e não-humanos, de Tom Regan. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 283-299, Dez 2004. Disponível em:
. Acesso em: 03. out. 2009.
[13] Senciocentrismo: senciência como critério definidor da pertinência à comunidade moral.
(FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, senciocentrismo, ecocentrismo, biocentrismo. In: Questão de ética. Agência de notícias de Direitos Animais. Disponível em:
. Acesso em: 03. out. 2009.)
[14] A racionalidade e a linguagem vão nascendo, progressivamente, em “humanos paradigmáticos”. Devemos lembrar daqueles cujas características os tornam diferentes do que se concebe como “humano típico” (crianças pequenas, portadores de necessidades especiais, indivíduos com comprometimentos psicológicos, etc.) e, apesar disso, não se cogita a possibilidade de excluí-los do âmbito das nossas considerações morais, muito pelo contrário, a eles é devotado um cuidado todo especial.
[15] O termo foi criado pelo cientista e filósofo Richard D. Ryder na década de 1970 e divulgado por Peter Singer desde 1975 ao argumentar em defesa do emprego do princípio da igual consideração de interesses semelhantes no tratamento dos animais. (FELIPE. In: TONETTO, M. C. Do valor da vida senciente e autoconsciente. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 207-222, Dez 2004. Disponível em:
. Acesso em: 03. out. 2009.)
[16] “A carne não existe” no sentido de que sua verdade é “maquiada”. A existência da carne depende de condições bem controladas, é um artifício, uma invenção, uma simulação, uma encenação. Basta lembrar das embalagens dos produtos de origem animal: nelas aparecem “vaquinhas felizes”, “frangos sorridentes”, etc., todas imagens de uma realidade fictícia, carregadas de um “romantismo rural”. A “carne” depende, para continuar a existir, de um processo ativo de rompimento com o que se sabe e sente. Depende da exploração e da morte explícitas de animais cujas sensibilidade e autenticidade dos sentimentos são conhecidas. “Como podemos provar que os animais sentem dor e prazer?” Poderiam perguntar. Ora, a mesma pergunta pode ser feita para questionar como sabemos que outro humano sente dor. Se nunca sentimos a dor do outro, como sabermos se ela é real? A ciência comprova que se um ser possui um sistema nervoso central e um cérebro este ser não somente sente dor como também é ciente dessa dor. “[...] Além do mais, todos sabemos que quando se chuta um cão, ele late; quando se marca um cavalo a ferro quente, ele grita e faz expressões faciais demonstrando sua agonia e quando se mata um porco, ele grita e se debate. Animais não são meras máquinas que respondem com gritos artificiais por ajuda, muito pelo contrário, eles são capazes de sofrer e têm uma vida rica em emoções e sentimentos, que são mais sinceros que os dos humanos. [...]”
(SOCIEDADE MUNDO VEGAN. Dúvidas frequentes, respostas coerentes. Disponível em:
. Acesso em: 5. out. 2009.)
[17] Earthlings (Terráqueos, em português) é um documentário estadunidense de 2005, escrito, produzido e dirigido por Shaun Monson e co-produzido por Persia White. É narrado pelo ator e ativista dos direitos animais Joaquin Phoenix, que também é vegano e membro da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). O filme mostra como funcionam as fazendas industriais e relata a dependência da humanidade sobre os animais. Compara o especismo da espécie humana com outras relações de dominação, como o racismo e o sexismo. O filme faz estudo detalhado das lojas de animais, das fábricas de filhotes e dos abrigos para animais, assim como das fazendas industriais, do comércio de peles e de couro, das indústrias da diversão e esportes, e finalmente, do uso médico e científico. Terráqueos usa câmeras escondidas para detalhar as práticas diárias de algumas das maiores ind
ústrias do mundo, todas visando o lucro com os animais.
(Terráqueos. Disponível em:. Acesso em: 16 out. 2009.)
por Allan Menegassi Zocolotto[2]
Concepções correntes proclamam o vegetarianismo antinatural por se tratar o ser humano um ser anatômica e fisiologicamente adaptado ao consumo de carne. Enunciam ainda ser natural e moralmente justificável esse consumo, por meio do argumento da cadeia alimentar em que são, os seres humanos, consumidores carnívoros. Aqui eu afirmo o oposto: a alimentação humana com ingestão de carne é ‘antinatural’.
1. PARA INÍCIO DE CONVERSA
Importante apontar, antes de qualquer coisa, a impertinência dos dois argumentos usualmente comunicados, contidos nas linhas precedentes, quais sejam, (a) adaptação humana ao consumo de carne e (b) cadeia alimentar, mesmo que não seja esse o objetivo central do presente texto. Aqui, preocupo-me mais com o que pode ser nomeado “estrato psicológico-subjetivo” do ser humano.
Fácil é contrapor-nos à informação de que somos carnívoros. Assim como os animais herbívoros, temos caninos curtos, molares achatados, saliva com enzimas digestivas, mandíbula com boa movimentação lateral, pequena abertura da boca (em relação ao tamanho da cabeça), menor acidez estomacal, sistema digestivo longo e unhas achatadas. Também suamos pela pele e não contamos com visão noturna ou agilidade suficiente para a caça, nem mandíbula e maxilar proeminentes.
Os animais carnívoros, por sua vez, têm caninos grandes e afiados e garras para capturar e rasgar a carne de suas presas. Eles não mastigam seu alimento e seus intestinos são curtos e secretam enzimas digestivas muito ácidas.
As características biológicas humanas não deixam dúvidas. Distinguimo-nos sobremaneira dos carnívoros e não apenas destes. Milton R. Mills, MD, afirma que os seres humanos têm a estrutura de um herbívoro típico e, ao contrário do que comumente se fala, não apresentam as características mistas encontradas em onívoros como ursos e guaxinins. Comparando os tratos gastrointestinais de seres humanos, carnívoros, herbívoros e onívoros, concluímos que o corpo humano é concebido para uma dieta alimentar estritamente vegetal.[3]
Ainda que, por tradição, consumamos carne, não quer dizer que sejamos adaptados a esse fim. Há quem faça uso de cigarros, por exemplo, o que não significa serem preparados para isso. A verdade é que o corpo humano suporta, em alguma medida (em alguns casos e sujeitos mais, noutros menos), os maus hábitos alimentares e de vida como um todo.
A imagem de um animal morto causa-nos repugnância e não salivação. Não nos empenhamos em matar e comer cruas nossas presas como legítimos carnívoros o fazem. Além disso, a ingestão não-letal de carne em humanos só é possível quando antecedida por preparo (assar, cozinhar, condimentar, etc.) capaz de assegurar a não-contaminação por microorganismos. Mesmo que os nossos antepassados tenham sido carnívoros ou onívoros, a evolução e a seleção natural fizeram permanecer hoje um tipo de hominídeo anatômica e fisiologicamente não-carnívoro, herbívoro para ser mais exato.
De acordo com Sônia Felipe[4], podemos afirmar que a utilização do argumento da cadeia alimentar também é deveras irrefletida. “Não procede afirmar que ‘na natureza’ ‘os animais’ se comem uns aos outros. Correto seria dizer que, na natureza, alguns animais comem outros, enquanto a quase totalidade dos demais não o faz. A ‘natureza’ não dá lição alguma de moralidade, pois não oferece parâmetro algum segundo o qual se possa orientar ações livres.”[5]
Além de tudo isso, precisamos tomar bastante cuidado sempre que nos servimos de vocábulos como ‘natural’ e ‘antinatural’ para referirmo-nos ao que, porventura, diga respeito, ou não, ao Humano. Ainda que sejamos constituídos de matéria tão orgânica quanto quaisquer outros seres do planeta, nós, seres humanos, pertencemos muito mais ao campo do social e cultural, que se nomeia, comumente, e, pode-se acrescentar, de modo não muito claro, ‘mundo humano’.
O tornar-se homem ou mulher[6], ainda que determinado, em parte, pela corporeidade, não se encontra regido, integralmente, por ela. O homem e a mulher se fazem de um jeito ou de outro, também porque a educação tende-os para isso ou aquilo. Temos então que, socioculturalmente, se aprende a fazer-se humano.
Não comungo, em absoluto, de um posicionamento determinista. Por mais fortes que sejam os “tendenciosismos”, há sempre a potência humana (em alguma medida) de diferir e engendrar outros “eus”, porém, não há como negar que grande é o número de elementos que influenciam marcantemente a vida de cada indivíduo.
Mesmo sabendo das limitações do emprego de vocábulos com radical ‘natural’, parto do lugar de quem concebe um “natural humano” — ainda que não o mesmo em todos os locais do globo nem em todos os períodos da história — e que, tão mais se esforce para discutir acerca dos atributos desse “homem essencial”, melhor.
Centro meus argumentos de defesa da concepção da ‘antinaturalidade’ do ato de comer carne, em duas frentes: (a) “natureza humana em realização” (referência à infância) e (b) “natureza humana em manifestação” (ou “sinais da natureza roubada” ou ainda “indícios da natureza inebriada” — referência ao apego burlador e à ilusão autoinfligida).
De início, apresento as referências à infância e aos jeitos-de-ser criança que por mais que se façam distintos em todos os casos reais (e sempre se fazem), de sua média se pode emular uma “criança genérica” que aqui servirá de “tipo ideal” (em sentido weberiano) e que pode dizer da “natureza histórica do homem”, isto é, da “natureza recente do homem médio de hoje”.[7]
2. O NATURAL DO HUMANO
2.1. O “outro necessário”
É da natureza humana sensibilizar-se, afinar-se, apegar-se. É natural criar vínculos, estender-se ao outro, apelar cuidados, lançar-se aos braços alheios e tomar nos braços próprios. O bebê, frágil, indefeso e incapaz não consegue manter-se vivo quando em isolamento, de modo independente de quem o tome no colo e o trate. Carece do outro tanto para manter-se vivo quanto para tornar-se humano. É biologicamente dependente, biologicamente sociável. Necessita de quem se ocupe dele. Necessita de quem o intronize à Humanidade.
É de praxe discutir o ‘aprender a ser humano’ que se faz no meio e por meio de humanos — discussão sobremaneira pertinente e a que cientistas sociais se habilitam (ou se arrogam habilitados) a tocar.
O bebezinho humano tem necessidade de contato, cuidado e carinho e, só quando ela é atendida, o projeto de Humanidade que nele se encerra poder-se-á por em operância, não no sentido de um acontecimento prenunciado, e sim de uma constante realização (devir). Nos intercursos dessa “imprescindibilidade humana” (o outro necessário) os laços entre ‘zelado’ e ‘zelador’ são construídos e estreitados.
Por mais íntimos que sejam os ligames que vinculem ‘gerado’ e ‘geradora’ (filho e mãe biológica), o que pode haver de mais forte são os laços medrados entre ‘quem é cuidado’ e ‘quem cuida’, independentemente de quem seja o ‘cuidador’ e da vinculação “sanguínea” entre esse e o imaturo sob sua guarda. A criança se apega ao seu diligente responsável de modo intenso e verdadeiro. O alimentar, o aconchegar, o embalar, o acalentar, o ninar, o engraçar, tornam séria a relação entre ambos. A correspondência criada nos interstícios do par é deveras substanciosa para requerer “credenciais gênicas”. Basta o querer e ser querido e tem-se tudo. Disso pega a vida.
Em estado inicial, o “filhote de humano” está de todo aberto e, mais que isso, é todo reclames de enlace, apreço e filiação e sua compleição física e seus caracteres psicológicos lhes conferem os atributos mesmos capazes de fidelizar (ou tentá-lo) o humano maduro: é pequenino, inofensivo e gracioso. Pela sua natureza (de incapaz), o bebê não escolhe quem dele se ocupa e dele cuida e essa contingência faz deitar raízes o relacionamento eventual inicial e, tanto quanto o responsável se lhe faça solícito, ele constituir-se-á grato e fiel. Como tratamos de tipos ideais, extraímos quaisquer pontos “falhos” e destoantes.
2.2. O “outro desejável” e o “outro envolvente”
Com o enunciado suposto acima, acrescido dos argumentos apresentados a seguir, subsidia-se a consideração acerca da “natureza humana” que defendo aqui: a precisão de vínculo (outro necessário), a querença de vínculo (outro desejável) e a potência de vínculo (outro envolvente).[8]
Não precisamos fazer nenhum salto hipotético para concebermos que os vínculos que podem acontecer entre humanos (vínculos intraespecíficos), podem acontecer também (e acontecem) entre outros seres (vínculos interespecíficos). E falo disso para além dos casos de ‘meninos selvagens’[9] constantes da literatura científica.
Os vínculos criados não são exclusivos de ocorrer entre ‘tratador’ e ‘tratado’. Os vínculos são criáveis entre outros para além dessa relação inicial e imprescindível. O ser humano não possui um quantitativo de elos possíveis de realizar-se tampouco um sensor de discriminação de possíveis elos responsável por distinguir “o joio do trigo”, quem merece de quem não merece sua atenção. Os círculos de confiança e relação são expansíveis e com frequência se expandem. De modo natural, no fluxo fácil do desenvolver-se, o ser em humanização (em realização), vai-se “elando” (criando elos e elações — “elevações de espírito, excitações emotivas”).
Aliamo-nos, afinamo-nos e fidelizamo-nos, e nossas alianças, afinidades e fidelidades não são restritivas, mas o justo contrário: são abertas e renováveis, provocantes e rizomáticas (“polifrontais”). Aliamo-nos, afinamo-nos e fidelizamo-nos, teórica e naturalmente, com qualquer ser, humano ou não.
2.3. O mundo em experiência
Toda criança tem ânsia de totalidade e não lhe basta ver, quer pegar, cheirar, lamber, comer, integrar. À medida que crescem, as crianças (imagino não apenas as de tradição judaico-cristã ocidental) tomam o “mundo inteiro” (aquelas porções que lhe são imediatas) em experimentação. Desde que o “novinho humano” apercebe-se de um “objeto” qualquer, se empenha para com ele. Toca nos pedriscos, arranca flores, aperta o bichinho, agarra o colega.
Todo o mundo o encanta (“gente, bicho e planta”), mas em especial, os que lhe provocam, os que não se passivam, os que se mexem e reclamam soltura, (gente e bicho, portanto). Uma folha de árvore por mais colorida, macia, cheirosa e ricamente sinestesiante (devido todas as sensações capaz de provocar), logo se torna monótona e desinteressante aos olhos da criança. O maior detentor de atenções é o explicitamente vivo, o ativo, o autônomo prático, o que mexe, vira, pula, grita, chora. Esse sim se torna um desafio e tanto. Com esse, o novinho humano trata de vincular-se mais porque se parece consigo, responde aos seus “implicos”, reage aos seus ditames. Provoca-lhe em sua humanidade em ativação.
O toque, o enlace e o amasso são alguns dos elementos básicos da infância. As crianças não vibram e clamam por um animalzinho quando este se encontra em seu campo de visão? Não brincam com ele e o tomam no colo, perigosamente, inclusive, para a manutenção da vida de qualquer um dos dois? Isso se pode explicar, a meu ver, pelo egocentrismo inicial (“o mundo sou eu”) ou pelo desejo “pan-elacionista” (de elar-se — criar elos — com tudo) que aos poucos se vão amestrando e dando o imaturo a habilitar-se a humano (quando, à medida que consegue operar com o que lhe é ensinado, lhe aceitam como membro da família, comunidade, etc.).
2.4. A estima entre “mesmos-orgânicos”
A criança se afina com os animais porque deles se sente igual (como animais que todos somos), porque ainda não assimilou o antropocentrismo que vige o mundo adulto (muito embora já esteja a assimilar, devido a educação a que se vê obrigada). Ela brinca com os bichos como quem brinca com outras crianças, ela papeia com eles (ou tão-somente chia e balbucia) e os toca e abraça. Ela se amiga dum animalzinho e pede aos pais ou responsáveis que lhe permitam levá-lo para casa. Ela se cerca dele, rindo e felicitando-se profundamente. Chora sua morte, sua fuga ou sua retirada. Também briga e discute com ele. Relaciona-se de igual para igual.
O “amor”[10] por animais começa cedo em cada um de nós como decorrência natural do próprio humanizar-se: identificar-se, elar-se e fidelizar-se a todo aquele que lhe partilha a característica da senciência[11]. Somente desse modo, tornamo-nos “humanos” para com todos os humanos porque somente quando assumimos essa característica como o que conta para a integração à comunidade moral (quem têm direitos) é que nos irmanamos a todos os humanos. Abrindo-nos a todos os humanos, abrimo-nos, por tabela, a todos os animais sencientes. É no mesmo tecido moral que se costuram os direitos de humanos e animais e, mais que isso, apenas se os critérios adotados para a atribuição de direitos aos animais forem aceitos (sensibilidade e consciência de si) é que se podem legitimar os direitos humanos, evitando critérios excludentes como linguagem e racionalidade ou capacidade de rei
vindicar direitos. (REGAN apud OLIVEIRA, 2004, p.285)[12].
No processo do “naturalmente humanizar-se”, ‘humano’ não é diferido de ‘animal’. Somos todos “mesmos-orgânicos” (igualmente orgânicos, corpóreos, autônomos práticos, sencientes). Somos igualmente sensíveis à dor, ao prazer, à tristeza e à felicidade e assim nos entendemos quando criança porque ainda não antropocentrados e assim sentir-nos-íamos, quando adultos, caso o programa de antropocentrização não funcionasse conosco. O natural é a ética senciocêntrica[13] vingar pois ela é lógica e diretamente aplicável às experiências que preenchem nossos dias desde a infância.
3. O HUMANO ARTIFICIAL
A sensibilidade é o que há de mais natural no ser humano e o que primeiro e certeiramente se manifesta.[14] Naturalmente, o ser humano vai, desde criança, se filiando e vinculando aos animais (tanto quanto aos humanos), vai lhes partilhando vivências e graças. Entretanto, aos poucos, o que é vínculo geral (entre “iguais”, apesar da espécie) torna-se vínculo particular (entre “iguais”, dentro da espécie). O antropocentrismo vai-se construindo e fixando por intermédio do “culto humano”, do adestramento a ser humano que se arroga a coroa da Evolução/Criação. Desse modo, quem era amigo (o animal), naturalmente amigo, sensivelmente amigo, logicamente amigo é transformado em alimento, tradicionalmente alimento, costumeiramente alimento, convenientemente alimento.
A criança no meio rural brinca com a “cocó” (galinha) em uma hora e, em outra, a come (lhe é dado de comer). Destarte, a criança vai naturalizando o que não é natural; a criança vai internalizando o que lhe é externo; ela vai concebendo como cabível o que não traz em si, o que não sabe nem sente per se. Ela aos poucos não mais vê problema nisso e vai rompendo os vínculos que naturalmente se construíram entre ela e seus amigos animais “iguais”. Comer animais traveste-se, dessa maneira, de ato certo, bom e natural. Rompendo com o que traz consigo, naturalmente em seu íntimo, o ser humano torna-se homem artificial.
Se não fossem desatados pela educação (artificialização), os elos que se fazem entre ela e seus amigos animais, não precisaria ser dito à criança “não se deve comer carne” porque comer carne não seria nem mesmo uma hipótese credível de consideração. “Como poderia sequer pensar em alimentar-me de quem me é amigo?” proclamariam as crianças não-antropocêntricas crescidas. Entretanto, o que traz consigo em seu íntimo (o vínculo fácil e farto com animais), não é permitido consolidar-se e por isso entra em óbito (mortificação, esquecimento), ou antes, em hipostenia (debilitação, silenciamento).
4. OS SINAIS DA NATUREZA ROUBADA
4.1. Os rompantes de vínculo
Agora, deixemos nossa criança genérica e chamemos, para ilustrar o que se pretende afirmar, um pequeno camponês (caso real) que planta sua horta e cria seus animais para a subsistência própria e de sua família. Talvez seja esse um bom exemplo para aprofundarmos o debate acerca dos sinais do “homem natural” que restam em cada um apesar da artificialidade do “homem antropocêntrico” implantado e dominante em nós.
Esse homem simples do meio rural cria um porco por vez no chiqueiro para servir de provimento de carne tão logo o peso dele denuncie maturidade e a hora do abate. A ocasião é sempre de uma grande festividade: Natal, Páscoa, aniversário, casamento, etc.
É sempre o velho senhor que se encarrega da criação do porquinho, alimenta-o e dessedenta-o, e, naturalmente, tanto por descuido (outro envolvente) quanto por vontade (outro desejável), dá vazão ao que carrega em si: a precisão, a querença e a potência de vínculo.
O porquinho tem seu próprio nome. O velho senhor brinca e conversa com ele, acarinha-o, traz relva macia, trata-o com zelo como faz a um ente especial. O tempo vai passando e o porquinho crescendo e engordando, do mesmo modo que a amizade que une senhor e animal. O velho homem se apega cada vez mais burlando o prescrito pela sociedade. No entanto, a amizade, “nascida de enxerida”, “bobageira infantil”, conforme dizem os “homens” já formados (leia-se antropocentrados), não deve nem pode prosseguir.
Perguntam ao velho senhor como vai ser na hora do abate do animal, ele desconversa querendo não pensar nisso, não adiantar o passo… mas acaba soltando: “Vou pra cidade no dia… e volto bêbado!” Deixará o encargo de matar o bicho a outrem. Não seria capaz de fazê-lo. Seria traição. “Torna-te eternamente responsável por aquilo que cativas” diz Saint-Exupéry. O velho campônio sabe disso e sente assim também.
Esse é apenas um caso representativo de inumeráveis outros, facilmente registráveis. Basta conversar com quem vive cercado de animais tratando-os, mesmo que para fins comerciais, mas, especialmente, em situações de criação de subsistência. Orelha-torta, Manchada, Cotó, Perna-preta, Manquinho… todos animais que fazem dos humanos seus amigos, os conquistam o coração e os tiram a coragem e a vontade de matar-lhes.
A amizade sempre pega. No entanto, não de enxerida que é, mas de natural (imanente) e desejosa (transcendente) e ela só não se realiza quando, apesar de todos seus esforços (e pode acreditar que ela é fera nisso) o homem teima em matá-la em si. Em alguns casos, mortifica-se o “amigar” até um ponto que conforme se diz, não mais seja possível deixá-lo renascer — o homem artificial total (há que se refletir sobre essa suposta irreversibilidade).
Quem trabalha em fazendas industriais de criação de animais, em abatedouros e frigoríficos já se dessensibilizou por completo, ou está em vias disso. Já deixou (foi preciso deixar) morrer em si esse lastro natural que lhe acompanha desde que se fez gente. Os vínculos são naturalmente “vínculos gerais”, entre “iguais” apesar da espécie; socialmente é que eles assumem o tipo “vínculos particulares”, socialmente é que se internaliza o especismo (forma discriminatória pela qual seres humanos tratam seres de outras espécies animais como se estes existissem exclusivamente para servir aos interesses daqueles)[15].
Não pretendo aqui fazer juízo de valor (não tenho esse poder) sobre quem mata animais e/ou se alimenta com seus restos, até porque, conforme se sabe, a maciça maioria dos trabalhadores (de fazendas de criação intensiva, de abatedouros e frigoríficos, inclusive) não tem outra opção de trabalho (a exploração de animais e a exploração humana são faces da mesma realidade) e desde criança são educados para acharem natural e normal esses ofícios e essa dieta. Vivem imersos na artificialidade (antinaturalidade) do homem que é explorado e que explora — a naturalização da exploração.
4.2. O esquecimento forçado
Outro caso que pode ser trazido aqui é o das pessoas que não suportam matar ou sequer ver matar um animal porque, caso contrário, conforme elas mesmas afirmam, deixariam de ter coragem de comer carne. Isso só pode fazer-nos pensar numa coisa. Não se quer ver porque, caso contrário, a sua visão traria a realidade conhecida e que se tenta, forçosamente, esquecer (só se tenta esquecer o que se sabe). As pessoas esforçam-se continuamente nessa empreitada. Há ainda o caso dos que fazem isso por outros, por exemplo, pais que pensando fazer o “bem”, não dizem a verdade da carne: o que ela é, de onde ela vem, como é “produzida”.
Não são nacos de carne que estão aí para o deleite e a (suposta) saúde dos seres humanos, mas CORTES, PEDAÇOS arrancados de seres com os quais anteriormente compartilhava a vida (cadáveres, portanto). Isso é o que se mascara (tenta mascarar) e se ativamente esquece (tenta esquecer). No entanto, não importa em quantas partes foi cortado, nem de quais modos foi preparado, é sempre um corpo morto, um corpo drenado de vida o que está aí.
“A carne não existe.”[16] O ato de comer carne passa pela transformação de animais em carne o que, por sua vez, depende do inebriamento da ‘natureza humana’, qual seja, sensibilizar-se, apegar-se, fidelizar-se, irmanar-se. Somente matando em si os naturais elos e desejos de bemquerença para com os animais é que se pode reduzi-los a um monte de carne e se consegue comê-lo.
A sugestão de que cada qual cace e prepare o animal para alimentar-se dele causa repulsa à maioria das pessoas. Fuga, defesa, luta, choro, sangue é o que se vê em caçadas e abates de animais. Não creia que se perde a vida por entrega. Não há resignação da parte deles. É somente depois de um embate desesperado por manter-se vivo que a vida se lhes é roubada de seus condenados corpos.
Entretanto, não é isso que se encontra nos supermercados e não é isso que as pessoas querem saber. Elas se auto-infligem a ilusão da “vaquinha feliz”, da “galinha poedeira”, do “porquinho asseado”, da “lida gentil”, da “morte humanitária”, da “colheita da carne” como se colhe um fruto maduro do pé, sem traumas, sem gritos, sem dor, nem sangue. “Doce ilusão”.
“O ato de matar um animal é, em si, perturbador. Dizem que, se tivéssemos que matar nossa própria ‘carne’, seríamos todos vegetarianos. Com certeza, muitas poucas pessoas já visitaram um abatedouro e filmes que mostram o interior dos mesmos não são populares na TV. As pessoas esperam que a carne que compram venha de um animal que morreu sem dor. Mas eles não querem saber da verdade.” (trecho do documentário Terráqueos [17]). Uma pergunta provocante aos que se alimentam de “carne limpa” (comprada) pode ser aqui reproduzida: “se você não tem coragem de matar, por que tem coragem de comer?”.
5. CONCLUINDO
Não propus a discussão da evolução da espécie humana e do papel que o consumo de carne, eventualmente, tenha desempenhado nesse processo e sim da “natureza atual e local” do ser humano e do que diz respeito, em maior ou menor grau, às experiências de cada um de nós, desde a infância. Também não se trata de eleger culpados uma vez que as causas dos jeitos-de-ser do Hoje estão deveras emaranhadas no Ontem. Não se pode mudar o passado. E o presente não pode sê-lo de uma tacada só. PODEMOS pensar o presente e DEVEMOS projetar um futuro mais honesto às “sementes” trazidas no âmago do “homem natural médio de hoje”.
Talvez a realidade não se preste a acabados pensamentos e teorizações reducionistas tais como as que se passam aqui, mas julguei por bem arriscar-me a lançar essas palavras à folha com o fito de apresentar um contradiscurso mais que a tempo (se há quem defenda a ‘naturalidade’ do ato de comer carne, defendo a ‘antinaturalidade’ desse mesmo ato), até porque, se o Real é superior à capacidade de dele acercar-se por uma única via (explicação una), melhor provocarmos a proliferação de “altervisões” e explicações dissidentes, não nos contentando com o batido.
Crianças que se filiam aos animais, criadores que se apegam às suas criações e consumidores que precisam se iludir para manter seus hábitos e confortos me parecem indícios importantes que não podem nem devem ser negligenciados. Esses são sinais que nos dizem alguma coisa. Não é natural o que se precisa forçar mediante o mascaramento da realidade ou a mortificação de tendências. Não é natural o que imprescinde de conformação e consolidação contínuas. ‘Natureza’ que se mantêm por mentiras e omissões não é natureza, é forjamento.
Trazemos conosco, desde a infância, o apreço aos animais de modo que torná-los objetos, meios para fins de qualquer ordem não pode ser chamado natural. Natural é seu oposto: o modo-de-vida vegetariano estrito (vegano) que reconhece os animais como fins-em-si-mesmos tanto quanto você e eu o somos.
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NOTAS
[1] A elaboração do presente texto se deveu a várias críticas e sugestões de familiares e amigos.
[2] Vegano, membro do Grupo Abolicionista pela Libertação Animal (GALA), formado em Pedagogia (UFES, 2007) e graduando em Ciências Sociais (UFES). E-mail: allanzocolotto@yahoo.com.br
[3] MILLS, Milton. The comparative anatomy of eating. Disponível em:
[4] Doutora em Teoria Política e Filosofia Moral pela Universidade de Konstanz, Alemanha (1991) e grande promotora do veganismo no Brasil.
[5] FELIPE, Sônia T. Ética predatória? In: Pensata animal: revista de direitos dos animais. 2009. Disponível em:
[6] Não me ponho a discutir a temática ‘sexo e gênero’. Apenas para deixar o texto mais fluido é que escrevi tão-somente “homem e mulher”. O certo teria sido servir-me da expressão “homem e mulher e algo mais”.
[7] Chamo “natureza histórica do homem”, “natureza recente do homem médio de hoje” ou “natureza atual e local” o que em, alguma medida, num dado período histórico e determinado lócus geográfico, pode ser encontrado no estrato psicológico-subjetivo de cada sujeito. Por mais que sejamos diferentes uns dos outros, compartilhamos algumas concepções, trejeitos e inclinações junto aos demais seres humanos locados no mesmo tempo-espaço. A concepção de “consciência coletiva” talvez sirva para aproximarmo-nos do entendimento aqui proposto.
[8] Para além do outro necessário (determinado pela precisão de vínculos sem os quais não há humano) está, como natural do humano, o desejo, a vontade, a querença, a não-satisfação plena, a incompletude assumida e a gula de Ser mais, o não-contentamento completo, a-fome-a-sede-o-sono-o-tesão não-saciáveis de uma vez por todas. Esse “quero mais” é o fluxo do e para o outro desejável (nomeia-se abulia a ausência de vontade, a perda total ou parcial de ânimo, o estado de apatia generalizada não-salutar). Somado a isso tudo existe ainda o outro envolvente (ou cativante), aquele que não é convidado, que não se espera e, mesmo assim, se aproxima, se encosta, vai ficando e, de repente, quando se percebe, já se incluiu e foi incluído.
[9] ‘Meninos selvagens’ são crianças que, por algum motivo, ausentaram-se do convívio com humanos e acabaram sendo criadas, acredita-se, por fêmeas de mamíferos em gestação e amamentação (lobas, ursas, macacas, cabras, etc.), como seus próprios filhotes. Quando reencontradas, estabelecido o convívio e realizadas análises, essas crianças acendem o debate acerca do que sejam ‘atributos humanos’ e da casualidade da situação, caminhando no sentido de confirmar que “recebemos a natureza por herança, mas a cultura não nos pode ser dada senão pela educação”.
(TRUFFAUT, François. In: GONÇALVES, Jorge; PEIXOTO, Maria Alexandra. O menino selvagem: estudo do caso de uma criança retratado no filme “O menino selvagem” de François Truffaut. Disponível em:
[10] Relação afetuoso-emotiva construída sócio-históricamente mas deveras influenciada pelo “lastro natural” que jaz em todos.
[11] Senciência refere-se à sensibilidade e à consciência. Diz da capacidade que os animais dotados de sistema nervoso central (vertebrados superiores — mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes) possuem de sentir dor, medo, alegria, prazer, estresse, memória e até saudades. Com base nisso, Peter Singer sintetizou o princípio da igual consideração dos interesses semelhantes, pelo qual propõe que todos os interesses semelhantes sejam considerados de modo semelhante. “Interesses são interesses e devem ser considerados por igual — sejam eles os interesses de seres humanos ou de animais, com ou sem consciência de si.” Alguns teóricos concebem que o direito à vida deve ser exclusivo dos que têm autoconsciência. Contudo, quando não temos indícios científicos de que um ser tem consciência de si devemos dar a ele o benefício da dúvida.
Um ser sensível, autoconsciente ou não, é um ser de interesses e preferências. Por ser capaz de sentir dor ou alguma fruição, num estado doloroso tem a preferência de ter sua dor aliviada e merecem tê-la. (TONETTO, Milene Consenso. Do valor da vida senciente e autoconsciente. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 207-222, Dez 2004. Disponível em:
[12] OLIVEIRA, Gabriela Dias de. A teoria dos direitos animais humanos e não-humanos, de Tom Regan. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 283-299, Dez 2004. Disponível em:
[13] Senciocentrismo: senciência como critério definidor da pertinência à comunidade moral.
(FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, senciocentrismo, ecocentrismo, biocentrismo. In: Questão de ética. Agência de notícias de Direitos Animais. Disponível em:
[14] A racionalidade e a linguagem vão nascendo, progressivamente, em “humanos paradigmáticos”. Devemos lembrar daqueles cujas características os tornam diferentes do que se concebe como “humano típico” (crianças pequenas, portadores de necessidades especiais, indivíduos com comprometimentos psicológicos, etc.) e, apesar disso, não se cogita a possibilidade de excluí-los do âmbito das nossas considerações morais, muito pelo contrário, a eles é devotado um cuidado todo especial.
[15] O termo foi criado pelo cientista e filósofo Richard D. Ryder na década de 1970 e divulgado por Peter Singer desde 1975 ao argumentar em defesa do emprego do princípio da igual consideração de interesses semelhantes no tratamento dos animais. (FELIPE. In: TONETTO, M. C. Do valor da vida senciente e autoconsciente. In: ethic@, Florianópolis, v.3, n.3, p. 207-222, Dez 2004. Disponível em:
[16] “A carne não existe” no sentido de que sua verdade é “maquiada”. A existência da carne depende de condições bem controladas, é um artifício, uma invenção, uma simulação, uma encenação. Basta lembrar das embalagens dos produtos de origem animal: nelas aparecem “vaquinhas felizes”, “frangos sorridentes”, etc., todas imagens de uma realidade fictícia, carregadas de um “romantismo rural”. A “carne” depende, para continuar a existir, de um processo ativo de rompimento com o que se sabe e sente. Depende da exploração e da morte explícitas de animais cujas sensibilidade e autenticidade dos sentimentos são conhecidas. “Como podemos provar que os animais sentem dor e prazer?” Poderiam perguntar. Ora, a mesma pergunta pode ser feita para questionar como sabemos que outro humano sente dor. Se nunca sentimos a dor do outro, como sabermos se ela é real? A ciência comprova que se um ser possui um sistema nervoso central e um cérebro este ser não somente sente dor como também é ciente dessa dor. “[...] Além do mais, todos sabemos que quando se chuta um cão, ele late; quando se marca um cavalo a ferro quente, ele grita e faz expressões faciais demonstrando sua agonia e quando se mata um porco, ele grita e se debate. Animais não são meras máquinas que respondem com gritos artificiais por ajuda, muito pelo contrário, eles são capazes de sofrer e têm uma vida rica em emoções e sentimentos, que são mais sinceros que os dos humanos. [...]”
(SOCIEDADE MUNDO VEGAN. Dúvidas frequentes, respostas coerentes. Disponível em:
[17] Earthlings (Terráqueos, em português) é um documentário estadunidense de 2005, escrito, produzido e dirigido por Shaun Monson e co-produzido por Persia White. É narrado pelo ator e ativista dos direitos animais Joaquin Phoenix, que também é vegano e membro da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). O filme mostra como funcionam as fazendas industriais e relata a dependência da humanidade sobre os animais. Compara o especismo da espécie humana com outras relações de dominação, como o racismo e o sexismo. O filme faz estudo detalhado das lojas de animais, das fábricas de filhotes e dos abrigos para animais, assim como das fazendas industriais, do comércio de peles e de couro, das indústrias da diversão e esportes, e finalmente, do uso médico e científico. Terráqueos usa câmeras escondidas para detalhar as práticas diárias de algumas das maiores ind
ústrias do mundo, todas visando o lucro com os animais.
(Terráqueos. Disponível em:
Noticias e Não Notícias
Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios. É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam.
- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
- Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.
- Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
- Ele faz pincel, professora?
- Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
- Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.
- Vivo, fessora?
- A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
- Depois a gente come a vicunha, né fessora?
- Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
- A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.
- Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
- A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral.
- Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pingüim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pingüim…
- A senhora disse que a gente deve respeitar.
- Claro. Mas o óleo é bom.
- Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
- Pois lucra. O pêlo dá escovas é de ótima qualidade.
- E o castor?
- Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo.
- Eu, hem?
- Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living da sua casa.
Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não cauculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado.
- Engraçado, como?
- Apanha peixe pra gente.
- Apanha e entrega, professora?
- Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.
- Bobo que ele é.
- Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
- Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos.
(Texto extraído de Drummond, Carlos de. De notícias e não notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975)
- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
- Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.
- Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
- Ele faz pincel, professora?
- Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
- Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.
- Vivo, fessora?
- A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
- Depois a gente come a vicunha, né fessora?
- Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
- A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.
- Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
- A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral.
- Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pingüim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pingüim…
- A senhora disse que a gente deve respeitar.
- Claro. Mas o óleo é bom.
- Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
- Pois lucra. O pêlo dá escovas é de ótima qualidade.
- E o castor?
- Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo.
- Eu, hem?
- Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living da sua casa.
Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não cauculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado.
- Engraçado, como?
- Apanha peixe pra gente.
- Apanha e entrega, professora?
- Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.
- Bobo que ele é.
- Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
- Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos.
(Texto extraído de Drummond, Carlos de. De notícias e não notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975)
quarta-feira, 7 de julho de 2010
CONSEQUENCIAS DA PECUÁRIA
A pecuária é uma das atividades humanas mais impactantes, responsável por grande consumo de água, grãos, combustíveis fósseis, pesticidas e drogas e fornecendo de volta, além de seus produtos (carne, leite e ovos), também a destruição de ecossistemas, perda de biodiversidade, erosão do solo, desertificação, escassez de água, contaminação do solo e da água e efeito estufa.
Estas consequências ecológicas se refletem também em problemas sociais, quando incidem sobre a disputa por território e o problema da fome. Quando falamos da fome, precisamos analisar bem os dados. Produzimos mais caloria do que consumimos (veja o quadro), portanto a fome não teria justificativa.
Produção mundial de grãos 1,86 bilhões de toneladas
Produção em calorias 7,5 quadrilhões
População mundial 6,5 bilhões de pessoas
Necessidades calóricas desta população 6 quadrilhões Cal. produzidas menos cal. requeridas 1,5 quadrilhões
Para onde vão estes 1,5 quadrilhões de calorias que sobram todos os anos?
Para a alimentação de animais.
Muitas pessoas argumentam que não há nada de errado em alimentar animais com grãos que serviriam para alimentar seres humanos, se depois comeremos estes animais.
Mas acontece que quando usamos animais como transformadores de energia, quando criamos um elo na pirâmide de niveis tróficos, estamos disperdiçando energia. Dependendo de quais grãos estamos falando, são necessário de 11 a 17 calorias para criar apenas uma caloria de carne. Estes grãos seriam usados mais eficientemente se consumidos diretamente por seres humanos.
As consequencias disso para a questão da fome são óbvias. Quantas pessoas posso sustentar em uma mesma área comendo animais e vegetais?
Fizemos as contas. Veja os dados que obtivemos considerando a produtividade brasileira deste ano:
Milho - 26 pessoas/ha/ano
Soja - 11 pessoas/ha/ano
Arroz - 14 pessoas/ha/ano
Feijão 14 pessoas/ha/ano
Trigo - 8 pessoas/ha/ano Mandioca - 23 pessoas/ha/ano Leite - 0,62 pessoas/ha/ano
Carne - 0,08 pessoas/ha/ano
Ou seja, a carne permite o sustento de 100 vezes menos gente do que o trigo, que já não é um produto adequado em nossas terras
Fiz as contas utilizando um dado da FAO, que diz que todos os anos 465 milhões de toneladas de grãos são usadas na alimentação de gado. Menos de 0,30% desta quantidade já seria suficiente para salvar da fome mais de 6 milhões de crianças menores de 5 anos que morrem de desnutrição todos os anos. Com 2,5% desta quantidade já resolveriamos o problema da fome no Brasil (46 milhões de famintos). Com 50% disto resolveria-se o problema da fome no mundo inteiro.
Os pastos podem ser encarados como grandes superfícies estéreis. Eles ocupam 3,4 bilhões de ha do mundo, 2/3 da superfície agriculturável. A demanda por novos pastos ocasiona novo desmatamento. Não são as madeireiras, mas os pecuaristas que desmatam a Amazônia. Mais de 1/3 do gado brasileiro está naquela região. Lá para cada 1 hectare de cultura tem 6 hectares de pasto. Destruir florestas para criar pastos significa destruir habitats naturais, destruir a biodiversidade para estabelecer no local uma "monocultura" de bovinos. Os animais que sobrevivem a esta destruição e de alguma forma se adaptam a estas novas condições acabam sendo considerados 'pragas' pelo pecuarista, porque ou competem com o gado pelo pasto ou acabam atacando o gado.
Eles são destruidos.
Ano após ano pastando no mesmo lugar e os animais acabam esgotado o pasto. Além da retirada de nutrientes, o gado compacta o solo e impede o rebrotamento. Muitos destes pastos passam a ser varridos pelos ventos e arrastados pelas águas de chuva. Os resultados são as voçorocas e a perda de fertilidade. A evolução deste processo é conhecida como 'desertificação'. É possivel que o deserto do Sahara tenha sido resultado da ação de tribos nômades que passaram ali por muito tempo com ovelhas, cabras e camelos. Sabemos que ali era antes uma região fértil. Também hoje podemos observar que cresce o deserto da China e até no Amazonas. Tudo resultado da pecuária. Áreas que perderam sua cobertura vegetal tendem a apresentar temperaturas 4º C maior do que apresentavam antes. Fora isso, o gado também contribui com os gases do efeito estufa CO2, metano e oxido nitroso, seja pela flatulência, seja pela eructação.
Ou seja, a pecuária está diretamente relacionada ao aquecimento global.
Falemos então da escassez de água. A pecuária utiliza água em diferentes partes de seu processo. Água é utilizada para irrigar os campos que fornecerão grãos para o gado e temos dados que dizem que a irrigação não seria necessária se não fosse pela pecuária, pois somente precisariamos ocupar terras propícias para o cultivo de alimentos, sem necessidade de irrigação.
Temos de considerar também a água utilizada na pecuária para dessedentação de animais. Veja no quadro abaixo quanta água cada espécie animal consome por dia
Espécie Litros/unid./dia
Bovino 50
Bubalino 60
Eqüídeo 40
Ovinos 7
Suínos 20
Caprinos 7
Aves 0,36
Fora isto, água também é utilizada no processamento de carcaças, nos abatedouros e matadouros. Dados do Estado de S. Paulo mostram que para o processamento de uma única carcaça de frango são necessários 11,9 litros de água.
Para o processamento de uma só carcaça bovina são necessários de 2.500 a 3.900 litros.
Apenas para comparar cada pessoa utiliza de 120 a 150 litros de água por dia. Apenas 8% da água captada é destinada para consumo humano. O caso da água é extremamente alarmante. O estoque de água do planeta é o mesmo desde sempre. A população, pelo contrário, cresce de ano para ano. Os padrões de consumo desta população também, estão cada vez mais refinados. Por outro lado, atualmente 1/3 da população do mundo já vive em países com escassez de água(< 2.000 m³/capita/ano). A projeção é de que em 2025 sejamos 2/3 da população vivendo nestas condições.
Temos ainda o problema da associação da pecuária com a contaminação do solo e da água. Excrementos animais quando atingem corpos de água ocasionam em eutrofização, proliferação de algas, mortandade de peixes, risco à saúde pública e de contaminação.
A disposição de esterco no solo, se não for bem feita não é adubo, mas veneno. Na Europa e EUA já temos grandes quantidades de solos contaminados apenas por excrementos animais. Dispor adequadamento implicaria em curtí-lo; por mais de 120 dias, tratá-lo, transportá-lo e distribuí-lo nos campos. Isto significa custos que o pecuarista não quer ter, porque não pode ser repassado para a carne.
A carne é barata porque nela não estão embutidos os preços da floresta, dos animais que vão à extinção, do solo que se perde, da poluição ocasionada, da água desperdiçada e em muitos casos dos grãos consumidos pelo gado. Apenas isto torna a pecuária uma atividade economicamente viável. Não devemos ver nela, porém, uma atividade importante para o Brasil, pois embora o dinheiro agora esteja entrando, às custas de que isto vem acontecendo? O pecuarista sem dúvida lucra, nós não.
Sérgio Greif
Departamento de Meio AmbienteSociedade Vegetariana Brasileira
A Pecuária e as Mudanças Climáticas*
A destruição das florestas para abertura de pastos e campos de cultivo para alimentação do gado tem diversas implicações, como o comprometimento da biodiversidade e a promoção de processos erosivos e de desertificação. Mas a importância das florestas não se limita à preservação de nossos recursos hídricos e absorção de poluentes, as florestas também funcionam como sumidouros de carbono da atmosfera, contribuindo para a regulagem do clima global. Quando as plantas realizam fotossíntese, captam CO2 da atmosfera e aproveitam este carbono para a síntese de diferentes moléculas orgânicas, inclusive seus próprios tecidos. A queima de uma floresta devolve para a atmosfera grande parte deste carbono absorvido pelas plantas. Estudos mostram que pelo menos 70% das emissões de gases do efeito estufa estão relacionadas ao desmatamento e à pecuária. Pecuária e gases de efeito estufaOs gases do efeito estufa são principalmente o dióxido de carbono, o metano, os clorofluorcarbonetos (CFCs) e os óxidos de nitrogênio. A queima de matéria orgânica (madeira e combustíveis hidrocarbonetos), como vimos, está relacionada com a emissão de dióxido de carbono. O nitrogênio proveniente dos resíduos animais é fonte importante do óxido nitroso (N2O). As emissões de N2O dos solos ocorrem principalmente como consequência da desnitrificação a partir de nitrogênio mineral (N). A desnitrificação consiste na redução microbiana do nitrato (NO3) às formas intermediárias de N e então às formas gasosas (NO, N2O e N2) que são comumente perdidas para a atmosfera. Estima-se que as emissões globais de N2O pelo homem sejam de cerca de 5,7 milhões de toneladas de nitrogênio por ano. As emissões diretas por parte de animais de criação comercial (principalmente bovinos e suínos) foram estimadas em 1,6 milhões de toneladas de nitrogênio por ano.
A pecuária é também uma das maiores fontes de emissão de gás metano para a atmosfera. O processo de formação do gás ocorre durante o processo digestivo de fermentação entérica de animais ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos), sendo o metano subproduto deste processo, liberado para a atmosfera através da flatulência e eructação dos animais. Em média, estima-se que 6% de todo o alimento consumido pelo gado no mundo seja convertido em gás metano. O metano é 24 vezes mais potente do que o dióxido de carbono para causar aquecimentos atmosféricos, contribuindo com 15% do total do aquecimento global. Emissões de metano pela pecuária
O rebanho mundial de bovinos é hoje estimado em mais de 1 bilhão de cabeças. A EPA (2000) estimou as emissões globais de metano geradas a partir dos processos entéricos de ruminantes de criação em 80 milhões de toneladas por ano, correspondendo a cerca de 22% das emissões totais de metano geradas por atividades humanas. O mesmo relatório estimou a emissão proveniente de dejetos animais em cerca de 25 milhões de toneladas ao ano, correspondendo a 7% da emissão total.
O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo. De acordo com o Inventário Nacional das Emissões de Gases de Efeito Estufa provenientes de Atividades Agrícolas, realizado desde 1996 pela Embrapa Meio Ambiente, 96% do metano produzido na agricultura do país provém da pecuária bovina de corte e de leite. Outros animais como bubalinos, muares, caprinos, asininos, eqüinos e suínos são responsáveis pelos 4% restantes das emissões de metano. Cerca de 68% da pecuária nacional é representada por bovinos (87% correspondendo aos bovinos de corte e 13% aos bovinos de leite). Estimou-se que as emissões de metano pela pecuária brasileira em 1995 fora de cerca de 9,2 milhões de toneladas de CH4, considerando-se os efetivos de bovinos (160 milhões de animais) e a produção de dejetos animais à época.
Efeito estufa e alterações climáticas
O efeito estufa é um processo natural que permite manter parte do calor irradiado pela Terra na atmosfera. Sem este efeito, a temperatura na superfície da Terra à sombra seria de - 4ºC (quatro graus centígrados negativos). No entanto, o acumulo atmosférico de gases do efeito estufa que passou a ocorrer a partir da industrialização e aumento nas atividades pecuárias tem levado a um rápido aumento das temperaturas médias terrestres.
Estima-se que, se a taxa atual de aumento de gases do efeito estufa no planeta continuar pelo próximo século, as temperaturas médias globais poderão subir até 0,8 ºC por década. Desta forma, em 2100 a terra poderia estar 3,5 ºC mais quente do que é hoje. Tal aumento nas temperaturas implicaria em drásticas e graves conseqüências em escala global. Parte destas conseqüências pode ser facilmente verificada, através do aumento na freqüência de desastres naturais. Não para menos, do clima dependem os regimes de ventos e chuvas, das correntes oceânicas, a umidade do solo, radiação solar e o fluxo de águas superficiais entre outros. Alterações climáticas implicam não apenas em desequilíbrios ambientais e extinções em massa de animais e plantas, mas afetam diretamente atividades humanas, como a agricultura, por exemplo.
*Sérgio Greif
Biólogo, Coordenador do Departamento de Meio Ambiente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mestre em Alimentos e Nutrição, Especialista em Nutrição Vegetariana
Estas consequências ecológicas se refletem também em problemas sociais, quando incidem sobre a disputa por território e o problema da fome. Quando falamos da fome, precisamos analisar bem os dados. Produzimos mais caloria do que consumimos (veja o quadro), portanto a fome não teria justificativa.
Produção mundial de grãos 1,86 bilhões de toneladas
Produção em calorias 7,5 quadrilhões
População mundial 6,5 bilhões de pessoas
Necessidades calóricas desta população 6 quadrilhões Cal. produzidas menos cal. requeridas 1,5 quadrilhões
Para onde vão estes 1,5 quadrilhões de calorias que sobram todos os anos?
Para a alimentação de animais.
Muitas pessoas argumentam que não há nada de errado em alimentar animais com grãos que serviriam para alimentar seres humanos, se depois comeremos estes animais.
Mas acontece que quando usamos animais como transformadores de energia, quando criamos um elo na pirâmide de niveis tróficos, estamos disperdiçando energia. Dependendo de quais grãos estamos falando, são necessário de 11 a 17 calorias para criar apenas uma caloria de carne. Estes grãos seriam usados mais eficientemente se consumidos diretamente por seres humanos.
As consequencias disso para a questão da fome são óbvias. Quantas pessoas posso sustentar em uma mesma área comendo animais e vegetais?
Fizemos as contas. Veja os dados que obtivemos considerando a produtividade brasileira deste ano:
Milho - 26 pessoas/ha/ano
Soja - 11 pessoas/ha/ano
Arroz - 14 pessoas/ha/ano
Feijão 14 pessoas/ha/ano
Trigo - 8 pessoas/ha/ano Mandioca - 23 pessoas/ha/ano Leite - 0,62 pessoas/ha/ano
Carne - 0,08 pessoas/ha/ano
Ou seja, a carne permite o sustento de 100 vezes menos gente do que o trigo, que já não é um produto adequado em nossas terras
Fiz as contas utilizando um dado da FAO, que diz que todos os anos 465 milhões de toneladas de grãos são usadas na alimentação de gado. Menos de 0,30% desta quantidade já seria suficiente para salvar da fome mais de 6 milhões de crianças menores de 5 anos que morrem de desnutrição todos os anos. Com 2,5% desta quantidade já resolveriamos o problema da fome no Brasil (46 milhões de famintos). Com 50% disto resolveria-se o problema da fome no mundo inteiro.
Os pastos podem ser encarados como grandes superfícies estéreis. Eles ocupam 3,4 bilhões de ha do mundo, 2/3 da superfície agriculturável. A demanda por novos pastos ocasiona novo desmatamento. Não são as madeireiras, mas os pecuaristas que desmatam a Amazônia. Mais de 1/3 do gado brasileiro está naquela região. Lá para cada 1 hectare de cultura tem 6 hectares de pasto. Destruir florestas para criar pastos significa destruir habitats naturais, destruir a biodiversidade para estabelecer no local uma "monocultura" de bovinos. Os animais que sobrevivem a esta destruição e de alguma forma se adaptam a estas novas condições acabam sendo considerados 'pragas' pelo pecuarista, porque ou competem com o gado pelo pasto ou acabam atacando o gado.
Eles são destruidos.
Ano após ano pastando no mesmo lugar e os animais acabam esgotado o pasto. Além da retirada de nutrientes, o gado compacta o solo e impede o rebrotamento. Muitos destes pastos passam a ser varridos pelos ventos e arrastados pelas águas de chuva. Os resultados são as voçorocas e a perda de fertilidade. A evolução deste processo é conhecida como 'desertificação'. É possivel que o deserto do Sahara tenha sido resultado da ação de tribos nômades que passaram ali por muito tempo com ovelhas, cabras e camelos. Sabemos que ali era antes uma região fértil. Também hoje podemos observar que cresce o deserto da China e até no Amazonas. Tudo resultado da pecuária. Áreas que perderam sua cobertura vegetal tendem a apresentar temperaturas 4º C maior do que apresentavam antes. Fora isso, o gado também contribui com os gases do efeito estufa CO2, metano e oxido nitroso, seja pela flatulência, seja pela eructação.
Ou seja, a pecuária está diretamente relacionada ao aquecimento global.
Falemos então da escassez de água. A pecuária utiliza água em diferentes partes de seu processo. Água é utilizada para irrigar os campos que fornecerão grãos para o gado e temos dados que dizem que a irrigação não seria necessária se não fosse pela pecuária, pois somente precisariamos ocupar terras propícias para o cultivo de alimentos, sem necessidade de irrigação.
Temos de considerar também a água utilizada na pecuária para dessedentação de animais. Veja no quadro abaixo quanta água cada espécie animal consome por dia
Espécie Litros/unid./dia
Bovino 50
Bubalino 60
Eqüídeo 40
Ovinos 7
Suínos 20
Caprinos 7
Aves 0,36
Fora isto, água também é utilizada no processamento de carcaças, nos abatedouros e matadouros. Dados do Estado de S. Paulo mostram que para o processamento de uma única carcaça de frango são necessários 11,9 litros de água.
Para o processamento de uma só carcaça bovina são necessários de 2.500 a 3.900 litros.
Apenas para comparar cada pessoa utiliza de 120 a 150 litros de água por dia. Apenas 8% da água captada é destinada para consumo humano. O caso da água é extremamente alarmante. O estoque de água do planeta é o mesmo desde sempre. A população, pelo contrário, cresce de ano para ano. Os padrões de consumo desta população também, estão cada vez mais refinados. Por outro lado, atualmente 1/3 da população do mundo já vive em países com escassez de água(< 2.000 m³/capita/ano). A projeção é de que em 2025 sejamos 2/3 da população vivendo nestas condições.
Temos ainda o problema da associação da pecuária com a contaminação do solo e da água. Excrementos animais quando atingem corpos de água ocasionam em eutrofização, proliferação de algas, mortandade de peixes, risco à saúde pública e de contaminação.
A disposição de esterco no solo, se não for bem feita não é adubo, mas veneno. Na Europa e EUA já temos grandes quantidades de solos contaminados apenas por excrementos animais. Dispor adequadamento implicaria em curtí-lo; por mais de 120 dias, tratá-lo, transportá-lo e distribuí-lo nos campos. Isto significa custos que o pecuarista não quer ter, porque não pode ser repassado para a carne.
A carne é barata porque nela não estão embutidos os preços da floresta, dos animais que vão à extinção, do solo que se perde, da poluição ocasionada, da água desperdiçada e em muitos casos dos grãos consumidos pelo gado. Apenas isto torna a pecuária uma atividade economicamente viável. Não devemos ver nela, porém, uma atividade importante para o Brasil, pois embora o dinheiro agora esteja entrando, às custas de que isto vem acontecendo? O pecuarista sem dúvida lucra, nós não.
Sérgio Greif
Departamento de Meio AmbienteSociedade Vegetariana Brasileira
A Pecuária e as Mudanças Climáticas*
A destruição das florestas para abertura de pastos e campos de cultivo para alimentação do gado tem diversas implicações, como o comprometimento da biodiversidade e a promoção de processos erosivos e de desertificação. Mas a importância das florestas não se limita à preservação de nossos recursos hídricos e absorção de poluentes, as florestas também funcionam como sumidouros de carbono da atmosfera, contribuindo para a regulagem do clima global. Quando as plantas realizam fotossíntese, captam CO2 da atmosfera e aproveitam este carbono para a síntese de diferentes moléculas orgânicas, inclusive seus próprios tecidos. A queima de uma floresta devolve para a atmosfera grande parte deste carbono absorvido pelas plantas. Estudos mostram que pelo menos 70% das emissões de gases do efeito estufa estão relacionadas ao desmatamento e à pecuária. Pecuária e gases de efeito estufaOs gases do efeito estufa são principalmente o dióxido de carbono, o metano, os clorofluorcarbonetos (CFCs) e os óxidos de nitrogênio. A queima de matéria orgânica (madeira e combustíveis hidrocarbonetos), como vimos, está relacionada com a emissão de dióxido de carbono. O nitrogênio proveniente dos resíduos animais é fonte importante do óxido nitroso (N2O). As emissões de N2O dos solos ocorrem principalmente como consequência da desnitrificação a partir de nitrogênio mineral (N). A desnitrificação consiste na redução microbiana do nitrato (NO3) às formas intermediárias de N e então às formas gasosas (NO, N2O e N2) que são comumente perdidas para a atmosfera. Estima-se que as emissões globais de N2O pelo homem sejam de cerca de 5,7 milhões de toneladas de nitrogênio por ano. As emissões diretas por parte de animais de criação comercial (principalmente bovinos e suínos) foram estimadas em 1,6 milhões de toneladas de nitrogênio por ano.
A pecuária é também uma das maiores fontes de emissão de gás metano para a atmosfera. O processo de formação do gás ocorre durante o processo digestivo de fermentação entérica de animais ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos), sendo o metano subproduto deste processo, liberado para a atmosfera através da flatulência e eructação dos animais. Em média, estima-se que 6% de todo o alimento consumido pelo gado no mundo seja convertido em gás metano. O metano é 24 vezes mais potente do que o dióxido de carbono para causar aquecimentos atmosféricos, contribuindo com 15% do total do aquecimento global. Emissões de metano pela pecuária
O rebanho mundial de bovinos é hoje estimado em mais de 1 bilhão de cabeças. A EPA (2000) estimou as emissões globais de metano geradas a partir dos processos entéricos de ruminantes de criação em 80 milhões de toneladas por ano, correspondendo a cerca de 22% das emissões totais de metano geradas por atividades humanas. O mesmo relatório estimou a emissão proveniente de dejetos animais em cerca de 25 milhões de toneladas ao ano, correspondendo a 7% da emissão total.
O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo. De acordo com o Inventário Nacional das Emissões de Gases de Efeito Estufa provenientes de Atividades Agrícolas, realizado desde 1996 pela Embrapa Meio Ambiente, 96% do metano produzido na agricultura do país provém da pecuária bovina de corte e de leite. Outros animais como bubalinos, muares, caprinos, asininos, eqüinos e suínos são responsáveis pelos 4% restantes das emissões de metano. Cerca de 68% da pecuária nacional é representada por bovinos (87% correspondendo aos bovinos de corte e 13% aos bovinos de leite). Estimou-se que as emissões de metano pela pecuária brasileira em 1995 fora de cerca de 9,2 milhões de toneladas de CH4, considerando-se os efetivos de bovinos (160 milhões de animais) e a produção de dejetos animais à época.
Efeito estufa e alterações climáticas
O efeito estufa é um processo natural que permite manter parte do calor irradiado pela Terra na atmosfera. Sem este efeito, a temperatura na superfície da Terra à sombra seria de - 4ºC (quatro graus centígrados negativos). No entanto, o acumulo atmosférico de gases do efeito estufa que passou a ocorrer a partir da industrialização e aumento nas atividades pecuárias tem levado a um rápido aumento das temperaturas médias terrestres.
Estima-se que, se a taxa atual de aumento de gases do efeito estufa no planeta continuar pelo próximo século, as temperaturas médias globais poderão subir até 0,8 ºC por década. Desta forma, em 2100 a terra poderia estar 3,5 ºC mais quente do que é hoje. Tal aumento nas temperaturas implicaria em drásticas e graves conseqüências em escala global. Parte destas conseqüências pode ser facilmente verificada, através do aumento na freqüência de desastres naturais. Não para menos, do clima dependem os regimes de ventos e chuvas, das correntes oceânicas, a umidade do solo, radiação solar e o fluxo de águas superficiais entre outros. Alterações climáticas implicam não apenas em desequilíbrios ambientais e extinções em massa de animais e plantas, mas afetam diretamente atividades humanas, como a agricultura, por exemplo.
*Sérgio Greif
Biólogo, Coordenador do Departamento de Meio Ambiente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mestre em Alimentos e Nutrição, Especialista em Nutrição Vegetariana
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Sacolas Plásticas
A Assembleia Legislativa do Rio aprovou um projeto de lei, de autoria do deputado Paulo Ramos, que prorroga até 2011 a entrada em vigor da lei que restringe o uso de sacolas plásticas em supermercados do Estado, prevista anteriormente para entrar em vigor no dia 15 de julho.
A Lei das Sacolas Plásticas, de autoria do deputado estadual Carlos Minc, prevê três opções para que os supermercados reduzam o uso de sacolas: substituição por sacos reutilizáveis, troca de 50 sacos usados por 1 quilo de um alimento da cesta básica ou desconto de R$ 0,03 para cada cinco objetos que forem vendidos sem os sacos.
(O Estado de S. Paulo)
A Lei das Sacolas Plásticas, de autoria do deputado estadual Carlos Minc, prevê três opções para que os supermercados reduzam o uso de sacolas: substituição por sacos reutilizáveis, troca de 50 sacos usados por 1 quilo de um alimento da cesta básica ou desconto de R$ 0,03 para cada cinco objetos que forem vendidos sem os sacos.
(O Estado de S. Paulo)
quarta-feira, 23 de junho de 2010
SARAMAGO AMBIENTALISTA
Morre, aos 87 anos, um dos maiores escritores da língua portuguesa, José Saramago.
O autor deixa um legado de boas histórias e exemplos de proteção às florestas.
Em 25 de outubro de 2005, José Saramago lançou o primeiro livro impresso em papel e gráfica com certificação FSC no Brasil, "As Intermitências da Morte". O FSC, Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, tem o único sistema de certificação independente que adota padrões socioambientais internacionalmente de manejo florestal.
Para o lançamento dessa então nova obra, o escritor, primeiro de língua portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura em 1998, pediu pessoalmente a suas editoras em todo o mundo que seguissem normas ambientalmente adequadas para produzí-la.
No mesmo dia, Saramago divulgou seu apoio à campanha de proteção da Amazônia do Greenpeace. O Greenpeace encoraja a indústria editorial em diversos países a deixar de usar papel cuja produção acarrete a destruição das florestas e a adotar práticas social e ambientalmente adequadas na utilização de produtos florestais, como o uso de papel reciclado ou certificado pelo FSC.
A iniciativa de Saramago representou um importante passo para o mercado editorial diminuir o impacto no desmatamento, estimulado pela demanda de papel para a produção do setor. Sua morte representa uma perda para a literatura e para as florestas.
José Saramago nasceu em Portugal, em 1922, e tornou-se um dos mais importantes escritores do mundo. Escreveu, entre outros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento e Ensaio sobre a Cegueira. Sempre preocupado com as causas sociais, nos últimos anos contribuiu com o movimento socioambiental.
(DO GREENPEACE)
Morre José Saramago, grande escritor e defensor dos animais
Por Lilian Garrafa
“Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso.” (José Saramago)
A morte do escritor portugues, José Saramago, nesta sexta-feira 18, deixou entristecidos
não só os apreciadores de sua excelente literatura, como também os defensores dos animais.
Saramago mostrava uma nobreza de alma e sensibilidade comovente também em relação aos animais não humanos. Sua compaixão por eles foi visível em inúmeros textos e responsável pela disseminação de ideais de justiça e respeito a todos os seres.
Crítico contumaz do confinamento animal, o escritor, que tinha 87 anos, relatou em um belíssimo texto a tristeza que vivem os animais mantidos em circos e em zoológicos para entretenimento humano.
Ele chegou a visitar a elefanta Susi, que vivia num zoológico na Espanha e estava passando por depressão, estresse e solidão. Saramago, ao vê-la, disse que ela estaria “morrendo de tristeza”.
Em sua obra Ensaio sobre a Cegueira, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura, Saramago não trata apenas da cegueira física, mas da cegueira moral dentro da qual a sociedade se encontra.
“Por que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem”.
Uma grande reflexão que pode ser aplicada ao imenso sofrimento que a humanidade, cega da alma, aplica insensivelmente a tudo e a todos a seu redor. A cegueira da moral e da ética.
A cegueira que beira a irracionalidade também foi abordada por Saramago no texto “A Racionalidade Irracional”. Um relato que não poupou o ser humano, ao mostrá-lo como cruel e torturador, apesar de sua razão, a qual deveria ser mantenedora da vida. Analisa e mostra a mesquinhez humana que vai atrás do lucro, do êxito e do triunfo, massacrando os seres que mereceriam seu respeito. Levanta a questão não só dos direitos humanos, mas dos deveres humanos.
Deixamos aqui nossa homenagem a José Saramago, que nos enriqueceu com sua brilhante literatura e nos presentou com seu olhar generoso e lúcido sobre os direitos animais.
Fonte: ANDA
Fonte: ANDA
Susi
Por José Saramago
Pudesse eu, e fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, e proibiria a utilização de animais nos espectáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza. Isto no que toca aos zoológicos. Mais deprimentes do que esses parques, só os espectáculos de circo que conseguem a proeza de tornar ridículos os patéticos cães vestidos de saias, as focas a bater palmas com as barbatanas, os cavalos empenachados, os macacos de bicicleta, os leões saltando arcos, as mulas treinadas para perseguir figurantes vestidos de preto, os elefantes mal equilibrados em esferas de metal móveis. Que é divertido, as crianças adoram, dizem os pais, os quais, para completa educação dos seus rebentos, deveriam levá-los também às sessões de treino (ou de tortura?) suportadas até à agonia pelos pobres animais, vítimas inermes da crueldade humana. Os pais também dizem que as visitas ao zoológico são altamente instrutivas. Talvez o tivessem sido no passado, e ainda assim duvido, mas hoje, graças aos inúmeros documentários sobre a vida animal que as televisões passam a toda a hora, se é educação que se pretende, ela aí está à espera.
Perguntar-se-á a que propósito vem isto, e eu respondo já. No zoológico de Barcelona há uma elefanta solitária que está morrendo de pena e das enfermidades, principalmente infecções intestinais, que mais cedo ou mais tarde atacam os animais privados de liberdade. A pena que sofre, não é difícil imaginar, é consequência da recente morte de uma outra elefanta que com a Susi (este é o nome que puseram à triste abandonada) partilhava num mais do que reduzido espaço. O chão que ela pisa é de cimento, o pior para as sensíveis patas deste animais que talvez ainda tenham na memória a macieza do solo das savanas africanas. Eu sei que o mundo tem problemas mais graves que estar agora a preocupar-se com o bem-estar de uma elefanta, mas a boa reputação de que goza Barcelona comporta obrigações, e esta, ainda que possa parecer um exagero meu, é uma delas. Cuidar de Susi, dar-lhe um fim de vida mais digno que ver-se acantonada num espaço reduzidíssimo e ter de pisar esse chão do inferno que para ela é o cimento. A quem devo apelar? À direcção do zoológico? À Câmara? À Generalitat?
P. S.: Deixo aqui uma fotografia. Tal como em Barcelona há grupos – obrigado – que têm pena de Susi, na Austrália também um ser humano se compadeceu de um marsupial vitimado pelos últimos incêndios. A fotografia não pode ser mais emocionante.
terça-feira, 22 de junho de 2010
AMAZONIA
(COLABORAÇÃO QUESP/CONRADO)
Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos,o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!
Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos,o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!
MUITO OLEO, MUITOS ERROS
Glóbulos de óleo, bóias de contenção, manchas por todo o lado e muitos animais cobertos de tinta preta: o cenário do Golfo do México continua devastador. A equipe do Greenpeace que documenta desde o início o desastre com a plataforma Deepwater Horizon, ocorrido no dia 20 de abril e ainda longe de estar debelado, está agora na Baia de Barataria, na costa da Lousianna, registrando a chegada maciça de óleo em terra.
A mancha já foi detectada em praias até o nordeste da Flórida e o Alabama, onde o banho de mar de turistas está proibido.
A mancha já foi detectada em praias até o nordeste da Flórida e o Alabama, onde o banho de mar de turistas está proibido.
O jornal inglês The Guardian revela: o plano de contingência, texto elaborado pela BP antes do começo da exploração com a plataforma contendo as medidas de contenção de desastres e aprovado pelo governo americano estava coberto de erros.
Nele, a empresa traçava falsas assunções acerca da extensão, direção e conseqüências de um possível vazamento no Golfo e na costa. Entre os erros, estão a listagem de animais que seriam afetados, como leões-marinhos, focas e morsas, que sequer existem na região. O texto afirma também que nenhum vazamento poderia alcançar a costa, já que as operações estariam muito longe, em alto mar.
O plano de contingência lista ainda empresas que poderiam prover equipamentos em algum caso de desastre. Entre elas, a Marine Spill Response Corp, empresa que nem mais existe. Entre os cientistas a serem acionados na emergência, uma pessoa que morreu quatro anos antes da aprovação do plano da BP.
Nele, a empresa traçava falsas assunções acerca da extensão, direção e conseqüências de um possível vazamento no Golfo e na costa. Entre os erros, estão a listagem de animais que seriam afetados, como leões-marinhos, focas e morsas, que sequer existem na região. O texto afirma também que nenhum vazamento poderia alcançar a costa, já que as operações estariam muito longe, em alto mar.
O plano de contingência lista ainda empresas que poderiam prover equipamentos em algum caso de desastre. Entre elas, a Marine Spill Response Corp, empresa que nem mais existe. Entre os cientistas a serem acionados na emergência, uma pessoa que morreu quatro anos antes da aprovação do plano da BP.
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